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Na semana passada, o Ministério da Saúde passou a garantir que mulheres de 40 a 49 anos possam fazer mamografia pelo SUS, mesmo sem sinais ou sintomas de câncer de mama. Mas uma pesquisa inédita do instituto Ipsos-Ipec mostra que 24% das brasileiras ainda não estão bem informadas sobre a necessidade do exame anual a partir dessa faixa etária. Entre os homens, 43% desconhecem a recomendação, o que fragiliza a rede de apoio.
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O levantamento foi divulgado nesta segunda-feira (29), em coletiva da Pfizer, que lançou a 8ª edição do Coletivo Pink com o tema “Tom sobre Tom”. A iniciativa, realizada em parceria com instituições de pacientes oncológicos, promove ações de prevenção contra os cânceres de mama e de próstata, unindo as agendas do Outubro Rosa e do Novembro Azul.
O estudo partiu de uma amostra representativa de todas as regiões do Brasil, composta por 1.740 adultos maiores de 18 anos, que responderam um questionário online ainda neste mês de setembro de 2025.
Segundo destaca Camila Natal de Gaspari, líder médica de oncologia da Pfizer Brasil, a pesquisa apontou que o câncer já fez ou faz parte da vida da maior parte dos entrevistados. "58% deles respondeu que já teve algum contato com qualquer tipo de câncer: ou eles mesmos foram pacientes, ou algum familiar, ou amigo que enfrentou a doença", diz a especialista.
Elas se previnem mais, eles esperam os sintomas
Entre os entrevistados do sexo masculino, 39% declararam que só vão ao médico se tiverem um sintoma incomodando, como uma dor que não passa, alteração no sono, apetite, pele e intestino. Por outro lado, 49% das mulheres disseram que vão ao médico mesmo sem sintomas, realizando um check-up uma vez por ano.
Pouco mais da metade dos entrevistados (58%) afirmou que costuma fazer todos os exames que o médico pede. Contudo, 17% dos homens e 19% das mulheres admitiram ter deixado de apresentar os resultados para avaliação profissional.
As mulheres são as principais administradoras dos cuidados de saúde da família, uma vez que 72% das pessoas que disseram realizar essa tarefa são mulheres. Além disso, 41% dos entrevistados mais jovens (18 a 24 anos) mencionam a mãe como a figura responsável por isso e apenas 3% citaram o pai.
Enquanto 25% dos homens citam as companheiras como aquelas que lembram de agendar exames, acompanhar familiares a consultas, lembrar das vacinas, etc, só 4% das mulheres indicam os parceiros como os encarregados dessa função.
A pesquisa mostrou ainda que as mulheres demonstram maior preocupação com possíveis problemas de saúde: 62% citaram o câncer como principal temor, contra 54% dos homens. Quando o assunto é uma doença que cause limitações físicas, 68% delas apontaram essa como a maior preocupação, enquanto entre os homens o índice foi de 54%.
Câncer de mama: desinformação sobre fatores de risco e exames
Em 2024, no Congresso Mundial de Câncer, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que o consumo de álcool é um dos principais fatores de risco para o câncer de mama. Apesar disso, a nova pesquisa do Ipsos-Ipec revela que a maioria dos brasileiros ainda desconhece essa relação: 64% das mulheres e 72% dos homens não associam o álcool ao desenvolvimento da doença.
Outro risco subestimado é o excesso de peso, desconhecido por 63% das mulheres e 68% dos homens. A maioria delas (71%) e deles (52%) ainda acredita que a herança genética — como casos de câncer de mama na família — pesa mais no risco de desenvolver a doença do que os hábitos de vida.
Aspectos reprodutivos também são pouco reconhecidos: 84% dos entrevistados não sabem que não ter filhos aumenta o risco, e 63% desconhecem ou não souberam opinar sobre o efeito protetor da amamentação contra o tumor.
Quando se trata do autoexame, 60% das mulheres ouvidas acreditam que apalpar as próprias mamas é a principal forma de detectar precocemente o câncer de mama. Para 4%, o método seria até mais importante que a mamografia. Especialistas, porém, ressaltam que o autoexame não substitui o rastreamento por imagem — a principal recomendação para a detecção precoce é a mamografia anual a partir dos 40 anos.
Entre as entrevistadas, 52% consideram que um resultado normal na mamografia elimina a necessidade de novos exames, bastando apenas o autoexame em casa — uma percepção equivocada. Além disso, 61% desconhecem que a mamografia continua sendo necessária mesmo quando outros testes, como o ultrassom, não apontam alterações.
Câncer de próstata: o tabu ainda se destaca
Quando se trata do câncer de próstata, a maioria dos homens (70%) e mulheres (62%) acredita que resultados normais no exame de sangue PSA (Antígeno Prostático Específico) dispensam a necessidade do exame de toque retal — o que não é verdade.
O tabu em torno desse procedimento, sustentado pela falsa ideia de que ele poderia afetar a masculinidade ou a sexualidade do homem, influencia 16% dos entrevistados, chegando a 24% no Distrito Federal e 26% em Belém.
Assim como no câncer de mama, muitos desconhecem os fatores de risco. Entre os participantes, 87% ignoram ou consideram falsa a informação de que homens negros têm maior chance de desenvolver a doença. Menos da metade reconhece a obesidade como fator de risco, e 49% dos homens e 45% das mulheres não sabem que o tabagismo também prejudica pacientes com câncer de próstata.
A idade avançada, principal fator de risco, é subestimada: apenas 29% dos entrevistados a identificaram como tal, enquanto 34% acreditam que o histórico familiar (pais, irmãos ou avós com a doença) seria mais determinante.
"Embora os entrevistados demonstrem medo de ter câncer, os dados indicam que a gravidade do câncer de próstata está sendo subestimada", avalia Gaspari. "48% dos homens não estão cientes de que a doença constitui uma das principais causas de morte por câncer entre os homens brasileiros".
Impactos na rede de apoio
A pesquisa também mostra como os entrevistados lidariam com o diagnóstico. Para 35%, o parceiro ou a parceira romântica — marido, esposa ou namorado(a) — seria a primeira pessoa a receber a notícia, evidenciando a importância do apoio afetivo no enfrentamento da doença. Outros 15% contariam primeiro para os pais; 8% dividiriam a informação inicialmente com parentes próximos, como irmãos, tios ou avós; e 18% optariam por compartilhar com toda a família de uma só vez.
No caso de o parceiro ter câncer de mama ou próstata e precisar passar pela remoção dos seios ou testículos, 65% dos entrevistados afirmaram que conversariam sobre o assunto e ajudariam o companheiro a lidar com as inseguranças. Por outro lado, 4% dos homens e 2% das mulheres disseram que terminariam a relação; 6% deles e 3% delas admitiram que se sentiriam desconfortáveis e evitariam relações sexuais. Já 4% dos homens e 2% das mulheres afirmaram que a atração diminuiria.
Muitos tratamentos de tumores de mama ou próstata envolvem bloqueio hormonal, que pode impactar a vida sexual do casal. Apesar disso, 57% das mulheres e 41% dos homens afirmaram que esse não seria um problema diante de uma doença tão grave e ameaçadora da vida.
"O câncer afeta não só o paciente, mas todos que estão ao redor, e vai além dos aspectos físicos", conclui Gaspari. "Essa rede de apoio quando bem informada pode amparar e suportar esses homens e mulheres a enfrentar essa fase do câncer de próstata e mama e também deve ser considerada nas ações de informação e acolhimento".