Fermento pode sobreviver às condições de Marte, descobre novo estudo

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Pesquisadores demonstraram que a levedura Saccharomyces cerevisiae – um dos fermentos biológicos mais usados para pães e cerveja – é capaz de sobreviver a condições extremas semelhantes às do ambiente marciano. Os resultados do estudo, publicado nesta terça-feira (14) na revista científica PNAS Nexus, sugerem que essa espécie pode resistir tanto a ondas de choque intensas quanto à presença de sais altamente oxidantes encontrados no solo de Marte.

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Para simular as condições hostis de Marte – que incluem ondas de choque resultantes de impactos de meteoritos e a presença de percloratos no solo –, os cientistas usaram o Tubo de Choque de Alta Intensidade para Astroquímica, localizado no Laboratório de Pesquisa Física em Ahmedabad, na Índia.

A cepa selvagem (BY4741) de levedura sobreviveu a ondas de choque, embora tenha apresentado uma fase de crescimento mais lenta, com atraso de 20 horas.

Os cientistas também submeteram a levedura ao perclorato de sódio (NaClO₄), concentração equivalente à encontrada em Marte. Apesar do impacto no crescimento, o microrganismo resistiu, inclusive quando exposto à combinação dos dois estressores. Em todos os cenários, a levedura formou condensados de ribonucleoproteína (RNP), estruturas compostas de RNA e proteínas que surgem como resposta ao estresse celular.

A pesquisa reforça o valor da levedura como organismo modelo em estudos sobre os limites da vida em ambientes extraterrestres e as estratégias moleculares que podem sustentar sua existência.

A importância dos condensados de RNP

Os testes revelaram que diferentes tipos de estímulos provocam respostas distintas. As ondas de choque induziram a formação de dois tipos de partículas – chamadas de corpos P e grânulos de estresse –, enquanto o perclorato desencadeou apenas os corpos P. A formação dessas estruturas foi veio junto à manifestação de mecanismos genéticos associados à sobrevivência da célula, o que sugere que os RNPs desempenham um papel fundamental na adaptação a ambientes hostis.

Para confirmar a importância desses condensados, os pesquisadores utilizaram uma linhagem mutante da levedura, incapaz de formá-los. As células mutantes apresentaram uma queda significativa na sobrevivência e no crescimento sob as mesmas condições, além de respostas celulares comprometidas.

 Bob Blaylock/Wikimedia Commons Mecanismos celulares de sobrevivência sob estresse podem ser chave para futuras missões tripuladas ao espaço — Foto: Bob Blaylock/Wikimedia Commons

A função protetiva dos condensados ficou evidente ao se testar uma linhagem mutante da levedura, incapaz de formá-los. Os mutantes apresentaram queda significativa na sobrevivência e um comprometimento geral nas respostas adaptativas, incluindo a regulação negativa de genes associados à integridade celular, dobramento de proteínas e formação de estruturas resistentes ao estresse.

Os resultados sugerem que os condensados de RNP podem servir como biomarcadores para avaliar a saúde celular durante missões espaciais. Dado que humanos e outros organismos também formam essas estruturas sob estresse, a descoberta amplia as possibilidades de monitoramento e adaptação da vida em ambientes extraterrestres. O estudo ainda reforça a utilidade da S. cerevisiae como organismo modelo para futuras pesquisas sobre sobrevivência fora da Terra.

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