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Alguns organismos liberam substâncias conhecidas como alérgenos, que podem permanecer suspensas no ar e se acumular em ambientes fechados por meses, provocando reações alérgicas. Entre os sintomas mais comuns estão inchaço nos olhos, coceira na pele e dificuldade para respirar. Um estudo publicado em agosto no periódico ACS ES&T Air revelou que a exposição à radiação UV reduz a capacidade do sistema imunológico de detectar esses alérgenos.
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A pesquisa foi liderada pela Universidade do Colorado em Boulder, Colorado, nos Estados Unidos. “Descobrimos que podemos usar um tratamento de luz ultravioleta passivo e geralmente seguro para inativar rapidamente alérgenos transportados pelo ar”, disse a autora do estudo, Tess Eidem, em comunicado divulgado nesta segunda-feira (22).
“Acreditamos que esta pode ser outra ferramenta para ajudar as pessoas a combater alérgenos em suas casas, escolas ou outros locais onde os alérgenos se acumulam em ambientes fechados”.
Como funcionam os alérgenos?
Quando o indivíduo começa a espirrar ao estar em uma sala com gatos, por exemplo, a reação alérgica acontece devido a uma proteína chamada Fel d1, produzida na saliva do animal. Quando o gato se lambe, os flocos microscópicos de pele morta conhecidos como caspa, são as partículas da proteína espalhadas pelo ar. Ao inalar essas partículas, o sistema imunológico produz anticorpos que se conectam a estrutura proteica e provoca uma reação alérgica.
Todos os seres vivos que causam reações alérgicas como ratos, cães, mofo e plantas, emitem estruturas únicas de proteínas. Sendo assim, diferente das bactérias e dos vírus, esses alérgenos não podem ser eliminados. “Depois que os ácaros desaparecem, o alérgeno continua lá”, revela Eidem. “É por isso que, se você sacudir um tapete, pode ter uma reação anos depois.”
De acordo com o estudo, a tentativa de acabar com os alérgenos em casa como passar aspirador de pó regularmente, lavar paredes, usar filtros de ar e dar banhos frequentes nos animais de estimação são métodos que funcionam, mas são difíceis de manter.
A pesquisa atual busca mudar a estrutura das proteínas para que o sistema imunológico não reconheça as partículas ao invés de eliminá-las do ambiente. “Se seu sistema imunológico estiver acostumado a um cisne e você desdobrar a proteína de modo que ela não se pareça mais com um cisne, você não desenvolverá uma resposta alérgica”, explicou Eidem.
Alguns estudos anteriores demonstraram que microrganismos transportados pelo ar, como o vírus da Covid-19, podem ser mortos com a luz UV.
Como a pesquisa foi feita?
A luz UV é um método utilizado para desinfectar equipamentos em hospitais, aeroportos e outros ambientes públicos. No entanto, o uso é feito em um comprimento de onda de 254 nanômetros — algo muito forte, obrigando os indivíduos a utilizarem equipamentos de proteção para não ter danos na pele e nos olhos durante o manuseio.
A pesquisadora Eidem optou pelo uso de luzes com comprimento de onda de 222 nanômetros, considerada mais segura por não entrar profundamente nas células. Ainda assim, a exposição a esse comprimento de onda deve ser limitada, pois pode colocar o indivíduo em risco de saúde.
A equipe coletou amostras do ar em intervalos de 10 minutos e notaram algumas diferenças. As amostragens tratadas revelaram que os anticorpos do sistema imune não reconheceram muitas das proteínas e por isso, não se fixaram a elas.
Após 30 minutos de exposição da luz, os níveis de alérgenos sofreram uma redução em média, de 20% a 30%. “Essas são reduções bem rápidas quando comparadas a meses e meses de limpeza, remoção de carpetes e banho no gato”, disse Eidem.
As luzes UV-222 já estão disponíveis no mercado, sobretudo para aplicações antimicrobianas na indústria. A autora do estudo, porém, acredita que em breve surgirão versões portáteis. Isso permitiria usar a tecnologia em situações cotidianas, como visitas a lares com pets ou na limpeza de ambientes com excesso de pó e mofo. Profissionais expostos com frequência a alérgenos — como quem trabalha com animais ou em cultivos de cannabis — também poderiam se beneficiar da proteção oferecida pelo sistema UV-222.
No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), as alergias atingem 30% dos brasileiros.
A pesquisadora espera que seu estudo possa contribuir para melhorar salvar vidas ou pelo menos melhorar a qualidade de vida das pessoas alérgicas. “Crises de asma matam cerca de 10 pessoas por dia nos Estados Unidos e são frequentemente desencadeadas por alergias transmitidas pelo ar”, ressalta. “Tentar desenvolver novas maneiras de prevenir essa exposição é realmente importante".