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Um grupo internacional de pesquisadores usou câmeras de altíssima velocidade para registrar em detalhes os ataques-relâmpago de 36 espécies de cobras venenosas. As filmagens inéditas revelaram como três grandes famílias – víboras, elapídeos e colubrídeos – empregam estratégias distintas e altamente especializadas para morder e injetar veneno em suas presas.
As observações renderam a publicação de um artigo no Journal of Experimental Biology nesta quinta-feira (23).
Segundo Alistair Evans, zoólogo da Universidade Monash, na Austrália, e coautor do projeto, as serpentes operam em um universo perceptivo radicalmente diferente: “Antes mesmo que o mamífero tenha a chance de detectá-las para tentar fugir, as cobras já estão em cima dele", resumiu, em entrevista ao The New York Times. "É ridiculamente rápido”.
As filmagens ocorreram nas instalações da VenomWorld, uma empresa francesa que coleta veneno de cobras para a produção de antídotos. Sob protocolos rigorosos, as serpentes atacavam o cilindro de gel colocado na ponta de uma vara longa. A configuração experimental, com várias câmeras e iluminação controlada, permitiu que os especialistas reconstruíssem cada ataque em detalhes tridimensionais.
Imagens de cobras no momento do primeiro contato com a presa. Exemplos para cada modo de contato são fornecidos: mandíbula inferior, mandíbula superior, ambas as pontas da mandíbula, canto da boca e toda a superfície da boca — Foto: Cleuren et al. As víboras, predadoras de emboscada por excelência, apresentaram os ataques mais rápidos do estudo. Entre elas, a terciopelo (Bothrops asper), encontrada do leste do México ao norte da América do Sul, atingiu uma velocidade média impressionante de 3,5 m/s (ou 12,6 km/h).
“São elas que precisam ser capazes de atacar o mais rápido possível”, explicou Evans ao Science News. A explicação é simples: mamíferos, principais presas dessas cobras, levam entre 60 e 400 milissegundos para reagir a uma ameaça. A diferença de tempo é fatal.
Nos vídeos gravados a 1.000 quadros por segundo pela equipe, as víboras aparecem comprimidas e imóveis, até explodirem em movimento no momento exato. Em milissegundos, abrem a boca, projetam as presas e aplicam o golpe. Veja:
Ataque de cobra viperídea, em que o veneno escorre da presa antes que ela penetre no gel
Como destaca o New York Times, em meio à natureza, essa técnica de “morder e soltar” permite que o animal injete o veneno e recue rapidamente, evitando possíveis contra-ataques da presa. Depois, segue o rastro químico do animal envenenado com a língua bifurcada.
Alguns detalhes só se revelaram com a tecnologia de filmagem. Uma víbora-de-focinho-achatado (Macrovipera lebetina), por exemplo, quebrou uma das presas ao atingir o alvo, lançando o dente em espiral pelo ar – algo nunca registrado em vídeo, segundo Evans.
Ataque mais lento, mas preciso
A segunda família analisada foi a dos elapídeos, que inclui cobras como najas, mambas e taipans. Ao contrário das víboras, esses animais se aproximam mais da presa antes de atacar, exibindo uma estratégia distinta. Assista abaixo:
Exemplo de ataque de uma cobra elapídeo, mostrando ação repetida de mordedura
Como você vê acima, seu golpe é mais controlado e repetido. Basicamente, elas apertam as mandíbulas várias vezes, liberando veneno a cada contração muscular. Essa técnica garante que a toxina (muitas vezes neurotóxica e letal) penetre com eficiência no corpo da vítima.
Embora não atinjam a velocidade das víboras, algumas espécies de elapídeos, como a víbora-da-morte-de-escamas-ásperas (Acanthophis rugosus), chegaram a atingir a marca de 2,2 m/s (ou 7,9 km/h). Isso significa que sua rapidez rivaliza com algumas víboras menores.
Feridas rasgadas e veneno por arrasto
Por fim, foram estudados os colubrídeos, uma família que representa quase metade de todas as espécies de cobras conhecidas. Apesar de geralmente não serem perigosos aos seres humanos, alguns exemplares venenosos desse grupo exibem táticas de ataque únicas.
Ao contrário das víboras e dos elapídeos, cujas presas ficam na parte frontal da boca, os colubrídeos possuem presas posteriores. Dessa maneira, em vez de um bote único, eles arranham e dilaceram o tecido da presa, criando feridas pelas quais o veneno se infiltra lentamente. Observe:
Ataque cobra colubrídeo, mostrando o arrastamento da maxila sobre a superfície da presa
Em um dos vídeos, a cobra-gato-de-Fischer (Toxicodryas pulverulenta) foi vista abrindo grandes cortes em um cilindro de gel balístico aquecido. O material foi usado para simular o tecido muscular de mamíferos e imitando o que aconteceria com uma vítima real.
Por muito tempo, acreditou-se que os ataques das cobras seguiam um padrão rígido, quase robótico. Mas as imagens em câmera lenta mostraram o contrário. Assim, esta pesquisa não apenas redefine a compreensão dos ataques, mas também pode inspirar novos desenhos de roupas de proteção e estratégias de prevenção de acidentes ofídicos, sugerem os autores.

há 1 mês
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