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Em uma observação que combina paciência, sorte e rigor científico, um pesquisador da Universidade da Sunshine Coast (UniSC), na Austrália, registrou um evento nunca antes documentado: o acasalamento simultâneo de dois tubarões-leopardo machos (Stegostoma tigrinum) com uma única fêmea.
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O feito, que ocorreu nas águas cristalinas da Nova Caledônia, no Pacífico Sul, é descrito em um artigo publicado em 18 de setembro no Journal of Ethology e oferece informações para a conservação desta espécie vulnerável.
A cena foi capturada por Hugo Lassauce, biólogo marinho da Universidade da Sunshine Coast. Durante um ano, ele mergulhou semanalmente em um ponto específico a 15 km da costa como parte de um programa de monitoramento do Aquarium des Lagons de Nouméa. A persistência valeu a pena quando ele avistou uma fêmea acompanhada por dois machos, todos com cerca de 2,3 metros de comprimento, repousando no fundo do mar.
O primeiro macho copulou com a fêmea por 63 segundos. Imediatamente após a separação, o segundo macho assumiu sua posição, finalizando o ato em 47 segundos. "Acabou rápido para os dois machos, um após o outro. Então, eles perderam toda a energia e ficaram imóveis no fundo, enquanto a fêmea nadava ativamente", detalhou o pesquisador, em comunicado.
Lassauce conta que nunca tinha visto tubarões-leopardo acasalando na natureza. "Vi algumas fotos do comportamento pré-acasalamento, mas não a sequência completa, então achei isso extremamente interessante”, observa o especialista, ao site ABC News.
De acordo com Christine Dudgeon, pesquisadora sênior da UniSC e coautora do estudo, fora da Austrália — mesmo onde a espécie é saudável— os tubarões-leopardo são ameaçados de extinção, principalmente devido à pesca predatória. Essa ameaça ocorre "não apenas por causa das barbatanas, mas também por outros produtos, incluindo uma descoberta mais recente do uso de sua pele para revestir paredes de iates de luxo", afirma.
O Stegostoma tigrinum está classificado como “Em Perigo” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), sob os critérios de diminuição populacional significativa nas últimas décadas. Isso acontece por causas como pesca excessiva, uso de redes de arrasto e de emalhe, coleta para consumo humano, comércio de barbatanas e óleo de fígado, e destruição ou degradação de seus habitats costeiros, especialmente recifes de corais.
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A primeira vez que o comportamento de sexo a três é cientificamente documentado para a espécie no Indo-Pacífico é especialmente importante porque a maior parte do conhecimento sobre sua biologia reprodutiva vem de observações em cativeiro, com implicações diretas para programas de reprodução e inseminação artificial.
"Para tentar reintroduzir a espécie, você precisa de mais informações sobre a biologia e a ecologia do tubarão”, explica Lassauce."Precisamos saber mais sobre o comportamento deles, até onde conseguem nadar, como se reproduzem... para garantir que sua reintrodução em [novos] ambientes seja um sucesso."