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Os ventos em Marte podem atingir velocidades de até 160 km/h – muito além do estimado anteriormente. A constatação veio de um estudo publicado nesta quinta-feira (9) na revista Science Advances e liderado por uma equipe internacional de pesquisadores da Universidade de Berna, na Suíça, com participação do Centro Aeroespacial Alemão (DLR).
Até então, medições da superfície marciana mostravam ventos que raramente passavam dos 100 km/h. A descoberta ajuda cientistas a entender melhor a dinâmica atmosférica do planeta vermelho e a mapear regiões favoráveis para futuras missões espaciais.
“O estudo fornece uma base de dados valiosa para entender melhor a dinâmica atmosférica em nosso planeta vizinho. Isso nos permite desenvolver modelos climáticos aprimorados que também serão úteis para futuras missões robóticas e possivelmente até tripuladas a Marte”, afirma Daniela Tirsch, da Agência Espacial Europeia (ESA), em comunicado.
Apesar da atmosfera rarefeita de Marte, o planeta abriga redemoinhos de poeira que chegam a vários quilômetros de altura. As colunas rotativas de poeira e ar se deslocam conforme o vento predominante e, embora o movimento do ar não seja visível, as imagens captadas para o estudo revelam nitidamente a trajetória dos redemoinhos.
Esses fenômenos, semelhantes aos redemoinhos de poeira terrestres, desempenham papel central na elevação e dispersão da poeira marciana. Segundo os cientistas, ventos não rotativos também contribuem significativamente para esse processo, transportando partículas por longas distâncias e influenciando diretamente o clima e as condições meteorológicas locais.
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A equipe analisou imagens de satélite com o uso de algoritmos de deep learning. As imagens foram captadas ao longo dos anos de 2004 e 2016 até o momento por dois instrumentos da ESA: o sistema suíço CaSSIS, a bordo do ExoMars Trace Gas Orbiter, e a câmera HRSC, embarcada na sonda Mars Express. A análise permitiu identificar cerca de 300 redemoinhos e mapear sua direção e velocidade.
Em comunicado, Valentin Bickel, da Universidade de Berna, declarou que medições como essas eram impossíveis antes porque não existiam dados suficientes. “Ao medir a velocidade e direção de deslocamento [dos redemoinhos de poeira], começamos a mapear o vento em toda a superfície de Marte. Isso era impossível antes porque não tínhamos dados suficientes para fazer esse tipo de medição em escala global”.
Poeira em Marte: obstáculo ou aliada?
Embora possa parecer um detalhe insignificante, a poeira em Marte tem impacto direto nas temperaturas, nas estações do planeta e no planejamento de futuras missões espaciais. Durante o dia, ela ajuda a manter o solo mais frio, enquanto à noite age como um cobertor térmico. Além disso, pode servir como base para a formação de nuvens e, em tempestades mais intensas, contribuir para que vapor d’água escape da atmosfera marciana para o espaço.
Ao contrário da Terra, onde a chuva limpa o ar, a poeira em Marte pode permanecer suspensa por longos períodos, circulando livremente por todo o planeta. Regiões como a Amazonis Planitia – vasto campo coberto por areia e poeira – concentram grande número de redemoinhos, identificados como “regiões de origem” desse material.
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Com base em duas décadas de observações, os dados coletados devem aprimorar ferramentas de medição e previsão dos ventos em Marte. A expectativa é que essas informações auxiliem na preparação de missões como a do rover ExoMars Rosalind Franklin, previsto para pousar no planeta em 2030.
“Nossas medições podem ajudar os cientistas a compreender as condições do vento em um local de pouso antes do pouso, o que pode ajudá-los a estimar quanta poeira pode se depositar nos painéis solares de um rover – e, portanto, com que frequência eles devem se autolimpar”, afirma Bickel.