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Um dos procedimentos mais comuns (e mais temidos) da odontologia pode representar um benefício para o corpo inteiro. Um estudo clínico inédito conduzido pelo King’s College London mostra que o tratamento de canal, além de eliminar a infecção na raiz dentária, provoca mudanças profundas no sangue, reduzindo inflamação, melhorando o metabolismo de açúcares e lipídios e possivelmente diminuindo o risco de doenças cardíacas e diabetes.
Pela primeira vez, pesquisadores analisaram de forma abrangente como o organismo reage à remoção de uma infecção crônica no canal radicular, desafiando a ideia de que esse é um procedimento restrito apenas à saúde bucal. O ponto de partida do estudo é a periodontite apical, uma infecção localizada na polpa do dente que, quando não tratada, permite a migração de bactérias para a corrente sanguínea.
Essa passagem silenciosa pode gerar uma cascata de reações: aumento de marcadores de inflamação, desregulação do metabolismo da glicose, piora nos níveis de gordura no sangue e elevação da resistência à insulina. Embora dentistas e médicos já soubessem das possíveis repercussões sistêmicas dessas infecções, faltavam evidências concretas mostrando que o tratamento de canal é capaz de reverter essas alterações.
Foi bem essa lacuna de conhecimento que o novo estudo se propôs a preencher. Detalhes dos resultados encontrados pela equipe foram compartilhados em um artigo publicado nessa terça-feira (18) no Journal of Translational Medicine.
Benefícios metabólicos após o tratamento
Ao todo, a pesquisa acompanhou 65 pacientes ao longo de dois anos, avaliando o sangue antes do procedimento e em quatro momentos após a finalização do tratamento de canal. O método permitiu aos cientistas avaliar centenas de moléculas sanguíneas, observando como o corpo metaboliza açúcar, gordura, proteínas e outras substâncias essenciais, de forma a descobrir se a eliminação da infecção oral poderia desencadear mudanças mensuráveis no funcionamento interno do organismo.
Verificou-se que os pacientes que passaram por um tratamento de canal bem-sucedido apresentaram uma redução progressiva e significativa nos níveis de glicose no sangue ao longo de dois anos, sugerindo melhora na sensibilidade à insulina e menor risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2. Ao mesmo tempo, foram observadas melhorias a curto prazo nos perfis lipídicos, incluindo reduções em colesterol e ácidos graxos, fatores diretamente relacionados à saúde cardiovascular.
Infecções do canal radicular podem permitir a entrada de bactérias na corrente sanguínea, causando inflamação, doenças cardíacas e risco de diabetes. O tratamento bem-sucedido reduz esses riscos — Foto: King's College London Mais da metade das moléculas sanguíneas analisadas sofreu alterações mensuráveis após o tratamento – um efeito incomum para um procedimento odontológico isolado. Assim, a pesquisa reforça ainda a conexão entre bactérias orais e vias metabólicas do organismo, mostrando que microrganismos provenientes do canal infectado influenciavam processos que vão muito além da cavidade bucal.
O jornal britânicoThe Guardian destaca que os achados ganham importância adicional diante da prevalência de doenças bucais não tratadas. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 3,7 bilhões de pessoas convivem com problemas dentários crônicos, muitos deles envolvendo inflamações profundas que podem irradiar efeitos para o corpo inteiro.
Integração entre saúde bucal e geral
A autora principal do estudo, Sadia Niazi, enfatizou, em comunicado, a necessidade urgente de repensar a forma como a medicina separa a saúde bucal da geral. Para ela, “o tratamento de canal não apenas melhora a saúde bucal, como também pode ajudar a reduzir o risco de doenças graves como diabetes e doenças cardíacas”.
Em suas palavras ao The Guardian: “nunca devemos encarar nossos dentes ou doenças dentárias como entidades separadas”. Assim, a pesquisadora defende um modelo integrado de atendimento, em que dentistas e médicos monitorem conjuntamente marcadores sanguíneos para avaliação de riscos e acompanhamento da recuperação do paciente.
Embora o estudo do King’s College London seja considerado pioneiro, seus autores afirmam que pesquisas mais amplas são necessárias para entender totalmente a relação entre infecções dentárias, metabólitos do sangue e risco de doenças crônicas.
Ainda assim, os resultados abrem novas possibilidades, como monitoramentos específicos após procedimentos odontológicos, além da construção de modelos de saúde pública que integrem odontologia e clínica geral.

há 5 dias
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