Ruivos enfrentam problemas de cicatrização de feridas, descobrem cientistas

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Um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) em 11 de novembro revelou novas conexões entre genética, inflamação e cicatrização de machucados. Pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, descobriram que o gene MC1R – responsável por determinar a pigmentação da pele e dos cabelos – atua de maneira decisiva na recuperação de feridas, sobretudo em pessoas ruivas.

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Condições como úlceras diabéticas, escaras e outras feridas de difícil cicatrização afetam milhões de pessoas e representam um enorme desafio de saúde pública. A inflamação é parte essencial do reparo tecidual, mas, em feridas crônicas, costuma persistir por tempo excessivo, comprometendo as etapas seguintes do processo de cicatrização.

A atividade do MC1R varia conforme a cor do cabelo: indivíduos de cabelos castanhos ou pretos tendem a apresentar variantes funcionais do gene, enquanto ruivos geralmente possuem versões inativas ou parcialmente inativas. Os loiros e loiras ficam num meio-termo, com algum nível de atividade preservado.

Para entender como essa diferença genética interfere no reparo tecidual, os cientistas analisaram vias pró-resolutivas – responsáveis por encerrar a inflamação e promover a reconstrução da pele – usando dados de sequenciamento de RNA de célula única de feridas humanas.

Os resultados foram consistentes: a desregulação do eixo POMC-MC1R apareceu como uma característica comum em feridas crônicas, incluindo úlceras diabéticas, venosas e de pressão.

Segundo os autores, a falha ocorre quando a proteína MC1R deixa de atuar plenamente. Sem ela, as vias pró-resolutivas não conseguem agir como deveriam, prolongando a inflamação e atrasando a cicatrização.

 Marcus Spiske/Unsplash As feridas crônicas são caracterizadas como inflamações persistentes e que, caso inflamem, levam à infecções e resultados desfavoráveis aos pacientes — Foto: Marcus Spiske/Unsplash

A partir desses dados, a equipe avançou para testes em modelos animais. Camundongos de pelagem vermelha ou preta tiveram suas feridas monitoradas ao longo de vários dias. E as diferenças foram marcantes: 95% das feridas dos animais de pelagem vermelha – com MC1R comprometido – mantiveram crostas após sete dias, contra 68,8% entre os de pelagem escura.

Os ratos ruivos também apresentaram reepitelização tardia e maior formação de NETs (armadilhas extracelulares de neutrófilos), estruturas semelhantes a teias compostas de DNA, histonas e proteínas que capturam patógenos, mas cuja persistência excessiva é associada à inflamação prolongada.

“Descobrimos que a falta de MC1R funcional prejudicou profundamente a cicatrização, com um atraso significativo no fechamento da ferida detectável em 1, 7, 10 e 14 dias após a lesão”, afirmaram os autores ao site Medical Press.

Frente à influência do gene no processo de cicatrização, os pesquisadores testaram um agonista tópico do MC1R, aplicado sobre metade dos camundongos feridos, enquanto a outra metade recebeu apenas um gel neutro após o desbridamento.

Os resultados surpreenderam a equipe. A ativação seletiva do MC1R restaurou a cicatrização, reduziu o exsudato, melhorou a formação de vasos sanguíneos, diminuiu a produção de NETs e até reduziu a formação de cicatrizes em feridas agudas.

“O tratamento com MC1R-Ag após o desbridamento recuperou a resposta de cicatrização, com uma redução adicional de 33% na área da ferida em comparação com o desbridamento isolado no 14º dia pós-infecção, aumentando para 68% no 21º dia pós-infecção”, relataram os pesquisadores.

 Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos Testes referentes ao tratamento foram feitos em modelos de camundongos que buscaram assemelhar ao máximo as condições das feridas simuladas às feridas humanas — Foto: Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos

Apesar do entusiasmo, há uma ressalva: o tratamento só funciona quando o MC1R é ao menos parcialmente funcional. O agonista não surte efeito em portadores de variantes totalmente inativas do gene. Por isso, os testes terapêuticos foram realizados apenas em camundongos de pelagem escura, cujo MC1R permanece ativo.

Ainda assim, o potencial clínico do tratamento é significativo. Parte expressiva das pessoas com feridas crônicas possui alguma atividade preservada do MC1R, o que abre caminho para intervenções direcionadas. Segundo a equipe, ensaios clínicos em humanos estão próximos de começar.

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