ANUNCIE AQUI
Em 2003, arqueólogos que escavavam o antigo sítio de Quersoneso Táurica, na Península da Crimeia, na fronteira entre Rússia e Ucrânia, descobriram uma rara estátua de mármore representando a cabeça de uma mulher. Agora, mais de duas décadas depois do achado, pesquisadores da Universidade Adam Mickiewicz, da Polônia, parecem ter, por fim, desvendado o mistério sobre a sua identidade.
De acordo com os especialistas, a mulher misteriosa seria Laódice, que teria sido integrante de uma das famílias mais influentes da antiga colônia grega de Quersoneso durante o século 2 d.C. Detalhes do estudo foram publicados como um artigo na revista npj Heritage Science no dia 14 de agosto.
Como lembra a revista Smithsonian, a estátua foi originalmente localizada durante uma expedição arqueológica ucraniano-polonesa liderada por Elena Klenina e Andrzej Biernacki (que também são coautores do novo estudo). Na ocasião, eles haviam sido encarregados de escavar uma antiga casa residencial na parte ocidental de Quersoneso.
Por lá, a dupla desenterrou uma moeda de Quersoneso, um altar de cerâmica representando os deuses Ártemis e Apolo e diversas cerâmicas que datam do século 4 a.C. Mas sua descoberta mais misteriosa foi uma escultura em mármore de uma cabeça de mulher, que parecia ter sido separada de uma escultura de corpo inteiro.
A obra de arte foi descrita como retratando uma mulher mais velha, com rosto oval, olhos alongados e um elegante penteado helenístico. No artigo, os especialistas destacam que ficou imediatamente claro que o objetivo tinha grande valor histórico.
Busca pela identidade da mulher
Utilizou-se uma abordagem interdisciplinar para aprender mais sobre a estátua. A datação por radiocarbono e a análise isotópica determinaram que o mármore era proveniente da ilha grega de Paros, enquanto uma análise traceológica de marcas de ferramentas determinou que o escultor utilizou 11 ferramentas diferentes para a sua produção.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/k/0/vxeBi0SaKpqXI0BOdEZg/40494-2025-1975-fig10.jpeg)
O portal Artnet afirma que o ponto chave para descobrir a identidade da mulher foi uma inscrição em um pedestal, o qual estava presente nos arquivos do Museu Arqueológico de Odessa, na Ucrânia. Essa estrutura combina com o estilo e a procedência da estátua.
Segundo os registros históricos, apenas uma estátua foi erguida em Quersoneso. Ela fazia homenagem a Laódice. Filha de Heroxeno e casada com Tito Flávio Partenocles, sua família era uma das mais poderosas da cidade. Ao longo de sua carreira, Tito Flávio ocupou diversos cargos no governo, e acredita-se que Laódice pode ter seguido o mesmo caminho.
Há margem para que os pesquisadores trabalhem com a hipótese de que Laódice tenha desempenhado um papel na obtenção do cobiçado status de eleutéria por Quersoneso por volta de 140 d.C. Esse status teria concedido à cidade antiga a independência para administrar seus próprios negócios, emitir moeda e arrecadar impostos.
Os autores do artigo "cautelosamente presumem" que o papel de Laódice na conquista da autogovernança inspirou a cidade a erigir uma estátua em sua homenagem com uma inscrição laudatória. A estátua provavelmente tinha cerca de dois metros de altura, sugerindo que foi criada para celebração e exibição pública.
A descoberta da identidade de Laódice e seu papel na antiga Quersoneso têm implicações maiores na forma como os historiadores entendem esta era. “As descobertas deste estudo demonstraram que as matronas [mulheres casadas e mães] exerceram influência significativa e desempenharam um papel ativo na vida política, tanto dentro dos limites de Roma quanto além de suas fronteiras nos primeiros séculos”, conclui o artigo.