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Enquanto os olhos do mundo se voltam para as negociações climáticas da COP30 no Brasil, o abandono generalizado de projetos de conservação preocupa cientistas. O alerta é de uma equipe internacional de pesquisadores, que publicou, em 10 de novembro, um artigo de opinião na revista Nature Ecology & Evolution.
O estudo explora o conceito de "abandono da conservação", uma situação em que as partes responsáveis deixam de cumprir seus deveres informalmente ou quando leis e acordos são formalmente alterados para reverter proteções ambientais. O problema é que esses projetos, embora inativos, continuam sendo contabilizados em relatórios oficiais. Isso, de acordo com os pesquisadores, ajuda a criar uma ilusão perigosa de progresso ambiental.
"As evidências sugerem que pelo menos um terço dos programas são abandonados poucos anos após a implementação. Essa lacuna pode comprometer o progresso anunciado em eventos como a COP, já que uma recuperação ecológica significativa pode levar décadas. Se considerarmos apenas a implementação dos programas, as estimativas de progresso serão infladas", explica Matthew Clark, co-lider do estudo e pesquisador de pós-doutorado no Thriving Oceans Research Hub da Universidade de Sydney e pesquisador associado honorário no Centro de Política Ambiental do Imperial College London.
Clark e seus colegas estimam que bilhões de dólares investidos anualmente em programas de proteção ambiental podem estar sendo desperdiçados por falta de continuidade. Segundo o pesquisador, calcula-se que são aplicados entre US$ 87 bilhões (R$ 478,5 bilhões) e US$ 200 bilhões (cerca de $ 1,1 trilhão) por ano em iniciativas de conservação, recursos importantes para conter as crises de biodiversidade e de clima. Mas esse dinheiro todo realmente está servindo para isso?
"Este tema é particularmente oportuno, dados os recentes acontecimentos políticos globais que ameaçam comprometer os ganhos de conservação alcançados nas últimas décadas", diz Tom Pienkowski, da Universidade de Kent e um dos autores que assinam o documento. "O governo Trump cortou mais de US$ 365 milhões (R$ 2,007 bilhões) em financiamento para iniciativas internacionais de conservação. Essas mudanças políticas correm o risco de legitimar e prenunciar uma aceleração do abandono de práticas de conservação em escala global."
Segundo o estudo, mais de 3.700 áreas protegidas no mundo já sofreram processos de rebaixamento ambiental, redução ou desclassificação. Em alguns casos, a perda de status de proteção abriu caminho para atividades econômicas. No Canadá, por exemplo, a reclassificação de uma área marinha de 26 mil quilômetros quadrados permitiu a exploração de petróleo.
O governo Trump cortou mais de US$ 365 milhões (R$ 2,007 bilhões) em financiamento para iniciativas internacionais de conservação — Foto: Wikimedia commons Na América do Sul e na África, projetos liderados por comunidades locais também enfrentam o abandono. No Chile, 22% dos direitos de uso de pesca concedidos a comunidades foram extintos. Já Marrocos e Canadá eliminaram juntos sete áreas de conservação, somando mais de 2 mil quilômetros quadrados.
A Austrália, destacam os autores, não está imune. “O país tem um histórico decepcionante de reduzir a proteção de parques nacionais e áreas marinhas”, afirma a professora associada Carly Cook, da Universidade de Monash. “Há pouca gestão ou fiscalização ativa, e a Grande Barreira de Corais é um exemplo emblemático dessa fragilidade.”
Além disso, pesquisas recentes apontam falhas nos mecanismos de compensação ambiental e créditos de carbono, frequentemente usados para justificar o desmatamento e emissões.
Diante desse cenário, os cientistas pedem um sistema global de monitoramento que permita acompanhar o abandono de áreas de conservação, além de políticas de financiamento duradouras e maior transparência na contabilidade ambiental.
“O lançamento de um projeto de conservação é apenas o começo”, afirma Clark. “Essas iniciativas precisam ser mantidas por décadas para gerar resultados reais. Quando o financiamento acaba ou as responsabilidades são deixadas de lado, voltamos ao ponto de partida.”

há 2 semanas
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