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A múmia como uma figura assustadora é um clichê comum em filmes de terror e games: uma criatura nefasta, conservada após a morte apenas para se reerguer e se lançar contra os vivos. No mundo real, porém, as múmias nunca foram tão polêmicas: a ideia de preservar os corpos dos mortos, seja por motivos sociais ou religiosos, esteve presente em várias culturas.
O termo "múmia" tem origem na palavra árabe ou persa “moumia” e refere-se à palavra "bitumen" (piche ou alcatrão), a substância que originalmente se pensava ter sido usada pelos egípcios para preservar os corpos. De fato, as múmias estão associadas principalmente ao Egito antigo, mas não foi apenas nessa civilização que elas existiram. Veja alguns exemplos de múmias ao longo do tempo:
Múmias do sudeste asiático
Nas antigas comunidades de caçadores-coletores na China e no Sudeste Asiático, era prática comum honrar os mortos dobrando e amarrando o corpo e suspendendo-o acima de uma fogueira por um longo período de tempo, deixando-o absorver a fumaça.
Em 2025, pesquisadores da Universidade Nacional Australiana encontraram algumas dessas múmias, datadas de cerca de 10 mil anos atrás. Uma delas, encontrada no Vietnã, pode ter 14 mil anos de idade, segundo a datação de carbono, o que a tornaria a múmia mais antiga já encontrada.
O coautor do estudo, o Professor Emérito Peter Bellwood, afirmou que essa mumificação por “defumação” permitia que os mortos fossem mantidos à vista, potencialmente por anos, em locais protegidos, como habitações, cavernas ou abrigos rochosos.
“Esse tipo de secagem por fumaça é, até o momento, o método mais antigo demonstrado de preservação intencional de cadáveres que temos registrado em qualquer lugar do mundo”, disse ele. “A técnica difere do que conhecemos sobre os métodos usados em climas áridos, como no Egito, Ásia Central e Andes, onde os corpos podiam se desidratar naturalmente. Isso não seria possível no Sudeste Asiático, dado o clima úmido e monçônico”, explicou.
Técnicas similares de mumificação por “defumação” foram observadas em culturas indígenas na Austrália e na Nova Guiné.
Múmias da cultura Chinchorro (Chile)
Exemplo de múmia da cultura Chinchorro, no Chile — Foto: Wikimedia Commons Antes das múmias do sudeste asiático, as evidências mais antigas de embalsamento humano haviam sido encontradas nas ruínas desta civilização andina. Algumas das múmias incas foram datadas de cerca de 7.000 a.C. Isso é por volta de 2 mil anos antes das múmias egípcias — ainda assim, os métodos dos Chinchorro eram mais avançados.
No total, três técnicas foram detectadas na mumificação dos Chinchorro. A primeira era a mumificação natural: o ar árido e rico em sal dos Andes ressecava os corpos antes que eles pudessem começar a apodrecer. 29% das múmias encontradas por ali passaram por esse processo.
A segunda técnica era bem mais complexa. O primeiro passo era extrair do corpo sua pele, carne, órgãos e cérebro. Os ossos eram separados e queimados com cinzas quentes para eliminar qualquer líquido que pudesse causar decomposição. Em seguida, eram remontados com o auxílio de gravetos para sustentação. Esse esqueleto de ossos e gravetos era amarrado com juncos e só então a pele era recolocada no corpo — complementada com pele de leões-marinhos ou pelicanos, conforme necessário.
Uma pasta de cinzas era então aplicada sobre o corpo para garantir estabilidade e o rosto era coberto com uma máscara de argila. Por fim, todo o corpo recém-mumificado era pintado com tinta preta ou ocre (daí essa técnica ser conhecida como “múmia preta”), provavelmente por razões de tratamento igualitário.
Mais tarde, esse método evoluiu para a terceira técnica: a múmia vermelha. Era muito similar à anterior, porém mais delicada e meticulosa: incisões menores eram feitas para remover os órgãos e o corpo não era mais desmembrado. Também havia uma dedicação maior a manter a aparência real da pessoa.
Múmia de Llullaillaco, um exemplo de técnica de conservação mortuária inca — Foto: Wikimedia Commons Os incas adotavam um método muito mais natural para suas múmias: os corpos eram carregados para o alto das montanhas e colocados em uma posição sentada. O ar seco, o frio e o Sol ressecavam os cadáveres, que depois eram decorados com roupas, tecidos e itens pessoais, incluindo jóias.
Essas múmias depois eram alocadas em tumbas ou câmaras e eram vistas como sagradas pelos incas. Acreditava-se que os mortos faziam uma transição e iam habitar o mesmo plano de seus ancestrais, de onde todos protegiam as vilas incas. É o caso das crianças Llullaillaco, batizadas em homenagem ao vulcão onde foram mumificadas (e encontradas séculos depois).
Monge mumificado a partir da técnica sokushinbutsu — Foto: Wikimedia Commons Esta prática, vista em múmias do Tibete e do Himalaia, é uma das mais raras já encontradas. Entre os séculos 11 e 19, uma escola budista em Yamagata, no Japão, chamada Shingon, incluía membros que praticavam um método de iluminação chamado sokushinbutsu — em essência, a automumificação.
Esses monges, ao longo de um período de 3 a 10 anos, seguiam uma dieta chamada mokujikigyō, ou “alimentação de árvore”. Durante esses mil dias de dieta, comiam apenas agulhas de pinheiro, nozes, raízes e brotos de árvores, o que eliminava a gordura e os músculos do corpo e retardava a decomposição após a morte. Esse também era um método de autopunição, uma ferramenta no caminho para a iluminação.
Depois do mokujikigyō, os monges retiravam completamente o alimento da dieta e bebiam apenas água salgada por 100 dias, o que fazia com que seus órgãos encolhessem e os mumificava ainda vivos. Quando um monge sentia a morte se aproximar, os outros o colocavam em uma caixa de pinho no fundo de uma caverna ou alcova. A caixa era coberta com carvão, deixando apenas um pequeno tubo de bambu no topo para a passagem de ar.
Após a morte do monge, a passagem de ar era retirada e a caixa, selada. Em seguida, aguardava-se que o ar salgado ressecasse o corpo naturalmente. O túmulo era periodicamente reaberto e examinado em busca de sinais de decomposição; se algum fosse encontrado, realizava-se um exorcismo e o corpo era enterrado novamente.
Quando o corpo estava completamente mumificado, ele era colocado em posição sentada e adornado com vestes e outros itens cerimoniais. As múmias eram consideradas sagradas e chegavam até a ser exibidas publicamente em mosteiros ou outros locais de fé.
Múmia egípcia exposta no Museu do Louvre, em Paris (França) — Foto: Wikimedia Commons O historiador grego Heródoto, que visitou o Egito por volta de 450 a.C., é a fonte mais conhecida sobre os processos de mumificação egípcios. Segundo ele, havia métodos diferentes, dependendo do quanto o falecido poderia pagar.
A mumificação era realizada por sacerdotes profissionais, que viviam de fazer isso. O método mais simples consistia em limpar, secar e dessecar o corpo, que era então enrolado em bandagens.
O método mais complexo, e também mais raro, tinha muitas etapas. Primeiro, era feita uma limpeza ritualística do corpo para livrá-lo de impurezas e imbuí-lo do sagrado. Em seguida, era feita a evisceração: o sacerdote fazia uma pequena incisão no abdômen do corpo e, por ali, retirava os órgãos um a um. Por meio de um gancho inserido pelo nariz, o cérebro era liquefeito e também removido. O único órgão deixado no corpo era o coração, pois acreditava-se que este seria pesado na balança do deus Osíris para decidir se o morto merecia ou não ir pros Campos de Juncos (o “paraíso” egípcio).
Os órgãos eram colocados em pequenos jarros, os vasos canópicos, que tinham tampas adornadas em homenagem aos filhos do deus Hórus. Era uma forma de mantê-los protegidos: acreditava-se que, uma vez que o falecido chegasse ao mundo dos mortos, suas vísceras se juntariam a ele. Posteriormente, a partir da 21a Dinastia do Egito, esse costume foi abandonado e os órgãos passaram a ser recolocados na cavidade abdominal após a dessecação.
A dessecação era o processo para retirar toda a umidade dos órgãos. Os egípcios cobriam o corpo inteiro com uma grande quantidade de sal de natrão (mineral encontrado em abundância por lá) e o deixavam em repouso por 40 dias, até todo o líquido ser absorvido. Em seguida, os corpos eram ungidos com óleos e resinas aromáticas — a resina também funcionava como desinfetante e era aplicada na cavidade abdominal.
Em seguida, vinha o enfaixamento. Esse processo era feito em etapas: primeiro as partes menores do corpo, como os dedos e os genitais, e depois as partes maiores, em sequência. O corpo era envolto em diversas camadas de bandagem, de modo que eram necessárias centenas de metros de faixa para o processo completo.
As bandagens também serviam para recuperar a silhueta original do corpo, que perdia muito de seu volume durante a dessecação. Camadas de faixa eram adicionadas em pontos estratégicos e até dentro da cavidade abdominal para esse objetivo.
O próximo passo eram os adornos. Era comum trançar mechas de cabelo artificial no cabelo real da pessoa para que ficasse mais volumoso e bonito. Olhos de vidro podiam ser colocados nas órbitas do crânio e ossos de animais podiam ser usados para refazer o formato do nariz (danificado na retirada do cérebro). Finalmente, tintas podiam ser aplicadas tanto na pele como nas bandagens para deixar o corpo mais bonito.
As múmias eram sepultadas com muitos amuletos, que tinham significado religioso de proteção e eram colocados às dezenas nos sarcófagos. Para os ricos, esses amuletos eram feitos de marfim e pedras preciosas. Para os pobres, usava-se resina, cerâmica e vidro. Além disso, também eram colocados papiros com textos diversos, em especial do Livro dos Mortos egípcio, que tinha instruções sobre como chegar ao mundo dos mortos.
Quando a múmia estava pronta, recebia uma máscara mortuária e era colocada dentro do sarcófago, que era encaminhado para uma tumba.

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