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Em 2020, a 4.300 metros de altitude nas encostas das montanhas Cunlum, na fronteira ocidental da China, arqueólogos encontraram uma pedra gravada em antiga escrita de pequenos selos. O objeto era discreto, mas carregava uma revelação histórica: uma ordem direta do imperador Qin Shi Huang (259–210 a.C.) para que alquimistas de sua corte viajassem em busca do lendário “yao”, o elixir da vida eterna.
Para os especialistas, tal registro representa a primeira evidência material de uma expedição ocidental organizada pelo soberano que unificou a China em 221 a.C. Apesar do entusiasmo inicial, a descoberta também foi recebida com desconfiança, já que diversos acadêmicos alegaram que seria impossível chegar ao Planalto Tibetano há mais de 2 mil anos, dadas as condições adversas de altitude e clima.
De forma a responder as críticas, a Administração Nacional do Patrimônio Cultural da China organizou duas expedições ao local em 2025, onde os pesquisadores coletaram amostras e realizaram análises minerais, químicas e de desgaste das rochas. Os resultados encontrados por eles renderam a publicação de um artigo no dia 8 de junho no jornal Guangming Daily.
Obsessão de Qin Shi Huang pela imortalidade
A figura do primeiro imperador chinês é inseparável da ideia de imortalidade. Como destaca o portal IFLScience, fontes antigas descrevem como Qin Shi Huang patrocinou diversas viagens em busca do elixir da vida, inclusive uma lendária expedição para o leste, rumo às ilhas que hoje correspondem ao Japão.
Essas buscas, no entanto, sempre foram identificadas apenas por meio de relatos literários e históricos. Assim, faltavam provas concretas de que elas realmente teriam ocorrido. É justamente essa lacuna nos estudos que a inscrição recém-localizada parece preencher.
Segundo o arqueólogo Tong Tao, do Instituto de Arqueologia da Academia Chinesa de Ciências Sociais, primeiro autor do artigo publicado, a gravura “não apenas confirma a sede do imperador pela vida eterna. Ela também revela a centralidade do Monte Cunlum como espaço mítico, citado em textos pré-Qin como local onde imortais se reuniam e animais raros se reproduziam”.
Um legado eterno — mas não como imaginava
Os resultados da análise conduzida pelo governo chinês apontaram que a escultura foi feita com cinzéis de ponta plana, técnica característica da era Qin e descontinuada posteriormente. Minerais secundários encontrados dentro das ranhuras provaram que a inscrição passou por um longo processo natural de erosão, incompatível com falsificações modernas.
Em entrevista ao jornal South China Morning Post, Deng Chao, funcionário do órgão estatal, explicou que a pedra é composta de arenito de quartzo, materiais resistentes à abrasão e ao clima, preservado graças ao microclima ameno das montanhas Cunlun. “A inscrição é genuína e ajuda a preencher lacunas na narrativa histórica sobre Qin Shi Huang”, conclui o pesquisador.
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A gravura representa mais do que uma simples confirmação histórica, trata-se de uma prova de que, já na dinastia Qin, o povo chinês se aventurava em ambientes hostis como o Planalto Tibetano. Como observa o professor Hou Guangliang, da Universidade Normal de Qinghai, também ao South China Morning Post, “a inscrição mostra que, já na dinastia Qin, as pessoas exploravam bravamente o Planalto Tibetano”.
Vale destacar que, ironicamente, a busca obsessiva do imperador pela vida eterna provavelmente o levou à morte. Registros indicam que Qin Shi Huang consumia regularmente poções contendo mercúrio, acreditando que prolongariam sua existência. Em 210 a.C., durante uma viagem pela China, ele morreu repentinamente — muito possivelmente envenenado pelo próprio “remédio”.