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Você está lá rolando o feed de sua rede social favorita em paz, pulando de um vídeo para outro, quando eles aparecem: dois dedinhos enluvados prontos para espremer um monte de cravos protuberantes ou então a espinha mais balofa que você já viu na vida. Os dígitos apertam, a pele é repuxada e de repente aquele canhão de pus entra em erupção, enchendo a sua tela com a substância branca e viscosa. Aí você se pergunta: afinal, por que parei pra ver isso?
A verdade é que os cientistas ainda não têm 100% de certeza sobre o que leva as pessoas a assistirem a vídeo de espinhas e cravos. O pesquisador James Sherlock, que é PhD em genética comportamental pela Universidade de Queensland (Austrália), afirma que é possível traçar um paralelo entre esse hábito e o fascínio por filmes de terror.
“O que filmes de terror e vídeos de espinhas nos permitem fazer é nos expor a estímulos altamente estimulantes, provocando respostas fisiológicas específicas em preparação para uma reação a algo que evoluímos para detestar fortemente”, afirma ele.
“No caso dos filmes de terror, nosso cérebro nos diz que o bicho-papão na tela é uma ameaça e nosso corpo se prepara para pular da cadeira e fugir, injetando sangue em nossos músculos e acelerando a respiração. De forma semelhante, quando assistimos a um cirurgião extrair um grande cravo pegajoso do nariz de um paciente, nossa resposta de nojo é ativada, embora de forma diluída. Não estamos realmente em perigo, mas nosso cérebro ainda nos recompensa com um pouco de emoção”, argumenta o pesquisador.
Essa excitação perante um “perigo” que, na verdade, não é perigoso, é bastante oferecida pelos especialistas quando eles tentam explicar o assunto à imprensa. Mas alguns pesquisadores foram um pouco além.
Em 2021, estudiosos da Universidade de Graz, na Áustria, tentaram compreender o fenômeno. Eles criaram a chamada “Escala de prazer em estourar espinhas” (no original, “Pimple Popping Enjoyment Scale”, ou PPES), que podia ser aferida por meio de um questionário. Quanto mais alto você pontua nesse formulário, mais prazer você sente em ver esses vídeos.
Mais de 500 voluntários responderam essas perguntas. Em seguida, os cientistas selecionaram um grupo de 80 respondentes, todas mulheres, divididas em dois grupos: as que reportaram uma pontuação alta no PPES e as que tiveram pontuação baixa. Essas voluntárias foram colocadas para assistir vídeos de espinhas sendo estouradas enquanto suas ondas cerebrais eram escaneadas.
Ao assistir os vídeos, as que tinham alto PPES demonstraram maior atividade na parte frontal do cérebro e menor desativação de áreas cerebrais relacionadas ao prazer, além de sentirem menos repulsa do que as de baixo PPES. Além disso, as de alto PPES, embora se autodescrevessem como tão propensas à repulsa quanto todo mundo, também demonstraram maior capacidade de controlar suas reações de repulsa. Ou seja: para essas pessoas, os vídeos de espinhas geram prazer e não causam tanto nojo.
Mas não termina por aí: o estudo também especula que o prazer de ver vídeos de espinhas pode estar relacionado à curiosidade por conteúdo negativo, chamada na ciência de curiosidade mórbida. “No início de um vídeo PP, uma espinha não tratada é mostrada, o que cria uma sensação de incerteza sobre o que pode acontecer durante o tratamento. O desejo de obter essa informação é satisfeito quando a espinha é esvaziada e a incerteza é resolvida”, diz o texto. Seria a mesma forma como um filme de terror ativa o sistema de recompensa do cérebro.
Falando em curiosidade mórbida, um estudo mais recente, de 2024 e também da Universidade de Graz, volta a falar dela. Os autores dessa pesquisa afirmam que a curiosidade por conteúdo mórbido (como morte e violência) pode ter uma explicação evolutiva adaptativa: ao procurar essas coisas, nós estamos reunindo informações sobre potenciais ameaças à nossa vida.
“De acordo com esta perspectiva, as alterações cutâneas podem desencadear a curiosidade mórbida até certo ponto, pois podem sinalizar doenças infecciosas ou mesmo potencialmente mortais”, afirma o texto.
Além da curiosidade mórbida, esse estudo também traça um paralelo com outro traço da nossa personalidade: o masoquismo benigno. Trata-se do prazer vindo de experiências negativas da vida cotidiana, como a queimação causada por uma pimenta.
“Essas experiências são inicialmente percebidas como aversivas, mas não representam uma ameaça real ao indivíduo. (...) Acreditamos que vídeos de espremer espinhas permitem um distanciamento cognitivo fácil, proporcionando uma oportunidade de se envolver com as próprias emoções negativas sem se colocar em perigo”, afirmam os pesquisadores.
Então, está aí a possível explicação: ativação das partes do cérebro que geram prazer, pouco nojo, curiosidade mórbida e masoquismo benigno. Bora espremer umas bolinhas pretas?

há 3 semanas
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