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Nem sempre o “mais fresco” é o melhor, mesmo quando se trata de frutos no mar. Isso é o que pesquisadores do Instituto Norueguês de Pesquisa Alimentar, Pesqueira e Aquicultura (Nofima) descobriram em um estudo recente divulgado nesta segunda-feira (29). A pesquisa revelou que congelar peixes no momento errado pode levar a significativos problemas de qualidade, como o amarelamento da carne.
Svein Kristian Stormo, da Nofima, afirmou em comunicado que a equipe esperava que os resultados mais surpreendentes tivessem relação com a perda de líquidos – e, consequentemente, a perda de peso – dos pescados. A descoberta da descoloração dos peixes foi o que os surpreendeu e inverteu os objetivos das pesquisas.
A partir desta observação, os especialistas se dedicaram a descobrir como o momento do congelamento afeta o rendimento, a qualidade e o apelo do bacalhau e do hadoque, dois peixes muito consumidos na Noruega, ao consumidor.
Para que o momento fosse descoberto, os pesquisadores avaliaram o processo de pós-morte em peixes. Esse episódio é conhecido como “rigor mortis”, caracterizado pelo enrijecimento dos músculos do animal.
O início e o fim do rigor mortis varia de espécie para espécie, uma vez que depende de fatores como temperatura da água, tamanho e nível de estresse antes da morte. Por exemplo, peixes mantidos em temperaturas frias – em condições de congelamento – têm uma contração muscular que pode levar de 6 a 12 horas para se instalar, enquanto peixes que passaram por momentos de estresse antes da morte, possuem um rigor mortis mais rápido.
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O estudo revelou que a textura e a maciez da carne dos pescados são diretamente afetadas por esse período pós-morte. Nesse processo, a pesquisa comparou peixes congelados antes, durante e após o rigor. Os pesquisadores mediram a perda por descongelamento, a perda por gotejamento e as qualidades sensoriais, como textura e cor, após o armazenamento. Com isso, eles concluíram as seguintes fases do rigor mortis:
- Pré-rigor: quando a pesca é feita antes da rigidez se instalar;
- Rigor: quando a rigidez do peixe é claramente perceptível;
- Pós-rigor: período em que a rigidez do peixe diminui, cerca de três dias após a morte.
O amarelamento da carne de peixes, como arinca e bacalhau, é uma consequência direta do descuido com o período de rigor. “O amarelamento causado pelo ‘rigor mortis’ não foi descrito na literatura científica. É provável que a indústria não tenha plena consciência da sua importância”, observou Stormo.
O que os pesquisadores descobriram é que, para evitar o amarelamento, os peixes devem ser congelados após o rigor mortis.
Peixes amarelos, rigor mortis e os riscos à indústria pesqueira
Tanto a perda de líquido quanto a descoloração são negativas para os consumidores – e custosas para os produtores. “O desafio é duplo. Há um foco principal na qualidade – em congelar a matéria-prima o mais fresca possível. Mas, neste caso, essa mesma abordagem causa desafios maiores, com aumento da perda de líquido e descoloração. É importante que a indústria esteja ciente desse problema e, a longo prazo, encontre as melhores soluções para minimizar esses efeitos”, avaliou Stormo.
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Quando se trata de perda de líquido – e, portanto, de peso e lucro – os experimentos mostraram que pode haver boas razões para esperar até que o peixe passe pela primeira fase de rigor antes de ser congelado. Ao serem congelados no estágio de pré-rigor, os peixes apresentaram uma liberação significativamente maior de líquidos quando são descongelados.
Sob essa perspectiva, adiar o congelamento parece ser a melhor das opções. Mas esperar demais também tem as suas consequências, como a decomposição da carne que, a depender da região, da temperatura e das condições de armazenamento, pode ser acelerada.
Historicamente, grande parte do pescado congelado a bordo de navios não estava em condições de pré-rigor no momento do congelamento. Mas as oportunidades de congelar matéria-prima pré-rigor tem aumentado com as novas tecnologias de conservação dos alimentos à bordo de navios pesqueiros. Para discussões como essa, Stormo alertou: “por razões de qualidade e práticas, é essencial estabelecer o momento ideal para o congelamento”.