Por que cientistas criaram esta língua artificial capaz de sentir picância

há 1 semana 8
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Imagine descobrir o nível de ardência de uma pimenta sem sequer aproximá-la da boca. É exatamente isso que um grupo de pesquisadores alcançou ao criar uma “língua artificial” feita com leite, um sensor inovador capaz de medir, em segundos, a picância de molhos, pimentas e outros alimentos. O dispositivo, apresentado na revista ACS Sensors, em 29 de outubro, utiliza leite em pó em um gel sensível à capsaicina, composto responsável pela queimação característica das pimentas, e a outras substâncias picantes, como piperina (pimenta-do-reino) e alicina (alho).

A ideia surgiu da própria química do alívio: quando ingerimos algo muito apimentado, a queimação diminui ao beber leite, porque a caseína, proteína presente no alimento, se liga à capsaicina e reduz sua ação sobre as papilas gustativas. Inspirada nesse mecanismo natural, incorporou caseína a um material de gel eletroquímico, criando um sensor capaz de medir variações de corrente elétrica sempre que ocorre essa ligação.

O resultado é um pequeno filme flexível, semelhante a uma língua translúcida produzido a partir de ácido acrílico, cloreto de choline e leite em pó desnatado. O material reage à presença de compostos picantes em apenas dez segundos, reduzindo a corrente elétrica em intensidade proporcional ao “ardor” do alimento testado.

Nos experimentos, o sensor detectou concentrações de capsaicina que vão desde níveis imperceptíveis para seres humanos até quantidades acima do chamado limiar da dor oral. Além de identificar substâncias ardidas de ingredientes comuns em molhos, como gengibre, raiz-forte, cebola e alho.

 ACS Sensors Demostração gráfica da comparação da língua humana com a criação artififial, quando sente os sabores picantes — Foto: ACS Sensors

Para comprovar a eficácia, os pesquisadores analisaram oito variedades de pimenta e oito alimentos apimentados, incluindo diferentes tipos de molhos. As medições da língua artificial foram comparadas às avaliações de um painel de degustadores humanos.

Segundo os autores, houve forte concordância entre os dois resultados. A equipe destaca que dispositivos desse tipo podem facilitar análises rápidas de alimentos picantes, reduzir a dependência de provadores humanos e até integrar sistemas de robótica ou auxiliar pacientes com perda de sensibilidade gustativa.

“Nossa língua artificial flexível possui um enorme potencial para estimar a sensação de sabores picantes em dispositivos portáteis de monitoramento do paladar, robôs humanoides móveis ou pacientes com deficiências sensoriais como a ageusia, por exemplo”, afirma Weijun Deng, autor principal do estudo, em comunicado.

Ainda em fase inicial, o protótipo demonstra como conceitos da biologia humana podem inspirar novas tecnologias e, nesse caso, proteger as papilas gustativas de quem toparia provar uma pimenta extremamente ardida apenas por ciência.

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