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O Brasil parou de adotar o horário de verão em 2019. Porém, alguns países ainda aderem a prática. Os Estados Unidos, por exemplo, adianta seus relógios em uma hora do segundo domingo de março até o primeiro domingo de novembro. Só que esse hábito pode representar um risco para a saúde da população, segundo um novo estudo.
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Mesmo que a principal motivação para a medida seja a economia de energia, um novo estudo feito com dados de mais de 300 milhões americanos trouxe dados alarmantes: eliminar a mudança de horários poderia evitar mais de 300 mil AVCs e reduzir em mais de 2 milhões os casos de obesidade no país.
Efeitos no sistema circadiano
O horário de verão foi usado pela primeira vez nos Estados Unidos em 1918, e desde lá ele foi institucionalizado e padronizado em todo o território. No Brasil, a primeira adoção aconteceu em 1931.
O problema em “adiantar” uma hora do dia em um período do ano está no fato de que nossos corpos não saem livres dos efeitos causados pela mudança. O sistema circadiano – conhecido como um “relógio biológico” por regular sono, metabolismo e outros sistemas orgânicos – é muito sensível à luz, de forma que mudanças no padrão de exposição podem criar uma “sobrecarga circadiana”.
Estudos anteriores já mostraram que efeitos dessa sobrecarga incluem desde acidentes de carro até consequências mais diretas para o corpo humano, como ataques cardíacos e AVCs. Ela também colabora para o estresse metabólico na redução do gasto energético e na alimentação excessiva, fatores de risco para obesidade.
"Você está realmente lidando com um risco que é tão raro quanto ganhar na loteria. Mas, se 350 milhões de pessoas apostarem no mesmo dia, alguém vai ganhar a loteria. Só que não é um prêmio que você gostaria de ganhar", diz Jamie Zeitzer, coautor do estudo, em entrevista ao site Live Science.
Doenças associadas ao horário de verão
Para estipular o impacto do horário de verão na qualidade do ritmo circadiano, os cientistas buscaram calcular a sobrecarga circadiana em três cenários: horário padrão permanente, horário de verão permanente e troca contínua.
Simulando computacionalmente a exposição à luz solar e artificial para pessoas em condados de todo o país. Dados sobre a prevalência de doenças crônicas em nível de condado também foram usados para determinar quais eram as previsões de saúde a partir de diferentes sobrecargas circadianas. As pessoas assumiram rotinas regulares de trabalho e de sono, assim como foram desconsiderados fatores socioeconômicos e de saúde que poderiam influenciar os resultados.
Os pesquisadores chegaram à conclusão de que a troca contínua de horário foi o cenário que criou mais perturbações nos relógios circadianos das pessoas. Com a adoção do horário padrão ao longo do ano todo, estima-se que os EUA teriam cerca de 2,6 milhões de pessoas a menos com obesidade.
Ocorrências de AVCs também diminuíram em um número maior que 300 mil. O horário de verão permanente, mesmo que em menor grau, ainda traria benefícios: 1,7 milhão de casos a menos de obesidade e 220 mil AVCs evitados.
Algumas limitações envolvidas no estudo envolvem a simplificação das condições simuladas, que não consideram variáveis como disparidades raciais, horários de trabalho não convencionais, dados complementares de saúde e exposições irregulares à luz e ao sono.
Segundo os cientistas, isso pode indicar, porém, que os riscos de saúde associados à perturbação do sistema circadiano pelo horário de verão serão mais sentidos em pessoas pré-dispostas a outros riscos ou disparidades.