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Um estudo feito por uma equipe internacional de pesquisadores e publicado na última segunda (10) na revista científica Antiquity revelou novas pistas sobre um dos sítios arqueológicos mais enigmáticos do Peru. A pesquisa aponta que uma misteriosa grade de buracos gigantes esculpida na encosta dos Andes pode ter funcionado como uma ferramenta de contabilidade. É como se fosse uma espécie de “planilha” usada pelos povos andinos para registrar trocas comerciais e tributos séculos antes da chegada dos europeus.
As 5.200 cavidades de Monte Sierpe, no Vale de Pisco, intrigam pesquisadores há quase um século. Novas tecnologias modernas de mapeamento por drones e uma análise minuciosa de sedimentos da região permitiram que os pesquisadores começassem a decifrar recentemente o mistério desse sistema pré-colombiano.
A hipótese mais convincente, segundo o estudo, é a de que Monte Sierpe tenha funcionado como um grande mercado de escambo, no qual produtos eram expostos e contabilizados publicamente.
Os pesquisadores mapearam a área com drones e coletaram amostras de sedimentos em 19 buracos. Cada depressão mede entre 1 e 2 metros de diâmetro, e tem de 50 centímetros a 1 metro de profundidade. As imagens aéreas revelaram uma organização segmentada, com cerca de 60 blocos de buracos, separados por intervalos regulares.
Em algumas seções, há nove fileiras com oito buracos cada; em outras, doze fileiras alternando entre sete e oito buracos. Essa regularidade, associada às análises químicas dos sedimentos, sugere que os buracos foram usados para armazenar ou exibir produtos agrícolas.
O sistema de Monte Sierpe é semelhante à estrutura inca de cordões com nós (khipu)s, o que revela que a região possa ter desempenhado um papel significativo nas práticas tradicionais de contabilidade — Foto: Claudia Obrocki/Ethnologisches Museum, Staatliche Museen zu Berlin Entre os vestígios encontrados estão grãos de milho, amaranto, pimenta, batata-doce e além de resíduos de plantas silvestres. De acordo com Jacob Bongers, é improvável que o pólen dessas espécies tenha sido transportado pelo vento, já que Monte Sierpe fica longe das áreas férteis do vale.
Os buracos não seriam apenas depósitos, mas unidades de contagem. O sistema sugere uma sofisticada cultura de registro e controle econômico muito anterior à escrita.
“Os dados corroboram a ideia de que as pessoas traziam mercadorias para o local e as depositavam nos buracos”, afirmou Bongers em entrevista à revista New Scientist.
O pesquisador sugere que mercadorias eram carregadas em cestos de palha e depositadas nas cavidades como forma de contabilidade ou de exposição para o escambo, uma prática que teria permitido um sistema de trocas mais justas.
Mistério fotografado do céu
As covas de Monte Sierpe foram registradas pela primeira vez em 1931, quando o geólogo Robert Shippee e o tenente da Marinha dos EUA George R. Johnson lideraram uma das primeiras expedições de fotografia aérea na América do Sul. As imagens, publicadas dois anos depois, mostravam uma sequência impressionante de depressões no solo, alinhadas com precisão ao longo de 1,5 quilômetro.
Desde então, diversas hipóteses tentaram explicar sua função: túmulos, fossas para captação de água, silos agrícolas ou até estruturas defensivas. Nenhuma, porém, conseguiu oferecer uma resposta definitiva.
A nova pesquisa propõe uma interpretação que une arqueologia, economia e cultura: Monte Sierpe pode ter sido um centro de contabilidade e escambo usado por povos da cultura Chincha, entre os anos 900 e 1450 d.C., e mais tarde adaptado pelo Império Inca (1400–1532 d.C.).
Monte Sierpe, em espanhol, significa “montanha serpente”, mas o local também é conhecido como a “Faixa de Buracos” — Foto: Jacob Bongers Com o avanço do Império Inca sobre o território Chincha, Monte Sierpe pode ter sido reaproveitado como um instrumento de controle tributário. Sabe-se que os incas reorganizavam comunidades em grupos responsáveis por fornecer tributos em produtos ou trabalho ao Estado. Cada bloco de buracos poderia representar um grupo social ou vila específica, com variações no número de covas correspondendo a diferenças de contribuição ou status político.

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