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O gesto impulsivo de respingar tinta no chão — marca registrada de Jackson Pollock — pode estar mais próximo do universo infantil do que se imaginava. Um novo estudo publicado nessa quarta-feira (19) na revista Frontiers in Physics indica que crianças em idade pré-escolar produzem padrões de pintura mais semelhantes aos do pintor expressionista do que jovens adultos utilizando a mesma técnica.
“Nosso estudo mostra que os padrões artísticos gerados por crianças são distintos daqueles criados por adultos quando se utiliza a técnica de pintura por vazamento”, afirma o professor Richard Taylor, da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, em comunicado. “Notavelmente, nossas descobertas sugerem que as pinturas infantis apresentam uma semelhança maior com as pinturas de Pollock do que as criadas por adultos.”
Para investigar essas diferenças, a equipe formada por especialistas dos Estados Unidos, da Austrália e da Suécia recorreu a duas ferramentas da física: a análise fractal, a qual verifica como as manchas de tinta se distribuem em diferentes escalas, e a análise de lacunaridade, que avalia o tamanho e a variedade dos espaços vazios entre as manchas.
No experimento, 18 crianças (de idades entre quatro e seis anos) e 34 adultos (com 18 a 25 anos) criaram pinturas ao estilo Pollock, jogando tinta diluída sobre folhas colocadas no chão. Os pesquisadores escolheram esses grupos por estarem em fases diferentes de desenvolvimento do equilíbrio biomecânico, que influencia o tipo de movimento feito ao respingar tinta.
O estudo começou em 2002, foi retomado em 2018 e só foi concluído agora. Segundo Taylor, o longo intervalo acabou tornando os resultados ainda mais relevantes, já que a pandemia de Covid-19 acentuou o interesse por padrões fractais, conhecidos por gerar sensação de relaxamento. Veja os resultados:
À esquerda, está um dos desenhos feitos por uma criança. À direita, o de um adulto — Foto: Fairbanks et al. Lado a lado, as diferenças entre os grupos ficaram claras. Os adultos produziram pinturas com mais tinta e trajetórias mais amplas, resultando em estruturas visuais mais densas e complexas. Já as crianças criaram padrões menores, com mais espaços vazios e movimentos mais simples, muitas vezes seguindo linhas mais diretas e com poucas mudanças de direção.
De acordo com os pesquisadores, isso provavelmente está ligado ao estágio de desenvolvimento motor dos dois grupos. Estudos futuros devem usar sensores de movimento para testar tal hipótese.
Uma questão para além do gosto
Algumas pinturas dos adultos também foram avaliadas em relação a agradabilidade, interesse visual e complexidade percebida. Os avaliadores preferiram obras com padrões menos complexos e mais espaços vazios — características tipicamente presentes nas obras das crianças.
Essa preferência pode estar ligada à familiaridade com fractais naturais. Vale destacar que o nosso sistema visual evoluiu observando padrões semelhantes a esse tipo em árvores, nuvens e montanhas.
Os pesquisadores compararam os resultados das crianças e dos adultos com duas obras célebres do impressionismo: Número 14 (1951), de Jackson Pollock; e Jovem Intrigado pelo Voo de uma Mosca Não Euclidiana (1942), de Max Ernst.
À esquerda, está "Número 14" (1951), de Jackson Pollock, obra que inspirou o experimento. Já à direita, "Jovem Intrigado pelo Voo de uma Mosca Não Euclidiana" (1942), de Max Ernst, de características semelhantes às peças produzidas — Foto: Jackson Pollock/Max Ernst A pintura de Ernst apresentou valores de dimensão fractal semelhantes aos das crianças — o que pode ser explicado pelo uso de um pêndulo, que limita os movimentos do corpo. Já a obra de Pollock ficou dentro da faixa dos adultos, mas muito próxima da faixa infantil, alinhando-se ao histórico de equilíbrio biomecânico limitado atribuído ao artista.
Dessa maneira, conclui-se que o caso de Pollock se soma a outros exemplos de grandes nomes marcados por desafios de saúde. “Assim como as cataratas de Oscar-Claude Monet, as dificuldades psicológicas de Vincent van Gogh e a doença de Alzheimer de Willem de Kooning, o equilíbrio limitado de Pollock mostra como condições difíceis podem levar a conquistas artísticas extraordinárias”, avalia Taylor.

há 3 dias
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