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Em 1998, farmácias do Brasil venderam, sem saber, milhares de anticoncepcionais sem efeito. Na época, centenas de mulheres engravidaram de forma indesejada fazendo uso do medicamento, acreditando que estavam se prevenindo da gravidez. Para relembrar uma das maiores polêmicas da indústria farmacêutica nacional, a HBO Max lançou o documentário Pílulas de Farinha: O escândalo que gerou vidas.
A história começa quando a jornalista Ivandra Previdi, editora de texto do Jornal Nacional em 1998, notou uma coincidência estranha: três amigas do seu marido, Marco Gaiollo (editor de imagem do JN, à época), teriam engravidado usando o mesmo anticoncepcional, o Microvlar. Diante da situação, a jornalista iniciou uma investigação sobre os casos.
Uma das vítimas mostrou o medicamento que estava usando para os repórteres e eles levaram o produto para um laboratório, na tentativa de checar quais eram os componentes. Para surpresa de todos, o remédio não tinha nenhum princípio ativo, era apenas placebo. Posteriormente, notaram que as embalagens do anticoncepcional sem efeito estavam sem os dados do lote de fabricação e sem a data de validade.
Depois de confirmar a falta de efeito do anticoncepcional, os jornalistas entraram em contato com a Schering, fabricante do medicamento, para obter respostas, mas não tiveram retorno. Com todas as informações obtidas, o escândalo do anticoncepcional foi ao ar no Jornal Nacional em junho de 1998.
A imposição da maternidade
Durante a série, conhecemos a história de Silvana Dangel, que já havia se tornado mãe em 1989 e que não queria mais ter filhos. Ela não podia mais engravidar por indicação médica, após ter tido complicações com uma gestação tubária, que levou à retirada de uma das trompas uterinas e do ovário esquerdo.
Para evitar uma gravidez indesejada, ela começou a tomar o Microvlar. Durante o uso, entre alguns dos sintomas de gestação, notou que sua menstruação atrasou. Seu médico indicou que ela fizesse o exame de beta-HCG, e assim, Dangel descobriu que estava grávida há dois meses e meio.
“Eu falei: impossível. Quando você toma um remédio para dor de cabeça, acredita que a dor vai passar. Quando toma um anticoncepcional, acredita que não vai engravidar”, diz Dangel, no documentário. Cerca de 250 mulheres recorreram à justiça, mas a produção ressalta que o número de vítimas provavelmente foi muito maior, e que muitas mulheres devem ter engravidado fazendo uso do medicamento, mas podem não ter sido informadas sobre sua ineficácia.
Idalina da Silva Pinto Mortari também foi uma das vítimas da negligência. Com 40 anos e dois filhos, ela engravidou fazendo uso do anticoncepcional Microvlar. Após ter conhecimento sobre as pílulas de farinha, Mortari recorreu à justiça. "A polícia não ajudou em nada. Procurei um advogado que disse que falou que eu não tinha provas suficientes e corria o risco de ser processada caso perdesse na Justiça. No Procon, também nada. Quase desisti", conta, para o G1.
O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) entrou com quatro ações contra a Schering para ajudar 10 consumidoras, entre elas, Idalina Mortari. Na época, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que a empresa deveria pagar uma indenização coletiva às vítimas no valor de R$ 1 milhão — algo que seria repartido entre as mulheres que comprovasse que a gravidez ocorreu devido ao consumo da pílula de farinha.
A produção expõe as entrevistas feitas por alguns veículos de comunicação com o presidente da Schering, Rainer Bitzer. Na época, a empresa negou ter distribuído pílulas com placebo, justificando que as pílulas de farinha foram feitas para testes, e que eles não sabiam como elas tinham chegado ao mercado. Alegaram, ainda, que o produto foi vendido e distribuído indevidamente após o descarte. A empresa não comprovou seus argumentos.
O documentário, dividido em três episódios, busca dar visibilidade para as mulheres que foram vítimas, e na época, até ignoradas. “Ao analisar os arquivos de imprensa, vimos casos em que o repórter estava ao lado da mulher, mas entrevistava o marido. Uma matéria mostra o microfone voltado para ele, enquanto perguntavam sobre ter ‘mais uma boca para alimentar’. O ponto de vista delas quase não eram ouvidos. São várias camadas de dor nessa história”, relembra Medeiros.
A obra também traz reflexões sobre como o caso esteve em volta do machismo estrutural, mas também em torno da romantização da maternidade. A sociedade ignorou os impactos sociais, psicológicos e físicos envolvidos em uma gestação indesejada. O documentário Pílulas de Farinha: O escândalo que gerou vidas está disponível no streaming da HBO Max. Veja o trailer:

há 4 semanas
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