O som do choro de um bebê pode aumentar a temperatura corporal dos pais

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Se você percebe o seu rosto ficar mais quente ao ouvir o choro desesperado de um bebê ao sintetizar dor, saiba que é uma reação fisiológica real e intencional. Essa explicação foi revelada em um novo estudo publicado no Journal of the Royal Society Interface, conduzido por pesquisadores das universidades Jean Monnet e Saint-Etienne, na França.

A investigação descobriu que choros de bebês que contêm altos níveis de sons caóticos e desarmônicos, conhecidos como "fenômenos não lineares" (PNLs), desencadeiam uma onda de calor mensurável no rosto de adultos ouvintes. Essa resposta, capturada por câmaras térmicas, é uma reação do sistema nervoso autônomo, a parte inconsciente que controla funções como a frequência cardíaca e a digestão.

Os bebês dependem do choro para se comunicar, mas nem todos os gritos são iguais. Os de dor são acusticamente distintos: a criança contrai fortemente a caixa torácica, empurrando rajadas de ar de alta pressão pelas cordas vocais. Esse esforço produz os PNLs, sons ásperos, irregulares e de alta frequência que os especialistas reconhecem como marcadores confiáveis de sofrimento intenso.

"Foi estabelecido que os PNLs são marcadores confiáveis do nível de sofrimento e/ou dor expressado pelo bebê", escreve a equipe liderada pelo bioacústico Lény Lego no estudo.

Para entender como nosso corpo reage a esses sons, os pesquisadores recrutaram 41 adultos (21 homens e 20 mulheres) com pouca ou nenhuma experiência com bebês. Eles ouviram 23 gravações de choro de 16 bebês diferentes, capturadas durante situações de leve desconforto (como um banho) ou de dor aguda (como durante a aplicação de uma vacina).

Enquanto ouviam, uma câmera térmica monitorava as mudanças na temperatura de seus rostos. Os resultados foram claros: quanto maior o nível de PNLs no choro, mais forte e rápida era a resposta de aquecimento facial no ouvinte. Esse "rubor" fisiológico é interpretado como um sinal de que o sistema nervoso foi alertado, preparando o corpo para agir.

 Unsplash/ Antoni Shkraba Studio Identificar a dor no choro de um bebê não é um dom exclusivo das mulheres, mas uma habilidade humana mais universal — Foto: Unsplash/ Antoni Shkraba Studio

Após o teste, os participantes também relataram se achavam ter ouvido um choro de dor ou de desconforto. A resposta fisiológica medida pela câmera condizia com a percepção consciente que eles tiveram.

Um dado importante do estudo é que a resposta foi igual em homens e mulheres. Isso reforça descobertas anteriores de que a capacidade de identificar a dor no choro de um bebê não é um dom exclusivo das mulheres, mas uma habilidade humana mais universal, pelo menos em um nível fisiológico básico.

A principal limitação é que os participantes não eram pais experientes. Por isso, é possível que a resposta fisiológica de quem já cuida de bebês seja mais refinada ou até mais atenuada.

Além disso, o choro é uma mistura complexa de sons. A próxima etapa da pesquisa será desvendar se um tipo específico de PNL é o principal responsável por essa reação ou se é a combinação caótica deles que funciona como um sinal de SOS poderoso.

Afinal, os pesquisadores conseguiram o choro de um bebê é biologicamente projetado para ser impossível de ignorar. Nosso corpo, mesmo antes de nossa mente processar completamente o som, já começou a reagir a ele.

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