O que revelou a primeira análise da cavidade nasal de um neandertal

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Pela análise digital de um crânio de neandertal datado entre 130 mil e 172 mil anos, pesquisadores foram capazes de desbancar uma antiga teoria sobre a anatomia facial do ancestral humano, Segundo estudo publicado em 17 de novembro na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), a cavidade nasal do fóssil não apresenta nenhuma adaptação específica da espécie que ajudaria a lidar com climas frios.

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A pesquisa, realizada por cientistas de universidades da Itália e da Espanha, é a primeira que investiga o interior das narinas de um neandertal. Isso porque os ossos dessa região são frágeis demais para permanecerem inteiros no registro fóssil.

O diferencial do crânio, pertencente ao “homem de Altamura”, está, na verdade, relacionado ao local em que ele se encontra: a caverna de Lalamunga é conhecida por ter em suas paredes uma espessa camada de calcita, que formam estruturas semelhantes a nós e apelidadas de “pipoca de caverna”. Remover o crânio incrustado na rocha resultaria em danos aos ossos internos, esses ainda extremamente bem preservados.

Trabalhando com técnicas de paleoantropologia virtual, os pesquisadores conseguiram digitalizar o fóssil sem retirá-lo da caverna. Via sondas endoscópicas que registraram vídeos do interior das narinas, eles criaram, pela primeira vez, modelos 3D realistas dos ossos nasais de um neandertal.

 Constantino Buzi/IPHES-CERCA A reconstrução digital das cavidades nasais do homem de Altamura indicam pouca diferenciação de estruturas em relação aos Homo sapiens modernos — Foto: Constantino Buzi/IPHES-CERCA

Reformulação de teorias evolutivas

“A forma geral da cavidade nasal e da abertura nasal nos neandertais segue uma tendência bastante constante. Em geral, ela começa grande, mas fica ainda maior ao longo da evolução deles, com aberturas nasais muito grandes nas últimas populações da espécie”, afirma Constantino Buzi, paleoantropólogo e coautor do estudo, em entrevista ao site Live Science.

Uma concepção difundida é que os neandertais deveriam possuir uma série de adaptações morfológicas para o clima frio, entre elas um inchaço na parede da cavidade nasal e ausência de teto ossificado sobre o sulco lacrimal. Os traços teriam sido úteis para aquecer o ar frio antes de chegar aos pulmões.

Entretanto, a análise do crânio do homem de Altamura mostrou que as estruturas internas não eram especialmente diferentes das de humanos modernos, de forma que “nenhuma estrutura adicional é reconhecível”, segundo Buzi.

A descoberta fornece novas informações sobre o conhecimento da aparência desses parentes do Homo sapiens, fundamentando a teoria de que, mesmo com outras partes do corpo provavelmente adaptadas ao frio, suas narinas não iam pelo mesmo caminho.

Apesar de concordar que os neandertais deviam possuir graus de variações dentro da própria espécie, o paleoantropólogo ressalta que evidências mais sólidas precisam ser obtidas para além de um único indivíduo. Narizes grandes podem, inclusive, ter outras causas que não sejam a de adaptações a condições climáticas.

“Todas as espécies anteriores do gênero Homo têm narizes largos, e a maioria dos Homo sapiens tem nariz largo – apenas os povos nórdicos europeus e árticos não têm, uma proporção ínfima da espécie”, conclui Buzi.

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