O que faz baleias-da-groenlândia viverem 200 anos? Novo estudo responde

há 3 semanas 12
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Já imaginou viver até os 200 anos? Para os humanos, essa longevidade parece loucura, mas pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, encontraram pistas de como tornar isso possível. A chave está nas baleias-da-groenlândia (Balaena mysticetus), ou melhor, em uma proteína encontrada nas células desses animais, que vivem até dois séculos.

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Em estudo publicado na quarta-feira (29) na revista Nature, os cientistas revelaram o papel crucial da proteína CIRBP, responsável por um dos sistemas de reparo de DNA mais eficientes já observados no reino animal. A descoberta é uma pista de como os seres humanos poderiam resistir melhor ao câncer e retardar o envelhecimento.

A CIRBP é uma proteína presente nas baleias-da-groenlândia e ativada pelo frio. “Em colaboração com cientistas do Alasca, descobrimos que, se a temperatura for baixada em alguns graus, as células produzem mais CIRBP”, explicou Andrei Seluanov, da Universidade de Rochester, em comunicado.

A descoberta é coerente com o estilo de vida extremo desses gigantes. O corpo da baleia-da-groenlândia, envolto por uma camada de gordura de quase meio metro de espessura, é adaptado para suportar o frio intenso e os mergulhos sob blocos de gelo. Com peso de até 80 toneladas e mais de 200 anos de vida, o cetáceo é um dos animais mais longevos do planeta e também um dos mais difíceis de estudar por estar ameaçado de extinção.

Foi graças à colaboração com comunidades inuítes Iñupiaq, no norte do Alasca, que os pesquisadores puderam obter amostras de tecido para análise. Todos os outonos, as aldeias locais têm permissão para caçar alguns exemplares e, na última temporada, algumas amostras das baleias foram doadas aos cientistas.

Ao investigar as células das baleias, os cientistas identificaram que a CIRBP desempenha um papel essencial no reparo de quebras de dupla fita no DNA, um tipo de dano genético que pode causar doenças e reduzir a expectativa de vida em diversas espécies, inclusive a humana.

“Encontramos algumas outras proteínas expressas em níveis um pouco mais altos, mas a CIRBP se destacou por estar presente em níveis 100 vezes maiores”, observou Vera Gorbunova, da Universidade de Rochester.

Para confirmar o poder dessa proteína, a equipe a introduziu em culturas de células humanas e moscas-das-frutas (Drosophila melanogaster). O resultado foi surpreendente: em ambos os casos, o reparo do DNA melhorou e, nas moscas, a vida útil aumentou significativamente.

O achado reforça a hipótese de que melhorar a manutenção do material genético e aumentar a estabilidade do genoma é uma das chaves biológicas para a longevidade. “Esta pesquisa mostra que é possível viver mais do que a expectativa de vida humana típica”, disse Gorbunova.

As baleias-da-groenlândia também ajudam a decifrar um dos maiores enigmas da biologia: o Paradoxo de Peto. Segundo essa proposição, espécies de grande porte – como elefantes e baleias – deveriam ter taxas mais altas de incidência de cânceres, já que possuem muito mais células e, portanto, mais chances de mutações. No entanto, acontece o contrário.

“Nós inicialmente levantamos a hipótese de que eventos oncogênicos poderiam explicar isso, e que uma baleia precisaria de seis ou sete eventos para se tornar mais resistente ao câncer”, explicou Gorbunova. “Mas descobrimos que as células das baleias têm menos probabilidade de acumular alterações oncogênicas desde o início”.

 PxHere O câncer se desenvolve após o acúmulo de múltiplas mutações genéticas ou “impactos” em genes-chave que controlam o crescimento celular, a divisão e o reparo do material genético — Foto: PxHere

Esse controle aprimorado sobre o genoma pode ser a razão pela qual esses animais vivem tanto e raramente desenvolvem câncer, mesmo com séculos de exposição a agentes mutagênicos naturais.

Mais que isso, os cientistas acreditam que compreender o funcionamento da CIRBP pode abrir caminho para novas terapias de longevidade. Para Gorbunova, “tanto aumentar a atividade da proteína já existente no corpo quanto introduzir mais dessa proteína podem funcionar. Mudanças no estilo de vida – como tomar banhos frios – também podem contribuir”.

Por enquanto, as hipóteses são experimentais. O próximo passo da pesquisa será testar se é possível regular positivamente a via de ação da proteína em humanos. Agora, as investigações se voltarão ao desenvolvimento de estratégias de ativação nos organismos humanos.

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