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As famílias czares que comandavam o Império Russo no fim do século 19 e início do 20 tinham um gosto tão excêntrico e opulente que até os seus ovos de Páscoa eram feitos de diamantes – literalmente. Entre 1885 e 1916, a joalheria de luxo House of Fabergé, de São Petersburgo, desenhou e desenvolveu 50 ovos de Páscoa Imperiais que uniam arte, simbolismo religioso e ostentação. Mais de um século depois, um deles será disponibilizado para leilão.
O Ovo de Inverno, como ficou conhecido, está sob a posse da casa de leilão Christie’s, em Londres, no Reino Unido, e deve começar a receber lances a partir do dia 2 de dezembro. Estima-se que ele possa atingir o valor de US$ 27 milhões (cerca de R$ 145 milhões). Caso o número se confirme, será a terceira vez que uma obra Fabergé bate o recorde mundial de maior preço.
Símbolo da Páscoa imperial russa
O item foi encomendado em 1913 pelo imperador Nicolau II, como um presente para a sua mãe, a imperatriz viúva Maria Feodorovna. O Ovo de Inverno é considerado até hoje como um dos maiores feitos artísticos da House of Fabergé.
Esculpido em cristal de rocha, a peça é decorada com flocos de neve em platina e diamantes lapidados em formato de rosa. Quando aberta, revela uma cesta de platina suspensa e cravejada de pedras preciosas, contendo um buquê de flores brancas.
A base, também de cristal de rocha, foi projetada para parecer um bloco de gelo derretendo – um tributo à transição do inverno para a primavera, tema central da peça. Segundo comunicado publicado pela casa de leilões Christie’s, a obra é “ricamente imbuída de simbolismo pascal”, representando a ressurreição e a renovação da vida.
Seu design é obra de Alma Pihl, uma das raras mulheres a ocupar o posto de designer na Casa Fabergé. Filha e sobrinha de joalheiros finlandeses, Pihl começou sua carreira desenhando aquarelas para os registros da empresa.
Como destaca a revista Smithsonian, o padrão de flocos de neve foi inspirado por cristais de gelo que via na janela de seu ateliê. O seu trabalho também deu origem ao Ovo de Mosaico, o qual atualmente faz parte da Coleção Real do Reino Unido.
Com a Revolução Russa em 1917, a tradição dos ovos imperiais chegou ao fim. A família Fabergé fugiu do país e muitos dos seus ovos foram confiscados pelos bolcheviques, que os venderam ao exterior. Naquela época, objetos associados ao antigo regime eram considerados “ideologicamente inúteis e imorais”.
Atualmente, 43 dos 50 ovos imperiais sobrevivem, a maioria preservada em museus como o Metropolitan Museum of Art, o Hillwood Estate, o Walters Art Museum, o Virginia Museum of Fine Arts e o próprio Fabergé Museum. Apenas sete permanecem em coleções particulares.
Por quase 20 anos, o Ovo de Inverno foi considerado perdido. Ele voltou aos registros em 1994, logo antes de ser vendido pela primeira vez pela Christie’s em Genebra por ₣ 7,26 milhões (R$ 49,3 milhões, na cotação atual de francos suíços), estabelecendo o recorde mundial para um Fabergé.
Oito anos depois, em 2002, ele voltou a leilão e alcançou US$ 9,57 milhões (R$ 51,5 milhões) em Nova York, um novo recorde. Agora, com uma estimativa três vezes superior, deve quebrar seu próprio feito mais uma vez.
Segundo Margo Oganesian, especialista da Christie’s em arte russa, o leilão representa “uma oportunidade extraordinária”. “O Ovo de Inverno é uma das criações mais sublimes de Fabergé, tanto técnica quanto artisticamente”, relata, no comunicado.