O perfil dos superdotados no Brasil: Por que há mais homens do que mulheres?

há 4 semanas 15
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Facilidade de aprendizagem, memória privilegiada, vocabulário avançado para a própria idade, curiosidade intensa e alfabetização precoce são alguns indícios de altas habilidades/superdotação (AH/SD). No Brasil, estima-se que cerca de 10,7 milhões de pessoas sejam superdotadas, segundo dado mais recente divulgado pela Mensa Brasil, entidade que reúne pessoas com altas capacidades intelectuais no país.

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Na avaliação da organização, para ser superdotado é preciso ter um Quociente de Inteligência (QI) acima do percentil 98 — ou seja, superior ao de 98% da população. Considerando esses parâmetros, cerca de 2% da população global tem altas habilidades, o que equivale a 165 milhões de pessoas. Algumas estimativas sugerem que esse total pode chegar a 5%.

O Brasil ocupa o 6º lugar do ranking global de superdotados cadastrados pela Mensa Internacional, principal organização de QI do mundo, atrás dos Estados Unidos, das Ilhas Britânicas, Alemanha, Suécia e República Tcheca. Hoje, 6 mil brasileiros com superdotação são membros da instituição, que tem um total de 159 mil integrantes em 90 países.

Até abril deste ano, a Mensa tinha 5 mil membros no Brasil, a maioria (78%) da geração Millenial (nascidos entre 1981 e 1996), que se declaravam estudantes, engenheiros, empresários, analistas de sistemas e advogados. A maior concentração deles estava em São Paulo, com 1.035 integrantes, seguido de Rio de Janeiro (332) e Brasília (257). Havia também 41 superdotados vivendo no exterior.

Atualmente, a Mensa conta com 3,9 mil membros ativos no Brasil, dos quais somente 36% são mulheres (1216). Isso significa que ainda há uma grande prevalência do sexo masculino. Mas, se a população do país está próximo de um equilíbrio 50/50 entre mulheres e homens, porque o número de superdotados é tão discrepante?

A resposta curta é que a maioria das pessoas que se submetem aos testes de QI são homens. É o que revelam dados obtidos com exclusividade pela GALILEU, a partir de uma base com 9 mil registros da Mensa. O levantamento considera tanto quem apresentou um laudo neuropsicológico pronto quanto quem se inscreveu e pagou para realizar o teste da organização, independentemente de ter feito a avaliação na prática.

Entre janeiro e setembro de 2025, 64% dos candidatos eram homens, contra 36% de mulheres. No ano anterior, a disparidade era ainda maior: 70% homens e 30% mulheres.

Melhora na representatividade feminina

Ainda assim, a Mensa tem se esforçado para aumentar a representatividade feminina em sua comunidade de superdotados. Nos últimos 12 meses, o número de superdotadas identificadas pela entidade no Brasil cresceu quase 50%.

O total de membros mulheres, entre adultas e crianças, passou de 815 em 2024 (30%) para 1.216 em outubro de 2025 (36%). Para efeito de comparação, em 2020, o percentual feminino era de apenas 18%.

Na prática, a participação de mulheres, tanto em testagem quanto em envio de laudos, dobrou nos últimos oito anos, segundo a instituição. “Nossa perspectiva é que, em pouco tempo, teremos uma quantidade superior de mulheres na nossa entidade”, afirma Cadu Fonseca, presidente da Mensa Brasil, em comunicado enviado à GALILEU.

A descoberta da superdotação

Para algumas integrantes, descobrir a superdotação trouxe autoconhecimento e pertencimento. É o caso de Lilian Schreiner-Módolo, diretora da Mensa Brasil, que entrou na entidade após seus filhos, ainda crianças, se associarem. “Embora sempre tenha me considerado inteligente, foi ao estudar a condição deles que me identifiquei com algo comum entre muitas mulheres: a camuflagem. Percebi o quanto havia — a vida inteira — escondido minhas habilidades para me encaixar”, conta.

Já para Argene Silva, vice-presidente eleita para o biênio 2026-2028, a revelação veio em um momento desafiador, durante uma busca por respostas e apoio psicológico. "Essa descoberta me trouxe compreensão, acolhimento e, principalmente, pertencimento. Ao encontrar a Mensa, conheci pessoas que se parecem comigo — que pensam e sentem de forma parecida — e, com elas, encontrei um espaço onde posso ser eu mesma", revela.

O senso de comunidade também foi essencial para Marina Couto, diretora da entidade: “O autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal que vivi dentro da Mensa Brasil me deram ferramentas para lidar melhor com todos os aspectos da minha vida — e isso se refletiu também no meu crescimento profissional”, destaca.

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