Lobo mau tem medo dos humanos, revela estudo na Polônia

A pesquisa, conduzida por uma equipe internacional nas florestas da Polônia, mostrou que os lobos têm mais que o dobro de probabilidade de correr e abandonarem uma área duas vezes mais rápido quando ouvem pessoas falando, comparado com sons de cães ou cantos de pássaros.

Mesmo com a proteção legal e a recolonização da Europa, os lobos continuam a manter distância de nós. Segundo Liana Zanette, ecologista da Universidade Western, em Ontário, ao The News York Times, embora o medo dos lobos em relação aos humanos seja um tema recorrente na cultura popular, ele ainda não havia sido testado cientificamente até agora.

Os cientistas instalaram câmeras e alto-falantes acionados por movimento em cruzamentos frequentados por lobos na Floresta Tuchola, no norte da Polônia. Quando os animais passavam, os equipamentos reproduziam um de três sons: vozes humanas (homens e mulheres falando calmamente em polonês), latidos de cães ou cantos de pássaros.

Os vídeos revelaram que os lobos tinham mais que o dobro de probabilidade de fugir ao ouvir a voz humana e o faziam duas vezes mais rápido do que diante de outros estímulos. Os lobos, explicou Zanette, “mantêm o medo dos humanos, mesmo em lugares onde são legalmente protegidos”.

A descoberta é particularmente relevante em um momento de debate sobre a proteção dos lobos na Europa e América do Norte. Apesar de serem legalmente protegidos na Polônia, 10 dos 30 lobos monitorados com GPS no país foram ilegalmente abatidos a tiros.

Os pesquisadores reforçam que o histórico de caça e abates ilegais contribui para essa reação. A sensibilidade auditiva dos lobos é apenas uma das formas de perceber o perigo, complementando o olfato altamente apurado desses animais.

O experimento também traz implicações práticas. De acordo com os autores, a reação dos lobos indica que métodos não letais, como o uso de dissuasores acústicos, podem ser ferramentas eficazes e de baixo custo para reduzir conflitos com humanos, especialmente em áreas de expansão do território desses animais na Europa, América do Norte e Canadá.

Estudos anteriores sugeriam que os lobos poderiam se aproximar de humanos por curiosidade ou atraídos por alimentos desprotegidos. No entanto, este trabalho evidencia que o comportamento de aproximação está mais ligado à oferta de comida do que à perda de medo.