Livros de chumbo controversos passam por análise mais detalhada até hoje

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Um minucioso estudo trouxe luz ao debate em torno dos enigmáticos “códices de chumbo”, supostamente encontrados em 2011 dentro de uma caverna na Jordânia e apresentados ao mundo como artefatos do início do cristianismo. Conduzido pelo Centro de Feixes de Íons da Universidade de Surrey, no Reino Unido, o projeto representa a investigação técnica mais detalhada já feita sobre o conjunto. Entretanto, mesmo com o uso de tecnologia de ponta, a controvérsia está longe de chegar ao fim.

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Seus insights renderam material suficiente para a produção de um artigo publicado na terça-feira (18) na revista Nuclear Instruments and Methods in Physics Research B. A pesquisa examinou as amostras a partir de quatro técnicas complementares: análise de elementos-traço, medições de isótopos de chumbo, testes de partículas alfa e estudo de hélio radiogênico. A intenção dos autores era detectar tanto a composição quanto a idade provável dos códices.

Análise revela cenário complexo

As páginas externas de um dos livros analisados apresentavam forte contaminação ambiental, o que comprometeu a determinação precisa da idade. As páginas internas forneceram dados mais consistentes, e aparentavam ter pelo menos 200 anos – podendo ser até mais antigas.

Nenhuma das metodologias empregadas foi conclusiva isoladamente, mas, combinadas, revelaram um panorama bem mais matizado sobre a fabricação dos artefatos. “Enquanto algumas partes dos códices parecem modernas, outras apresentam características de chumbo mais antigo, que não conseguimos explicar usando materiais contemporâneos”, explica Roger Webb, coautor do estudo, em comunicado.

Trabalhando no caso desde 2011, Webb ressalta que, mesmo com o avanço das técnicas, o quadro é bastante complexo. “Ainda não conseguimos provar que os livros são realmente antigos, tampouco que são modernos”, indica o especialista. Por isso, a equipe acredita que testes mais sensíveis serão necessários.

Controvérsias antigas, com suspeitas renovadas

A investigação científica recente dialoga, inevitavelmente, com um histórico turbulento. Em 2012, uma apuração da BBC News destacou que várias alegações feitas por David Elkington, um autoproclamado arqueólogo que defendia a autenticidade dos códices, eram contestadas por acadêmicos.

 Universidade de Surrey Diz-se que os códices foram encontrados em uma caverna jordaniana — Foto: Universidade de Surrey

Elkington angariou dezenas de milhares de libras com investidores e apoiadores, incluindo a princesa Elizabeth da Iugoslávia, para financiar suas pesquisas e viagens ao Oriente Médio. Porém, após dúvidas levantadas por especialistas, a própria princesa passou a acreditar que os códices não eram autênticos e pediu o reembolso do investimento.

Na época, a BBC revelou que credenciais acadêmicas citadas por Elkington eram imprecisas e que especialistas consultados pela Autoridade de Antiguidades de Israel tinham, inclusive, rejeitado a autenticidade dos códices examinados. O historiador Peter Thonemann, da Universidade de Oxford, também no Reino Unido, chegou a afirmar que “tinha tanta certeza quanto é possível ter” de que o conjunto de códices eram falsificações.

Mistério resiste à tecnologia

Mais de dez anos depois da polêmica inicial, a nova análise não oferece o veredito definitivo que muitos buscavam. O estudo coordenado pela equipe de Surrey conclui que, embora seja possível descartar a modernidade de algumas partes, não há meios científicos de confirmar se os códices são tão antigos quanto afirmam seus defensores.

A falta de uniformidade dos materiais e a contaminação de fundo, “muito maior do que o esperado”, dificultam a datação precisa e sugerem que os livros podem ter tido intervenções ou exposições diferenciadas ao longo de seu percurso. Um quadro que abre espaço tanto para aqueles que acreditam na autenticidade parcial quanto para os que defendem a hipótese de falsificação.

Enquanto a equipe de Surrey busca novos financiamentos para uma próxima fase de testes, permanece aberta a possibilidade de que os enigmáticos livros de chumbo guardem segredos por desvendar.

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