Lagarto ou cobra? Este novo fóssil bagunça as definições dos cientistas

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A imagem que você vê acima é a representação artística de um dos fósseis mais antigos de lagarto já encontrados. Descoberta recentemente, a espécie viveu há cerca de 167 milhões de anos, e foi descrita em um estudo publicado na revista Nature nesta quarta-feira (1). O mais curioso, no entanto, é que o novo réptil possui características que permitem classificá-lo como um ancestral de cobras e lagartixas — animais com relações evolutivas muito distantes na árvore filogenética.

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O fóssil recebeu o nome científico de Breugnathair elgolensis, que significa ‘falsa cobra de Elgol’. Sua mandíbula e seus dentes curvos são muito parecidos com características de pítons da atualidade, mas seu corpo e seus membros se assemelham a um lagarto.

"As cobras são animais extraordinários, que desenvolveram corpos longos e sem membros a partir de ancestrais semelhantes a lagartos", disse Roger Benson, principal autor do estudo, em comunicado. "O Breugnathair possui características semelhantes às das cobras nos dentes e mandíbulas, mas, em outros aspectos, é surpreendentemente primitivo.”

“Isso pode nos dizer que os ancestrais das cobras eram muito diferentes do que esperávamos, ou pode ser uma evidência de que hábitos predatórios semelhantes aos das cobras evoluíram separadamente em um grupo primitivo e extinto”, explica.

O elgolensis recém-descoberto foi colocado na família chamada Parviraptoridae — que abarca predadores extintos. Anteriormente, alguns estudos identificaram um fóssil que tinha ossos com dentes muito parecidos com cobras e ossos do corpo semelhantes ao de lagartixa. Como todas as amostras esqueléticas pareciam muito diferentes, os pesquisadores acreditaram que as ossadas pertenciam a animais distintos.

 Mick Ellison/AMNH Uma reconstrução de Breugnathair elgolensis, a espécie jurássica recém-descrita com características de lagartos (corpo) e cobras (mandíbulas e dentes). — Foto: Mick Ellison/AMNH

Com o novo estudo, descobriram que as características ósseas distintas pertencem ao mesmo animal. Em 2016, durante uma expedição, o Breugnathair foi descoberto pelo coautor do estudo, Stig Walsh em conjunto com outros pesquisadores, incluindo Benson, na ilha de Skye, na Escócia. A equipe ficou por quase 10 anos preparando o espécime e analisando seus vestígios através de imagens de tomografia computadorizada e raios X.

"Os depósitos fósseis do Jurássico na Ilha de Skye são de importância mundial para nossa compreensão da evolução inicial de muitos grupos vivos, incluindo lagartos, que estavam começando sua diversificação nessa época", disse Susan Evans, coautora do estudo. “Descrevi os parviraptorídeos pela primeira vez há cerca de 30 anos, com base em material mais fragmentado. Então, é como encontrar a tampa de um quebra-cabeça muitos anos depois de ter decifrado a imagem original a partir de um punhado de peças.”

 Mick Ellison/AMNH Uma reconstrução de Breugnathair elgolensis comendo um mamífero — Foto: Mick Ellison/AMNH

“O mosaico de características primitivas e especializadas que encontramos nos parviraptorídeos, como demonstrado por este novo espécime, é um lembrete importante de que os caminhos evolutivos podem ser imprevisíveis”, ressalta. Medindo desde a cabeça até a cauda, o animal tinha cerca de 40 centímetros de comprimento. Acredita-se que o Breugnathair foi um dos maiores lagartos na composição do ecossistema do Jurássico Médio e que se alimentava de lagartos pequenos, mamíferos primitivos, além de alguns vertebrados como filhotes de dinossauros.

Devido às diversas características do Breugnathair e pela falta de fósseis sobre sua linhagem evolutiva, a equipe não chegou a uma resposta conclusiva sobre o animal ser ancestral de cobras ou de lagartos. Uma das hipóteses é que a espécie seja um predecessor de todas os lagartos e cobras. "Este fóssil nos leva muito longe, mas não nos leva até o fim", afirma Benson. "No entanto, nos deixa ainda mais animados com a possibilidade de descobrir de onde vêm as cobras."

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