Implante cerebral permite que homem tetraplégico sinta objetos usando mãos de outras pessoas

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Graças a um implante cerebral inovador, que conecta diretamente o cérebro de uma pessoa ao corpo de outra, um homem tetraplégico foi capaz de sentir e mover objetos por meio das mãos de um “avatar” humano. Conduzido por neurocientistas da Universidade de Nova York (NYU), nos Estados Unidos, esse experimento representa um passo decisivo para a reabilitação neurológica cooperativa.

O teste foi feito originalmente em 2023, com o paciente Keith Thomas, que ficou tetraplégico três anos antes, logo após mergulhar em uma piscina e danificar a sua medula espinhal. Só agora, porém, os responsáveis pelo estudo divulgaram as suas observações do caso. O artigo ainda não foi revisado por um grupo independente de cientistas, mas foi publicado no dia 22 de setembro na plataforma medRxiv.

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Reconexão entre cérebro e corpo

O implante de Thomas é chamado tecnicamente de interface cérebro-computador implantada (iBCI). Ele contém microeletrodos posicionados nas regiões cerebrais responsáveis pelo controle motor e pela percepção sensorial. Esses sensores captam os sinais elétricos que representam a intenção de movimento e os enviam, em tempo real, a um computador equipado com algoritmos de inteligência artificial (IA).

A partir daí, o sistema decodifica os comandos cerebrais e os transforma em impulsos elétricos direcionados aos músculos e nervos periféricos, restaurando parcialmente o controle voluntário e a sensibilidade. Veja, abaixo, um vídeo produzido pelos responsáveis que mostram o equipamento em ação:

Lá em 2024, Thomas surpreendeu os médicos ao sentir o pelo de seu cachorro, segurar um copo e beber sozinho. Mesmo fora do laboratório (isso é, sem estar conectado a máquinas), ele relatou ter recuperado alguma sensibilidade nos braços e pulsos, um avanço sem precedentes para pacientes com lesão completa na medula espinhal.

Como destaca o portal IFLScience, no experimento mais recente, os pesquisadores decidiram testar um conceito ainda mais ousado. Eles optaram por usar outro ser humano como um “avatar físico” para que Thomas pudesse sentir o mundo por meio de mãos alheias.

Para isso, ele foi conectado a uma voluntária, Kathy Denapoli, de 60 anos, que também possui uma lesão parcial na medula espinhal. Ela recebeu sensores e eletrodos de alta precisão, capazes de responder aos comandos cerebrais de Thomas.

Durante os testes, ambos estavam vendados para eliminar pistas visuais. Thomas então foi instruído a mover as mãos de Denapoli para agarrar diferentes objetos. Ele conseguiu não apenas controlar a força e o movimento das mãos dela, mas também sentir texturas e resistências, distinguindo os objetos com 64% de precisão.

Em uma das tarefas cooperativas, Thomas guiou Denapoli para pegar uma garrafa de água, servi-la e beber de uma lata. O sucesso na atividade foi de 94%, estimam os autores no estudo.

Sensação compartilhada e reabilitação cooperativa

Os resultados vão além da demonstração técnica. A equipe da NYU destaca que esse tipo de interação sensório-motora compartilhada pode ter grande valor emocional e terapêutico.

Segundo os cientistas, essa conexão simbiótica entre dois cérebros e dois corpos pode inaugurar uma nova abordagem de reabilitação cooperativa, em que pacientes com diferentes graus de paralisia se ajudam mutuamente. No caso, um deles funcionando como o “comando neural” e o outro como o “agente físico”.

Apesar de ainda estar em fase experimental e não ter passado por revisão por pares, o estudo é considerado um marco para a neuroengenharia. Pela primeira vez, uma interface cérebro-computador demonstrou a possibilidade de restaurar tanto o controle motor quanto a percepção sensorial por meio de outro ser humano.

“Restaurar a função sensório-motora em indivíduos com paralisia grave continua sendo um dos maiores desafios da medicina”, afirmam os autores, no texto. “Este estudo mostra que é possível não apenas reconectar o cérebro ao corpo, mas também reconectar pessoas entre si.”

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