Guerra de ilusões

há 1 semana 7
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O estrategista militar Carl von Clausewitz cunhou uma das frases mais famosas da história militar ao afirmar que “a guerra é a continuação da política por outros meios”. Ela traduz a ideia de que sociedades, Estados, nações precisam costurar acordos, firmar pactos, negociar para poder coexistir, mas que, por vezes, essas tentativas civilizadas não bastam quando, então, partimos para a briga. Já o historiador militar John Keegan acredita que a guerra é um fenômeno social e cultural, praticamente intrínseco ao ser humano, e que estaria longe de ser completamente racional.

Sem querer tomar partido, confesso que tenho simpatia por quem nos lembra que as decisões humanas estão longe de ser motivadas exclusivamente pela razão. No caso das guerras, inclusive, a decisão de entrar em combate é, muitas vezes, baseada numa ilusão.

Costumo dizer que ilusões vêm em dois tipos: as que não queremos ter e as que não queremos perder. A primeira parte é óbvia, pois, em princípio, ninguém gosta de acreditar em uma mentira. Menos conhecidas são as crenças às quais nos apegamos, mesmo sendo ilusórias. O otimismo exagerado, a sensação de que temos controle sobre as coisas à nossa volta e uma autoavaliação inflada das próprias habilidades — coletivamente conhecidos como ilusões positivas — estão nessa categoria. Embora, muitas vezes, nos levem a conclusões equivocadas e mesmo prejudiciais, há momentos em que elas nos beneficiam, alcançando, no fim das contas, um saldo positivo.

Esse viés de avaliação excessivamente positiva, conhecido como overconfidence bias, já foi implicado em erros estratégicos dramáticos, como os ocorridos no Vietnã ou no Iraque, e ainda assim segue sendo um motivador poderoso para empreitadas bélicas. Em 2006, cientistas convocaram centenas de voluntários para participarem de jogos de simulação de guerra, medindo também o quanto achavam que iriam ganhar as batalhas e o quanto acreditavam que haviam ganhado após o jogo (antes de saber o resultado). Mais de mil decisões foram tomadas ao todo — desde negociar até atacar sem ser provocado, passando por simplesmente não fazer nada. As análises mostraram que havia, de fato, uma correlação direta entre a autoconfiança excessiva e a decisão de atacar, tendência mais pronunciada em homens do que em mulheres, mas sem relação com o nível de testosterona.

Cinco anos depois, outros pesquisadores criaram modelos matemáticos para simular conflitos entre Estados disputando recursos e descobrir quais estratégias seriam mais vantajosas. Eles concluíram que Estados com excesso de confiança têm maior probabilidade de acumular recursos por conta de suas iniciativas de conquista, unem-se mais frequentemente contra Estados fracos forçando as vítimas a dividir suas defesas e decidem entrar em mais batalhas que, de fato, podem vencer. Um pouco de ilusão vale a pena no longo prazo.

Ao contrário do que ocorre nas simulações, contudo, nos cenários da vida real a relação entre custos e benefícios sempre inclui, do lado dos custos, mortes de civis inocentes. Quanto a isso, não podemos nos iludir.

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