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A chegada de Javier Milei ao poder na Argentina colocou o país vizinho no centro do debate econômico na América Latina. Para especialistas, o que diferencia o caso argentino do brasileiro é a gravidade da crise.
“Na Argentina, só foi possível eleger alguém com uma plataforma de ajuste tão duro porque a economia chegou a um estado agudo. O Brasil ainda não está nesse ponto”, avaliou o economista Marcos Mendes, do Insper.
Segundo ele, o ajuste argentino tem se dado por duas frentes: a corrosão inflacionária das despesas e uma agenda intensa de desregulamentação.
“O governo Milei está revisando todo o arcabouço regulatório e retirando o que é desnecessário. Isso deve gerar ganhos de produtividade no médio prazo”
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Risco não é apenas econômico
O risco, porém, não é apenas econômico. Mendes faz um alerta político: “Talvez o governo Milei esteja vivendo seu momento Collor ou PC Farias. Se explodir um grande escândalo de corrupção, a política econômica não se sustentará e o ajuste pode fracassar mais uma vez”.
No caso brasileiro, a preocupação central segue sendo a trajetória da dívida pública. Mendes lembrou que não há previsão de estabilização no médio prazo e que o equilíbrio exigiria um ajuste fiscal superior a três pontos do PIB, algo politicamente complexo.
Os caras-pintadas de 92
A referência feita pelo entrevistado remete à crise política que levou ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. Collor foi eleito em 1989 com a promessa de modernizar o Brasil, mas seu governo acabou marcado por denúncias de corrupção e desvio de recursos públicos.
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No centro do escândalo estava Paulo César Farias, o “PC Farias”, tesoureiro da campanha de Collor, acusado de operar um esquema de tráfico de influência e enriquecimento ilícito. As denúncias envolveram pagamento de propinas, uso de empresas-fantasmas e favorecimento a empresários próximos ao governo.
A revelação de que o presidente se beneficiava do esquema levou a uma onda de protestos populares — simbolizados pelos “caras-pintadas” — e abriu caminho para o processo de impeachment, aprovado pelo Congresso em setembro de 1992.
Ao mencionar que Milei poderia viver um “momento Collor ou PC Farias”, o entrevistado sugere que um escândalo político de grande proporção teria potencial para comprometer a sustentação do projeto econômico do presidente argentino, mesmo que as reformas em curso estejam avançando.