Formiga-ceifadora-ibérica é o primeiro animal a "clonar" outra espécie

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Um novo estudo publicado na revista Nature revela que há um tipo de formiga que produz clones machos de uma espécie diferente. A novidade quebra as regras da biologia reprodutiva, sugerindo que é necessário repensar nossa compreensão sobre as barreiras entre espécies.

Trata-se da rainha formiga-ceifadora-ibérica (Messor ibericus), que precisa acasalar com machos de uma espécie relacionada, a formiga colhedora (Messor structor), para manter a colônia funcionando. A pesquisa revela, no entanto, que algumas populações de formigas-ceifadoras-ibéricas não têm colônias de M. structor por perto.

"Isso era muito anormal. Era uma espécie de paradoxo", disse Jonathan Romiguier, biólogo da Universidade de Montpellier, na França, e coautor do estudo, em entrevista ao site Live Science.

Inicialmente, os pesquisadores acreditaram que se tratava de um problema de amostragem, porém, acabou encontrando 69 regiões na qual isso acontecia. "Tivemos que tentar entender se havia algo de especial nas colônias de Messor ibericus", completa ele.

Ao investigar mais a fundo, Romiguier e a equipe descobriram que as ceifadoras-ibéricas também botam ovos contendo formigas machos da espécie M. structor e que estes são os pais das operárias da M. ibericus. Essas operárias, no caso, são todas híbridas. De acordo com o estudo, esta é a primeira vez que se registra um animal produzindo descendentes de outra espécie como parte de seu ciclo de vida normal.

As formigas são insetos eussociais, ou seja, suas colônias formam superorganismos cooperativos compostos, principalmente, por fêmeas inférteis, conhecidas como operárias. Há um pequeno número de fêmeas reprodutivas, que são as rainhas. Neste contexto, o papel dos machos é somente fertilizar as rainhas durante seus voos de acasalamento e, em seguida, morrem.

As rainhas acasalam apenas uma vez na vida e armazenam o esperma desse encontro em um órgão especial. A partir desse esperma, elas botam ovos que contêm um dos seguintes tipos: rainhas, operárias ou machos.

 Jonathan Romiguier, Yannick Juvé e Laurent Soldati Essas duas formigas compartilham o mesmo DNA mitocondrial, mas têm DNA nuclear diferente — Foto: Jonathan Romiguier, Yannick Juvé e Laurent Soldati

No caso das formigas-ceifadoras-ibéricas, as rainhas que se acasalam com machos de sua própria espécie só reproduzem novas rainhas. Os cientistas sugerem que isso aconteça por conta de "genes de rainha egoístas", onde o DNA do macho M. ibericus garante sua sobrevivência ao longo das gerações, direcionando as larvas para produzir rainhas férteis em vez de operárias inférteis.

Este fenômeno é conhecido como "trapaça real". Para evitar isso, as rainhas precisam usar o esperma de machos M. structor para produzir suas operárias.

Os pesquisadores coletaram 132 machos de 26 colônias da formiga-ceifadora-ibérica para descobrir se havia machado de M. structor presentes. Eles descobriram que 58 deles eram peludos e 74 carecas. Uma análise dos genomas nucleares de um subconjunto dessas formigas revelou que os primeiros eram da M. ibericus e, os carecas, M. structor.

Mas isso não era o suficiente: foi necessário um sequenciamento do DNA mitocondrial, que é transmitido pela mãe, de 24 dos machos de M. structor e descobriu que vinha da mesma mãe dos machos M. ibericus que viviam no mesmo ninho. "Foi esse detalhe que me fez perceber que 'talvez estejamos diante de algo muito, muito, muito grande'", revelou Romiguier.

A equipe separou 16 rainhas de colônias de laboratório e analisou as sequências genéticas de seus ovos recém-postos. Descobriu-se que 9% dos ovos continham formigas M. structor. Em seguida, uma única rainha foi observada diretamente produzindo machos de ambas as espécies, tendo suas ninhadas monitoradas semanalmente durante 18 meses.

Essas descobertas revelam que essas rainhas estão "clonando" os machos de M. structor, e não transmitindo nenhum de seu próprio DNA nuclear. A seguir, os cientistas querem identificar o mecanismo por trás dessa clonagem para descobrir em que ponto o DNA materno é removido.

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