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O novo relatório divulgado pela revista científica The Lancet faz um alerta sobre o avanço das mudanças climáticas está matando milhões de pessoas todos os anos. O documento, intitulado Lancet Countdown 2025 sobre Saúde e Mudanças Climáticas, mostra que a dependência contínua de combustíveis fósseis está agravando crises de calor extremo, poluição do ar, insegurança alimentar e disseminação de doenças, com impactos diretos na saúde e na economia global.
Mais de 70 instituições internacionais apontam que 12 dos 20 principais indicadores de saúde já atingiram níveis sem precedentes. Esses dados refletem não apenas a deterioração ambiental, mas também o impacto social e psicológico de viver em um planeta cada vez mais instável.
Esse estudo foi liderado pelo University College London (UCL) e elaborado em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), detalha como o aquecimento global está alterando as condições básicas de vida humana e ameaçando décadas de avanços médicos e sociais. Os pesquisadores descrevem um cenário em que o aumento das temperaturas médias e a frequência de eventos extremos, como enchentes e incêndios, estão minando a capacidade de resposta dos sistemas de saúde e colocando em risco a sobrevivência de comunidades inteiras.
O preço humano nas mudanças climáticas
Entre 2012 e 2021, as mortes relacionadas ao calor aumentaram 23% em relação à década de 1990, alcançando uma média de 546 mil óbitos anuais. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado, expondo bebês e idosos a 300% mais dias de ondas de calor em comparação com o período entre 1986 e 2005. Os efeitos dessas temperaturas extremas não se restringem à saúde física, ondas de calor prolongadas também agravam condições mentais, como ansiedade e depressão, e aumentam o risco de suicídio, segundo os especialistas citados no relatório.
As condições mais secas e quentes também intensificaram incêndios florestais. Apenas em 2024, a fumaça associada a esses eventos foi responsável por 154 mil mortes. Alinhado a isso, a exposição prolongada à fumaça tóxica tem gerado aumento nos casos de doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares. Além disso, secas e chuvas extremas aumentaram em mais de 60% da superfície terrestre, afetando a produção de alimentos e elevando os riscos de fome e desnutrição, especialmente em comunidades mais pobres e dependentes da agricultura.
O potencial médio global de transmissão da dengue aumentou quase 50% desde a década de 1950 — Foto: Governo de SP A crise climática ainda acelera a propagação de doenças infecciosas. O potencial de transmissão da dengue cresceu quase 50% globalmente desde a década de 1950, enquanto infecções causadas por bactérias do gênero Vibrio atingiram níveis recordes em regiões antes consideradas seguras. O relatório também alerta para o ressurgimento de outras doenças sensíveis ao clima, como malária e cólera, à medida que o aquecimento global altera o equilíbrio ecológico e amplia o alcance de vetores como mosquitos e bactérias.
Poluição e perdas econômicas
A queima de combustíveis fósseis continua sendo um dos principais motores dessa crise. Em 2022, a poluição do ar causou 28 mil mortes prematuras apenas no Reino Unido, mais da metade relacionadas à combustão de carvão, petróleo e gás. Globalmente, a poluição atmosférica é responsável por mais de sete milhões de mortes por ano, sendo uma das principais causas evitáveis de mortalidade.
O impacto econômico também é expressivo. Em 2024, o calor extremo resultou em 639 bilhões de horas potenciais de produtividade perdidas, equivalentes a US$ 1,09 trilhão (cerca de R$ 5,45 trilhões), quase 1% do PIB global. Os países de baixa renda são aqueles que mais sofrem, pois têm menos infraestrutura para se adaptar ao calor, e grande parte da força de trabalho atua ao ar livre, em setores como agricultura e construção civil.
Mesmo assim, os governos destinaram US$ 956 bilhões (cerca de R$ 5,35 trilhões) em subsídios a combustíveis fósseis em 2023, mais que o triplo do compromisso internacional assumido para apoiar países vulneráveis. Esse paradoxo ilustra o abismo entre as promessas políticas e as ações efetivas, comprometendo metas globais como as do Acordo de Paris.
Os pesquisadores destacam que o aquecimento global está ampliando desigualdades históricas: os países que menos contribuíram para as emissões de gases de efeito estufa são justamente os mais afetados por seus impactos. Populações rurais, povos indígenas e moradores de áreas urbanas periféricas enfrentam os maiores riscos, com acesso limitado a infraestrutura de saúde e saneamento.
Análise das mortes por poluição do ar pelo mundo entre 2010 a 2022 — Foto: Lancet Countdown 2025 sobre Saúde e Mudanças Climáticas Além disso, hospitais e centros de saúde também são vulneráveis a eventos climáticos extremos, como enchentes e apagões, o que pode comprometer o atendimento durante emergências. O relatório ressalta a necessidade de fortalecer sistemas de saúde para resistirem a essas pressões e se prepararem para um futuro cada vez mais quente.
Apesar do cenário alarmante, o relatório destaca sinais de progresso. Entre 2021 e 2022, as emissões do setor de saúde caíram 16%, e a geração de energia renovável atingiu níveis recordes. Estima-se que 160 mil mortes prematuras sejam evitadas anualmente graças à redução do uso de carvão e à melhoria da qualidade do ar.
A transição para energias limpas, dietas de baixo impacto ambiental e sistemas alimentares sustentáveis é vista como uma oportunidade de transformação global. “Temos evidências mais claras do que nunca de que as mudanças climáticas estão prejudicando diretamente a saúde humana”, afirma o professor Kris Murray, codiretor do Centro de Mudanças Climáticas e Saúde Planetária da LSHTM, em comunicado. “Os impactos que vemos hoje, como mortes por calor extremo, não teriam ocorrido sem a interferência humana.”
Já o professor Tafadzwa Mahbhaudi, diretor do Lancet Countdown Africa, reforça que a ação climática é uma das maiores oportunidades do século 21. “Ela pode impulsionar o desenvolvimento, criar empregos e reduzir a pobreza energética, além de salvar vidas”, diz.
O relatório conclui que as soluções já estão ao alcance: investir em energia limpa, fortalecer sistemas de saúde, proteger ecossistemas e adotar dietas sustentáveis pode trazer benefícios imediatos e duradouros para a saúde global. No entanto, os autores alertam que o tempo está se esgotando a cada ano de atraso, que significa mais calor, mais doenças e mais vidas perdidas.
“A ação climática é, acima de tudo, uma ação pela vida humana”, resume o relatório.

há 3 semanas
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