ANUNCIE AQUI
A fertilização in vitro (FIV) se consolidou como um método de reprodução assistida para oferecer óvulos principalmente a pessoas inférteis. Agora, um estudo em desenvolvimento por pesquisadores da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, nos EUA, propõe uma técnica inovadora para a criação de óvulos humanos a partir de células da pele.
Leia mais notícias:
O trabalho em estágio inicial se baseia em técnicas de clonagem e conta com procedimentos avançados de manipulação genética para transformar células somáticas adultas em óvulos capazes de desenvolver embriões.
“O maior grupo de pacientes que pode se beneficiar seriam mulheres em idade materna avançada. (...) Usamos células femininas neste estudo, mas você também poderia usar células de homens. Você poderia criar óvulos para homens, e, dessa forma, isso seria aplicável a casais do mesmo sexo”, explica Shoukhrat Mitalipov, coautor do estudo, em entrevista ao site The Guardian.
As técnicas usadas para a realização do estudo se assemelham àquelas presentes em experimentos da década de 1990, quando os primeiros métodos de clonagem de mamíferos deram frutos científicos.
O famoso caso da ovelha Dolly – primeiro mamífero a ser clonado com sucesso a partir de células somáticas – consistiu em retirar o núcleo de uma célula adulta de ovelha e inseri-lo num óvulo com o núcleo removido.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/U/w/z3B8WFReiHCA60mtp1Gg/image2.png)
Dessa vez, os pesquisadores do novo estudo coletaram células da pele de mulheres e, posteriormente, removeram os núcleos de cada uma para que pudessem ser inseridos em óvulos de doadoras.
O procedimento poderia ser simples se não fosse por um fator: um núcleo celular contém 46 cromossomos, que carregam os milhares de genes do nosso código genético, enquanto um óvulo saudável, antes de receber o espermatozóide para a fertilização, possui apenas 23 cromossomos. Como lidar com esse excesso de informação genética?
A solução foi descrita pelos cientistas em artigo publicado hoje na revista científica Nature Communications. Segundo eles, após a fertilização dos óvulos com espermatozoides, um composto chamado roscovitina é ativado dentro dos óvulos, fazendo com que cerca de metade dos cromossomos se movam para um corpúsculo polar – uma mini célula sem capacidade de desenvolver um óvulo funcional, morrendo um tempo depois.
Com isso, a célula abre espaço para os cromossomos dos espermatozoides se unirem aos do óvulo, iniciando o processo de desenvolvimento do embrião.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/X/8/Vl2LwFTCSYq46haK8LQg/image3.png)
Apesar do grande potencial, ainda são necessários mais estudos de aperfeiçoamento do método em desenvolvimento pelos pesquisadores. Como dito, o processo de separação influenciado pela roscovitina tem efeito em cerca de metade dos cromossomos, e não em exatamente metade deles.
Essa pequena diferença já gerou a formação de embriões com o número incorreto de cromossomos, assim como pareamentos cromossômicos errados.
“Esses complementos cromossômicos anormais não seriam esperados para resultar em um bebê saudável”, diz Paula Amato, coautora do estudo, em entrevista ao The Guardian.
Até agora, apenas 10% dos 82 óvulos criados em laboratório se desenvolveram ao estágio em que embriões de fertilização in vitro costumam ser transferidos para o útero da mãe. Isso sugere que a melhoria de eficiência do processo deve levar mais um tempo.