Desmatamento pode aumentar temperatura em 5°C em regiões tropicais

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Um novo mapa interativo criado por pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, revela o impacto direto do desmatamento sobre o aumento das temperaturas nas regiões tropicais, que apresenta resultados alarmantes. Em algumas áreas, o corte de árvores pode elevar o calor local em até 5°C, segundo os dados apresentados pela ferramenta, em estudo publicado na Nature Climate Change, em agosto deste ano.

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O mapa, disponível online, reúne dados que apontam como a perda de cobertura florestal afeta o clima em diferentes escalas, por região, distrito ou província, e oferece uma visão inédita sobre a importância das florestas na regulação térmica. A ferramenta foi desenvolvida para apoiar governos, organizações de conservação e profissionais da agricultura para avaliar os efeitos do desmatamento sobre a saúde, a produção de alimentos e a resiliência climática.

Estudos anteriores já haviam demonstrado que o desmatamento em países tropicais expõe milhões de pessoas a temperaturas perigosamente altas. Segundo o novo levantamento, o aquecimento causado pela destruição das florestas está associado a 28 mil mortes relacionadas ao calor por ano, afetando mais de 300 milhões de pessoas na América Central e do Sul, África e sudeste asiático.

“Esse aquecimento local não só tem implicações importantes para a saúde humana, mas também para a segurança hídrica, a agricultura e a resiliência climática, especialmente para comunidades vulneráveis nos trópicos”, afirmou Carly Reddington, uma das lideres do estudo, em comunicado.

 © OpenStreetMap , © CARTO O desmatamento afetado às temperaturas locais degrada gradualmente o efeito de resfriamento fornecido pela evapotranspiração das árvores florestais e pela alteração do albedo da superfície — Foto: © OpenStreetMap , © CARTO

Reddington explica que a perda de árvores elimina mecanismos naturais de resfriamento, como a sombra, a evapotranspiração e a absorção de dióxido de carbono. Sem esses processos, o calor se acumula mais rapidamente na superfície, a umidade atmosférica diminui e as concentrações de gases de efeito estufa aumentam.

O mapa evidencia a dimensão do problema: o desmatamento em Rondônia, no sul da Amazônia brasileira, por exemplo, está associado a um aumento médio de 2,1°C. Em algumas regiões do Sudeste Asiático e da África, o aquecimento ultrapassa 3°C, enquanto na Tanzânia, na região de Katavi, pode chegar a 5°C.

Nike Doggart, também da Universidade de Leeds, que liderou o desenvolvimento do mapa, destacou o momento estratégico do lançamento, já que ocorre durante a COP30, realizada em Belém (PA).

“Esta é a primeira ferramenta que permite aos países tropicais compreender os impactos do desmatamento em seus climas locais”, explicou. “Esperamos que, ao entender o papel das florestas na moderação das temperaturas, os tomadores de decisões políticas priorizem a proteção florestal e reduzam o desmatamento.”

A ferramenta também ilustra como iniciativas internacionais, como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, liderado pelo Brasil e apoiado pelo Reino Unido, podem ajudar a proteger milhões de pessoas do calor extremo nos trópicos.

Segundo Andy Hartley, gerente científico de Impactos e Mitigação Climática do Met Office, o projeto demonstra o valor das florestas para a sociedade. “Esta pesquisa e o mapa interativo mostram o quão valiosas são as florestas na prestação de serviços ecossistêmicos e o quanto sua proteção e o plantio de árvores podem ser eficazes como estratégias de adaptação climática local.”

O CSSP Brazil VIEWpoint faz parte do projeto Climate Science for Services Partnership (CSSP) Brasil, uma colaboração entre pesquisadores do Reino Unido e do Brasil, financiada pelo Fundo de Parcerias Científicas Internacionais do Governo Britânico. O objetivo é gerar conhecimento científico que apoie políticas públicas e serviços voltados ao enfrentamento das mudanças climáticas.

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