Descoberto paradeiro dos 34 fragmentos da “Pedra do Destino” perdidos após tentativa de roubo

há 1 semana 11
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Mais de sete décadas após a tentativa de roubo da “Pedra do Destino” da Abadia de Westminster, na Inglaterra, um novo estudo finalmente revelou o paradeiro dos 34 fragmentos que se desprenderam do artefato durante o episódio. A descoberta é fruto de uma investigação conduzida por pesquisadores da Universidade de Stirling, na Irlanda, e publicada no dia 7 de novembro na revista The Antiquaries Journal.

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A pesquisa não apenas reconstitui o caminho percorrido pelos fragmentos, que, hoje encontram-se espalhados por países em diferentes continentes, como também lança uma nova luz sobre a própria natureza simbólica da pedra. A relíquia foi utilizada como uma peça central nas coroações britânicas desde a Idade Média até o seu roubo em meados do século 20.

Tentativa de roubo natalino

Na manhã de Natal de 1950, quatro estudantes escoceses protagonizaram um dos episódios mais inusitados da história do Reino Unido ao invadirem a Abadia de Westminster, em Londres, e removeram a Pedra do Destino. Também conhecida como “Pedra de Scone”, ela é símbolo da realeza escocesa desde o século 9 e foi incorporada à Cadeira da Coroação após ser tomada pelo rei Eduardo I em 1296.

Como lembra a revista Popular Mechanics, o plano de captura do item não correu como esperado. Durante a fuga, a pedra, que é um bloco de arenito de 152 quilos, caiu e se partiu em duas. O pedreiro e político Robert “Bertie” Gray ficou encarregado de restaurá-la no ano seguinte.

O problema é que, no processo de restauração, dezenas de pequenos fragmentos foram formados. Esses pedaços não foram incorporados à peça original e, na verdade, acabaram sendo presenteados a amigos, familiares, políticos nacionalistas e figuras influentes por Gray, que ainda as numerou e autenticou.

Fragmentos com destino global

Até pouco tempo, apenas um dos fragmentos era oficialmente conhecido: uma pequena lasca hoje sob guarda da agência governamental Historic Environment Scotland. Mas a nova pesquisa ampliou consideravelmente esse mapa. Ela aponta que os fragmentos viajaram para Austrália, Canadá e diversas regiões da Escócia.

Um deles foi dado à australiana Catherine Milne, que o levou para Brisbane, onde sua família o doou ao Museu de Queensland após sua morte em 1967. Outro foi incorporado a um broche de prata feito para a esposa de um dos estudantes envolvidos no roubo.

 Peter Waddington/Museu de Queensland Um fragmento da Pedra doado ao Museu de Queensland, na Austrália — Foto: Peter Waddington/Museu de Queensland

Houve ainda o caso curioso de um fragmento guardado em uma caixa de fósforos, mantido em segredo por uma família escocesa e mais tarde enterrado junto ao seu dono. Um jornalista canadense, Dick Sanburn, mantinha o seu pedaço exposto em seu escritório, enquanto a política Winnie Ewing chegou a usar outro fragmento como medalhão durante uma entrevista televisiva em 1967.

“Desde que minhas descobertas começaram a surgir, muitas pessoas entraram em contato comigo compartilhando o conhecimento de suas famílias sobre fragmentos da Pedra”, afirma Sally Foster, professora da Universidade de Stirling e líder do projeto, em comunicado. “Eu considero as alegações confiáveis, porque frequentemente vinham acompanhadas de evidências que as corroboravam.”

Uma pedra, muitas histórias

O portal Artnet destaca que a Pedra do Destino, exibida desde 2024 no Museu de Perth, nunca foi um “objeto monolítico com uma história linear”. Além do roubo de 1950, há registros de danos anteriores, como durante a coroação da Rainha Vitória em 1838 e um atentado sufragista em 1914, que também geraram pequenas lascas.

Ao longo dos séculos, até geólogos coletaram “migalhas” da pedra para análise. O estudo de Foster reúne todas essas informações para propor uma “biografia composta” do artefato e de suas múltiplas partes — um esforço para compreender não apenas a materialidade da relíquia, mas também seu impacto simbólico e político.

 Ross Colquhoun/SNP Um fragmento da Pedra que foi anteriormente legado ao SNP — Foto: Ross Colquhoun/SNP

Foster acredita que o número “XXXV”, gravado em numerais romanos na base da Pedra de Scone, tenha sido inscrito pelo próprio Gray após reunir os 34 fragmentos. Caso a hipótese seja comprovada, a pedra principal seria o 35º elemento.

“Gray teve a rara oportunidade de acessar a parte inferior da pedra e quis deixar sua marca, talvez com um toque de humor”, explica a pesquisadora. Hoje, com a pedra restaurada e sob proteção no Museu de Perth, o foco da equipe responsável pelo projeto é garantir que os fragmentos também recebam atenção pública.

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