COP30 em números, dia 5: 19 pontos para entender o que aconteceu nesta sexta-feira

há 1 semana 10
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Cinco dias após a abertura oficial da COP30, as negociações principais começam a se mostrar difíceis, com o tradicional impasse entre os países ricos e os países em desenvolvimento. A notícia principal do dia, na imprensa brasileira e nos veículos internacionais, foi o protesto dos indígenas Munduruku, que acabaram conseguindo uma reunião com o presidente da COP30. Veja abaixo o que de mais importante aconteceu nesta sexta-feira (14), em 19 números.

 Thorsten Holtz/picture alliance via Getty Images Ativistas bloquearam a entrada principal da conferência climática no Brasil nesta manhã. Na foto, o presidente da conferência, De Lago. Ele se aproximou dos manifestantes para conversar com eles — Foto: Thorsten Holtz/picture alliance via Getty Images

É o número aproximado de indígenas do povo Munduruku, articulados pelo Movimento Ipereg Ayu, que fizeram um protesto na manhã de hoje contra o Decreto nº 12.600/2025. Os manifestantes fecharam, em dois momentos diferentes, o acesso principal à Zona Azul da COP30, e causaram atrasos na entrada do público.

O objetivo dos indígenas era conseguir uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pedir a revogação do decreto. A medida institui o Plano Nacional de Hidrovias e coloca os rios Tapajós, Madeira e Tocantins como eixos prioritários para a navegação de cargas.

Os Munduruku temem que a exploração dessas vias fortaleça a exploração do setor privado na região, gerando impacto ambiental. Eles alegam que a medida foi publicada sem passar por consulta pública. Também criticam a construção da Ferrogrão, uma ferrovia que ligará o Mato Grosso ao Pará para escoamento de produção agrícola.

O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, foi até o grupo e andou de mãos dadas com manifestantes até o prédio em frente ao espaço da Zona Azul. Lá, foi providenciada uma reunião entre os manifestantes, Lago e a ministra dos povos indígenas, Sonia Guajajara, que classificou a manifestação como “legítima”. Posteriormente, a ministra Marina Silva disse que encaminhará a demanda dos indígenas sobre a privatização das hidrovias para o Ministério dos Transportes.

 Thorsten Holtz/picture alliance via Getty Images André Correa do Lago, presidente da COP30, passa por indígenas que bloqueiam a entrada da cúpula climática da COP30 — Foto: Thorsten Holtz/picture alliance via Getty Images

Quatro itens se tornaram pontos de discórdia nas negociações do clima. São eles: o financiamento de países ricos a países em desenvolvimento, as metas climáticas, os relatórios de transparência e as medidas unilaterais de comércio.

Antes da COP começar, esses itens foram retirados da agenda oficial para permitir que as negociações ocorressem com mais facilidade e que a COP não perdesse fôlego logo no começo. Mas eles permanecem sendo discutidos em paralelo, nas chamadas “consultas da presidência”, um mecanismo inventado nesta COP para evitar atrasos de agenda (enquanto ela não é aprovada por consenso, não há negociação).

De um lado, os países mais ricos querem que os mais pobres apresentem metas mais agressivas, como a própria União Europeia fez ontem (corte de 90% nas emissões até 2040). Alguns países, como a Índia, sequer apresentaram suas NDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada). Sem esse compromisso, existe a possibilidade de que os mais ricos criem entraves na negociação de outros itens, como a adaptação climática, pauta importante para o Brasil.

Do outro, os países em desenvolvimento pedem dinheiro dos mais ricos para que possam financiar sua transição energética e descarbonizar sua indústria. Outro pedido dos países em desenvolvimento é a derrubada de medidas unilaterais protecionistas que são defendidas como “verdes” pelos países ricos. Um dos exemplos mais citados é o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM) da União Europeia, que pretende impor tarifas sobre as importações de produtos “intensivos em carbono” (como aço, cimento e fertilizantes) para penalizar países que emitem muito CO₂ durante a produção.

O resultado das consultas deveria ser divulgado na última quarta-feira (12), mas foi adiado para amanhã, sábado (15).

“Fracasso”. É como Andrew Wilson, secretário-geral adjunto de políticas da Câmara de Comércio Internacional (ONG global), disse que a COP30 pode acabar se os impasses nas negociações não forem resolvidos.

"Se continuarmos nessa trajetória atual, o resultado será muito, muito fraco, o que transformará este momento em um fracasso, quando deveria ser um momento crucial", disse ele em entrevista à Reuters. Segundo informe da agência de notícias, alguns representantes de delegações se mostraram “nervosos” com o andamento das negociações.

Lobistas para a indústria de combustíveis fósseis estão na COP, segundo levantamento da Kick Big Polluters Out (KBPO), coalizão internacional de organizações da sociedade civil que luta para excluir “grandes poluidores” das negociações climáticas da ONU.

É um aumento de 12% em relação à COP29 e também um volume de pessoas que supera as delegações de quase todos os países presentes, com exceção do Brasil.

O jornal britânico The Guardian aponta que nenhuma das quatro maiores emissoras de TV americanas (CBS, NBC, ABC e Fox) enviou equipes para cobrir a COP30 presencialmente. Apenas a ABC teve credenciados como imprensa (duas pessoas), mas não se sabe se eles de fato vieram. Os EUA não enviaram delegação à COP este ano, sendo provavelmente a maior ausência do evento entre as delegações.

É o número de onças-pintadas que estão expostas nas ruas de Belém, onde devem ficar até o dia 30 de novembro. É a Jaguar Parade, em que cada uma das onças foi decorada por um artistas diferente, sendo 42 deles paraenses. A curadoria é de Vânia Leal, do Centro Cultural Bienal das Amazônias. Hoje, às 19h, a exposição ofereceu um coquetel beneficente.

Além das estátuas que decoram a cidade-sede da COP, a Jaguar Parade também tem um leilão beneficente online, que acontece até 1 de dezembro pela plataforma IArremate. Toda a arrecadação será revertida a instituições dedicadas à preservação da onça-pintada.

É o número da nova portaria do Ministério de Minas e Energia (MME), publicada nesta sexta e assinada pelo ministro Alexandre Silveira na COP30. Ela regulamenta a Política de Debêntures a Projetos de Transformação de Minerais Estratégicos para a Transição Energética.

A medida é voltada a projetos de transformação de minerais para a produção de insumos para baterias e ímãs de motores elétricos. Por meio da portaria, essas iniciativas poderão solicitar a emissão de debêntures com benefícios fiscais.

O objetivo é atrair investimentos privados para a indústria de transformação mineral, consolidando o Brasil nas cadeias globais de tecnologias limpas. O investimento total estimado é de R$ 5,2 bilhões por ano, sendo R$ 3,7 bilhões em transformação mineral e R$ 1,5 bilhão em lavra e beneficiamento.

"Hoje, marcamos o início de uma nova era para o setor mineral brasileiro. Estamos construindo as bases para que o Brasil se torne, nas próximas décadas, um protagonista indispensável na economia global, impulsionando a transição energética”, disse o ministro no evento.

Sete países (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname) lançaram juntos na COP30 o Instrumento do Programa Amazônia Sempre para Cidades e Infraestrutura Resiliente.

É um esforço colaborativo para atrair mais de US$ 1 bilhão em investimentos, que serão destinados a segurança hídrica, energia limpa e infraestrutura urbana resiliente. O pacto é apoiado pelo Grupo Banco Interamericano de Desenvolvimento (Grupo BID), como parte do seu programa Amazônia Sempre.

No anúncio, a ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil, Simone Tebet, afirmou que o instrumento se destaca por contemplar também as áreas urbanas, que são onde a maior parte da população amazônica mora.

“Proporcionar às pessoas meios de vida e empregos nas cidades é a melhor maneira de preservar a floresta”, disse o presidente do Grupo BID, Ilan Goldfajn.

Esse valor, que corresponde a R$ 1,85 bilhão, foi anunciado pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) para os Fundos de Desenvolvimento Regional (FDRs). É fruto de uma parceria com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), que assinou o contrato com o MIDR hoje na COP, sob a condição de que 70% de seu investimento seja voltado a projetos na luta contra as mudanças climáticas.

É a primeira vez que os FDRs recebem dinheiro do exterior. Outros órgãos estrangeiros em negociação para investimentos nos FDRs são o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Mundial (BM) e o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês).

O aporte da AFD será distribuído nos próximos cinco anos e dividido da seguinte forma:

  • 120 milhões de euros para a área de atuação da Sudene (FDNE)
  • 90 milhões de euros para a área de atuação da Sudam (FDA)
  • 90 milhões de euros para a área de atuação da Sudeco (FDCO)

Possui a Trilha Amazônica Atlântica, lançada hoje na COP. Trata-se de um roteiro de ecoturismo convidando os visitantes a explorarem atrativos históricos, áreas protegidas e comunidades tradicionais da Amazônia.

“Estamos concretizando um sonho que começou há cinco anos, movido por quem acredita que trilha não desmata, ela conserva”, declarou a ministra do Turismo, Ana Lopes.

A Trilha Amazônia Atlântica é formada por sete trechos que atravessam 17 municípios, 13 áreas protegidas, incluindo sete unidades de conservação e seis territórios quilombolas seculares. O ponto de partida é o centro histórico de Belém, seguindo por parques urbanos e trechos de mata até a Vila de Caraparu. De lá, o caminho avança para Castanhal, passando por quatro territórios quilombolas, e continua pela histórica Estrada Belém–Bragança até Capanema.

Depois segue para Nova Olinda, cruza os Campos Naturais Bragantinos, passa por Bragança, Augusto Corrêa e chega a Viseu, na fronteira com o Maranhão. No ponto final, os visitantes podem observar a Floresta Amazônica a partir do mirante da Serra do Piriá.

... ativistas do grupo Fridays for Future (sextas-feiras pelo futuro) marcharam hoje da Estação das Docas até a Praça Central em Belém. Eles pedem que os jovens sejam incluídos nos debates junto aos líderes globais. O movimento, que foi criado pela ativista sueca Greta Thunberg (que não veio ao Brasil), promove protestos paralelos, todos relacionados à COP, nos EUA, México, Filipinas, Itália, Alemanha, Espanha, Suécia, Japão e República do Congo.

É o número de refeições que estão sendo servidas diariamente a trabalhadores, participantes, voluntários e comunidades envolvidas na COP. Quem prepara tudo é a Cozinha Solidária da Cúpula dos Povos, com apoio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). 150 pessoas trabalham na cozinha todos os dias.

É o tamanho da população de indígenas Yanomami que vive atualmente no território amazônico. Hoje, a Mostra de Cinema da Amazônia (evento paralelo à COP30, também em Belém) teve a pré-estreia do documentário A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, que fala sobre a cultura dessa etnia e também sua luta para proteger o território.

Davi Kopenawa, autor do livro homônimo que inspirou o filme e líder indígena, lembrou aos presentes que os yanomamis lutam pela conservação de sua área desde a década de 1970, quando, após a abertura da Perimetral Norte (BR-210), o território passou a sofrer invasões e ameaças.

Morrem todos os anos em razão do calor extremo em todo o mundo. O dado faz parte do relatório “Saúde e Mudanças Climáticas: Implementando o Plano de Ação em Saúde de Belém”, divulgado nesta sexta-feira durante a COP pelo Ministério da Saúde em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo o documento, entre 3,3 bilhões e 3,6 bilhões de pessoas vivem atualmente em áreas classificadas como altamente vulneráveis às mudanças climáticas. Além disso, um em cada 12 hospitais corre risco de paralisar suas atividades por causas relacionadas ao clima.

Das pessoas que residem em áreas de risco nas cidades brasileiras são negras. O número faz parte do relatório "Sem Moradia Digna, Não Há Justiça Climática”, elaborado pela ONG Habitat para a Humanidade Brasil e apresentado hoje na COP.

O relatório traz dados de 129 cidades brasileiras e revela que 66,58% da população residente em áreas de risco é negra. No Brasil, são cerca de 2,1 milhões de casas danificadas por desastres climáticos e 107 mil destruídas entre 2013 e 2022 por desastres ambientais. As famílias mais afetadas são as chefiadas por mulheres negras.

Outro ponto importante observado pela ONG é que somente 8% das metas climáticas apresentadas voluntariamente por cada país tratam das favelas e comunidades. As pessoas que moram nessas áreas sofrem as consequências das mudanças climáticas, como ciclones e enchentes, o que gera uma crise habitacional, mas o assunto não é central nas discussões sobre o tema.

É o que o governo federal pretende mobilizar em investimentos com o 4º leilão Eco Invest, cujo edital foi lançado hoje na COP. A ideia é que seja US$ 1 bilhão em recursos públicos, incluindo o Fundo Clima e o BID, e até US$ 3 bilhões em capital privado.

O programa combina recursos públicos e privados por meio de um modelo de financiamento misto (blended finance), no qual o Tesouro Nacional empresta recursos às instituições financeiras a 1% ao ano, exigindo que sejam mobilizados pelo menos quatro vezes esse valor em capital privado, com participação mínima de 60% de investidores estrangeiros. Os recursos então são repassados por meio de crédito direto ou via fundos.

Desta vez, o Eco Invest Brasil destinará recursos exclusivamente para a região amazônica.

É o valor do cofinanciamento anunciado entre o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e a AFD (Agência Francesa de Desenvolvimento) para instalar cabos submarinos de fibra óptica no Maranhão e no Pará. Cerca de 15 milhões de pessoas na Amazônia serão beneficiadas com a internet de alta velocidade.

É o número de entidades palestinas que estão presentes na COP30. Elas têm participado dos encontros e debates e falado não apenas sobre a questão climática, mas também sobre a situação delicada de Gaza, que foi invadida e bombardeada por Israel.

Mais de 60 casos estão sendo “julgados” desde ontem no Tribunal dos Povos contra o Ecogenocídio, que deve ser encerrado hoje e acontece no Ministério Público Federal de Belém. Os juízes são lideranças comunitárias, indígenas e quilombolas, além de defensores com destaque na luta social.

Os casos estão divididos em três eixos: falsas soluções climáticas, violência no campo e grandes empreendimentos. Entre os “réus” estão a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, o projeto da Ferrogrão e o Estado de Israel, pelo genocídio cometido na palestina.

Ao final, os relatórios dos casos e os julgamentos serão remetidos ao Ministério Público e também a autoridades da ONU presentes na COP30.

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