COP30 em números, dia 10: entenda o que aconteceu na quarta-feira em 12 pontos

há 5 dias 2
ANUNCIE AQUI

A grande notícia da quarta-feira na COP30 foi a presença de Lula, que se reuniu com líderes e ministros para tentar destravar as negociações sobre documentos importantes. O presidente voltou ao evento para acompanhar a fase final de negociações e incentivar os ministros a entrarem em consenso sobre os pontos cruciais da conferência. Ele se encontrou com nomes como o embaixador da COP30, André Corrêa do Lago, e com a ministra Marina Silva. Confira abaixo um resumo do que aconteceu de importante na quarta-feira (19), em 12 números.

... manifestações foram registradas nesta manhã na Zona Azul, protestando pelo fim dos combustíveis fósseis.

É o valor destinado para o programa TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre). A maior expectativa do dia ficou para a coletiva de imprensa realizada no começo da noite, que reuniu o embaixador e presidente da COP30, André Corrêa do Lago, a ministra Marina Silva e o presidente Lula.

Sobre as negociações de hoje, Corrêa do Lago disse que estão andando. “Tivemos encontros com alguns dos grupos negociadores, conversamos sobre alguns dos temas mais complexos da negociação, como adaptação, financiamento e proposta de mapa do caminho. Ficou muito clara essa transição entre as COPs de negociações e a COP que criou os documentos que já permitem que nós possamos implementar muitas das coisas necessárias para combater a mudança do clima”, afirmou.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou dois avanços importantes. “Tivemos a alegria de que a Alemanha fez o anúncio de seu aporte na ordem de 1 bilhão de euros para o TFFF. Graças a todo o esforço que vem sendo feito e numa demonstração de fato de que esse instrumento de financiamento global é muito bem desenhado e começa a dar as respostas”, disse ela.

O segundo anúncio foi sobre o Tratado BNJJ (Biodiversity Beyond National Jurisdiction, em português: Biodiversidade além da Jurisdição Nacional). “O presidente Lula entregou ao secretário Guterres a ratificação da nossa carta de diversidade biológica marinha em áreas além da jurisdição nacional, o BBNJ, que é uma conquista muito grande do presidente antes de ir para a COP dos oceanos”, contou a ministra.

Marina também falou sobre o Mapa do Caminho. “Tivemos boas respostas, não definitivas, mas processuais, no sentido de que o mapa do caminho é a possibilidade de que países desenvolvidos e em desenvolvimento possam estabelecer suas trajetórias para fazer a transição e sair da dependência de combustível fóssil. É um diálogo profícuo, ninguém tem uma resposta pronta e acabada, ninguém quer impor nada a ninguém. Temos ainda muito chão pela frente”, afirmou a ministra.

Fechando os discursos, o presidente Lula elogiou a organização do evento e reafirmou que essa é a melhor COP de todas. Também ressaltou a importância da participação popular no evento. “Uma coisa que nós precisamos colocar na cabeça dos dirigentes do mundo inteiro é que esses eventos não podem ser perpetuamente litúrgicos, em que só participa pouca gente. Uma vez eu fui numa reunião do G7 na França, e depois em uma na Escócia, e eu vi tanto arame farpado, tanto tanque e fiquei imaginando: ‘os líderes que participam dessas reuniões estão protegidos porque sabem que não estão fazendo a coisa certa, porque, se estivessem, não precisavam ter tanto medo do povo’”, disse ele.

Lula também falou de dinheiro. “Cuidar do clima é saber que os países ricos precisam ajudar os países pobres. Isto não é uma coisa abstrata. Nós precisamos convencer as pessoas de que os bancos multilaterais, que cobram uma exorbitância de juros dos países africanos e dos países pobres da América Latina, precisam transformar essa dívida em investimento para que a gente possa fazer com que a questão da transição energética seja verdadeira. As petroleiras têm que pagar uma parte, as mineradoras têm que pagar uma parte, as pessoas que ganham muito dinheiro têm que pagar”, disse.

Foi o crescimento de facções criminosas na região amazônica em um ano. Os dados vêm da 4ª edição do Cartografias da Violência na Amazônia, um novo estudo divulgado hoje pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) na COP.

Segundo o levantamento, o crime organizado cresceu e chegou a 45% dos municípios que compõem a Amazônia Legal. Das 772 cidades, as organizações criminosas estão presentes em 344 delas, o que representa um aumento de 32% em relação a 2024, quando estavam em 260 municípios. A Amazônia Legal é composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Os civis que trabalham com balsas e escarientes (equipamento de extração mineral em larga escala) são obrigados a se “cadastrar” e a pagar mensalidades para as facções. A tabela de valores muda de acordo com o equipamento utilizado.

“O estudo mostra que essas facções, majoritariamente ligadas ao narcotráfico, veem na Amazônia e nos crimes ambientais novas formas de ganhar dinheiro e lavar dinheiro”, explica Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O estudo mostra que são 17 facções criminosas ativas na Amazônia. Os mais poderosos são o CV e Primeiro Comando da Capital (PCC), mas, além deles, destacam-se grupos regionais como Amigos do Estado (ADE), Bonde dos 40 (B40), Primeiro Comando do Maranhão (PCM), Família Terror do Amapá (FTA), União Criminosa do Amapá (UCA), Comando Classe A (CCA), Bonde dos 13 (B13), Bonde dos 777 (dissidência do CV), Tropa do Castelar, Piratas do Solimões, Bonde do Maluco (BDM) e Guardiões do Estado (GDE). Há também facções estrangeiras.

É o número de pessoas que foram assassinadas na Amazônia Legal em 2024. Isso configura uma taxa de 27,3 assassinatos por 100 mil habitantes, que é 31% superior à média nacional. O estado mais violento da região (e do país) foi o Amapá, com 45,1 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes. O dado também vem da 4ª edição do Cartografias da Violência na Amazônia.

Causou polêmica na COP hoje: a estátua Espírito Guardião Dragão Onça, entregue pela China. A obra traz uma criatura híbrida de dragão e onça-pintada abraçando um globo terrestre onde está escrito COP30.

Feita pela artista Huang Jian, a obra simboliza a união dos dois países na luta contra as mudanças climáticas. No entanto, foi criticada por evangélicos na internet, que interpretam o dragão como uma figura distante dos valores religiosos. A estátua está exposta na Freezone, espaço artístico instalado na Praça da Bandeira.

É o número de tópicos que possui o rascunho publicado hoje sobre os Planos Nacionais de Adaptação durante a coletiva de imprensa dos organizadores. O documento elogia os países que já entregaram seus planos e elogia os povos indígenas, mas também apresenta pontos de preocupação. Dois textos se destacam:

[O documento] Observa com preocupação que o financiamento fornecido aos países em desenvolvimento para a formulação de planos nacionais de adaptação através das entidades operacionais do Mecanismo Financeiro, programas bilaterais e multilaterais e outros canais continua inadequado e que a lacuna financeira significativa resultante continua a ser um obstáculo à implementação eficaz dos planos nacionais de adaptação.

[O documento] Pede que os países aumentem a sua oferta de financiamento climático, a transferência de tecnologia e o desenvolvimento de capacidades para a adaptação, em conformidade com as disposições da Convenção e do Acordo de Paris, e a reforçarem a transparência a este respeito, de modo a responder às necessidades dos países em desenvolvimento.

Outro documento atualmente em elaboração na COP, chamado de Programa de Trabalho para uma Transição Justa (Just Transition Work Programme - JTWP) tem um texto preliminar que inclui uma opção (parágrafo sugerido) para reconhecer os riscos sociais e ambientais da extração de minerais necessários para a fabricação de baterias, painéis solares e turbinas eólicas.

Se essa opção for adotada no texto final, será a primeira vez que os minerais de transição energética serão mencionados no regime climático da ONU.

O problema é que a China, maior fornecedora mundial desses minerais, é contra qualquer referência a minerais críticos na minuta da COP30. Xia Yingxian, diretor-geral do Departamento de Mudanças Climáticas do Ministério da Ecologia e Meio Ambiente da China (MEE), foi abordado hoje por um grupo de ativistas que tentaram lhe entregar uma carta solicitando que a China aceite a inclusão dos minerais.

Yingxian recusou a carta e saiu andando para o espaço privado das delegações.

“Provocação”. Foi assim que um grupo de cientistas classificou “as propostas de texto de roteiros para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e para o fim do desmatamento” apresentadas na COP30.

“Os delegados parecem não entender o que é um roteiro. Um roteiro não é um workshop ou uma reunião ministerial. Um roteiro é um plano de trabalho real, que precisa nos mostrar o caminho, de onde estamos, para onde precisamos chegar – e como chegar lá”, diz o texto, assinado por profissionais conceituados, como o brasileiro Carlos Nobre.

“Precisamos chegar o mais próximo possível de zero emissões absolutas de combustíveis fósseis até 2040, no máximo até 2045. Isso significa, globalmente, nenhum novo investimento em combustíveis fósseis, a remoção de todos os subsídios a esses combustíveis e um plano global sobre como introduzir fontes de energia renováveis e de baixo carbono de maneira justa, e eliminar rapidamente os combustíveis fósseis. O financiamento de países ricos para países em desenvolvimento é imprescindível”, pede o texto.

  • Carlos Nobre – Painel Científico para a Amazônia
  • Fatima Denton – United Nations University
  • Johan Rockström – Potsdam Institute for Climate Impact Research
  • Marina Hirota – Instituto Serrapilheira
  • Paulo Artaxo – Universidade de São Paulo
  • Piers Forster – University of Leeds
  • Thelma Krug – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

É o total de países que declararam apoio ao RAIZ (sigla em inglês para Resilient Agriculture Investment for net-Zero land degradation), programa lançado hoje pelo Ministério da Agricultura. O objetivo da iniciativa é arrecadar fundos para restaurar áreas degradadas e torná-las adequadas para o uso agropecuário.

Os apoiadores são: Austrália, Canadá, Alemanha, Japão, Arábia Saudita, Nova Zelândia, Noruega, Peru e Reino Unido.

O programa pretende atrair US$ 90 bilhões em investimentos do setor privado para cobrir uma “lacuna” de US$ 105 bilhões, segundo o ministro da pasta, Carlos Fávaro. Segundo a apresentação da proposta, restaurar 10% das terras degradadas e adequá-las para o cultivo poderia acarretar em 44 milhões de toneladas de produção anual de alimentos, o suficiente para atender às necessidades nutricionais de 154 milhões de pessoas.

Nosso país já tem programas nessa linha, como o Caminho Verde Brasil, de 2023, que tem como meta recuperar 40 milhões de hectares de pastagens degradadas ou áreas de baixa produtividade nos próximos dez anos.

É o número de espécies listadas no Banco de Referências Genômicas de Espécies Brasileiras (GenRefBR), uma plataforma pública e gratuita em construção que vai reunir dados genômicos de espécies da flora e da fauna nacional, anunciada hoje na COP. Acesse o site.

Para desenvolver o GenRefBR, os pesquisadores buscaram informações de espécies brasileiras já publicadas em bancos internacionais e as disponibilizaram de forma acessível, com informações como bioma de origem da espécie e o risco de extinção. Para as espécies sem genoma publicado, foram mapeadas pesquisas em andamento no Brasil.

“Até hoje, se um pesquisador brasileiro quisesse estudar o DNA de uma espécie nativa, precisaria recorrer a bancos dos EUA, do Japão ou da Europa — e nem sempre conseguia saber se aquele material genético era mesmo brasileiro”, afirma Gisele Nunes, pesquisadora de genômica ambiental do Instituto Tecnológico Vale (ITV).

A iniciativa foi criada pelo consórcio Genômica da Biodiversidade Brasileira (GBB), uma parceria público-privada entre o ITV e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

...do PIB brasileiro pode ser perdido até 2070 caso não haja intervenções imediatas sobre as mudanças climáticas na Amazônia. Isso vale também para os outros países amazônicos (Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela).

Os dados vêm do estudo “Medindo os custos de inação e as capacidades estatais na Bacia Amazônica”, divulgado hoje pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

A partir dos riscos identificados, o estudo analisou as perdas econômicas que a falta de ação causará aos países da bacia Amazônica nos próximos quatro anos, com o total estimado entre US$ 525 bilhões e US$ 915 bilhões anuais, o que representa entre 14% e 33% do PIB dos países da bacia.

Principais impactos identificados:

  • Redução de precipitações: Diminuição de 7,9% no oeste amazônico
  • Extensão da temporada seca: Prolongamento significativo dos períodos secos
  • Aumento de temperatura: Incrementos de até 3°C em áreas desflorestadas
  • Alterações hídricas: Redução de até 22% nos caudais de rios
  • Redução da evapotranspiração: Diminuição de 10% em áreas desflorestadas
  • Risco de incêndios: Duplicação do risco na Amazônia oriental

É o número de programas lançados ontem pelo Ministério de Portos e Aeroportos na COP: o Programa Nacional de Descarbonização de Portos (PND-Portos) e o Programa Nacional de Descarbonização da Navegação (PND-Navegação). A portaria foi assinada ontem durante a conferência.

O objetivo é reduzir progressivamente as emissões de gases de efeito estufa e acelerar a transição energética do setor. Para isso, serão realizados investimentos em combustíveis sustentáveis, aprimoramento da eficiência operacional, modernização da frota e fortalecimento da infraestrutura de abastecimento.

Ler artigo completo