COP30, dia 12: 17 pontos para entender o que aconteceu na sexta-feira

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A divulgação dos rascunhos dos possíveis textos finais da COP causou alvoroço dentro e fora do evento: nos debates e na imprensa, especialistas criticaram a retirada do tema do fim dos combustíveis fósseis. Esses insumos, que são os maiores responsáveis pelo aquecimento global, precisam ser gradualmente eliminados, conforme ficou acordado na COP28. No entanto, ainda não há diretrizes oficiais para isso e nem um cronograma. Se a ausência se confirmar, a COP30 terá falhado novamente em avançar essa pauta.

Devido ao incêndio que aconteceu na última quinta-feira (20), é possível que o evento seja prorrogado, afim de encerrar as discussões paralisadas após o incidente. Até o fechamento deste texto, porém, essa informação ainda não havia sido confirmada. Veja abaixo o que aconteceu de mais importante nesta sexta-feira, em 17 pontos.

Quando acaba a COP? O encerramento oficial seria hoje, mas, após o incêndio de quinta-feira ter atrasado os trabalhos, ninguém sabe ao certo. Em entrevista à TV Brasil, o embaixador e presidente da conferência, André Corrêa do Lago, admitiu que não sabia ainda como ficaria o encerramento. “As negociações seguem durante todo dia e vamos ver até onde vão. As COPs em geral costumam levar mais tempo do que o previsto e estávamos tentando adiantar, mas vamos ver”, disse.

Natalie Unterstell, presidente da ONG Instituto Talanoa, declarou em entrevista que acredita que as negociações irão avançar até sábado.

“Acho muito improvável que alguns grupos de países possam aceitar essa decisão do jeito que está. Apesar de hoje supostamente ser o último dia da COP, eu acho que essa galera vai pra plenária, vai forçar, porque eles não vão ter como voltar para casa e dizer que aceitaram isso aí. Tem dois cenários possíveis. Pode resultar num fracasso, mas ninguém quer o colapso das negociações aqui. O outro cenário é: eles dão um jeito. Dar um jeito, chamar de outra coisa, não precisa chamar de ‘road map’, mas tem que dar esse próximo passo concreto”, disse.

 Bruno Peres/Agência Brasil COP 30 Fogo na Zona Azul começou pouco depois das 14h. A organização da Conferência do Clima diz que as chamas foram controladas em seis minutos e que 13 pessoas foram atendidas por inalar fumaça — Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

O dia começou agitadíssimo na COP30 com a divulgação oficial de 15 textos preliminares (rascunhos) do chamado “Pacote de Belém”. Eles eram aguardados para quarta-feira, mas foram adiados para quinta por causa da visita do presidente Lula e, depois, novamente postergados por causa do incêndio.

O texto principal é a Decisão do Mutirão, acompanhado de 14 itens da agenda de negociação. Confira a lista completa abaixo. Para acessar cada documento, basta clicar em cada um dos links.

Os textos ainda não são finais. Mais plenárias acontecem ao longo do dia para definir mudanças nas redações.

A Decisão do Mutirão aborda os quatro pontos que ficaram fora da agenda oficial da COP e foram tratados nas consultas presidenciais. Veja como ficaram no novo texto:

  • Sobre o financiamento: No artigo 45, a Decisão do Mutirão reafirma que os países desenvolvidos precisam financiar a mitigação e a adaptação dos países mais pobres. No artigo 54, fica decidido que haverá um cronograma de dois anos para tratar do assunto. Pede também a triplicação dos valores de financiamento climático.
  • Sobre decisões unilaterais: O documento tem um tom conciliatório, elogiando os esforços multilaterais e reforçando seu papel na mitigação. Também diz que mesmo as decisões unilaterais “não devem constituir (...) uma restrição disfarçada ao comércio internacional”.
  • Sobre a revisão das NDCs: O documento agradece os 122 países que entregaram suas novas NDCs e solicita às nações que ainda não o fizeram que entreguem as suas o quanto antes. Também elogia outras medidas e estratégias anunciadas.
  • Sobre a transparência: O texto elogia as 119 nações que entregaram seus primeiros relatórios bienais de transparência. Também reconhece que a “implementação completa da diretriz de transparência aprimorada sob o Acordo de Paris está facilitando os esforços” dos países envolvidos.

O cronograma de dois anos para o financiamento é visto como uma vitória dos Like Mind­ed Developing Countries (LMDC), grupo que reúne os países produtores de petróleo (China, Índia, Arábia Saudita, Egito, Venezuela, Bolívia, Iraque, Cuba, etc.).

“Não há menção aos combustíveis fósseis em nenhum dos textos, o que torna qualquer resposta aqui insuficiente. Na parte sobre financiamento, ele cria o programa de 2 anos, que era o grande pleito dos árabes e LMDCs, mas como ele faz uma conexão com o artigo 9º como um todo, que era o pleito dos países desenvolvidos, a gente tem que esperar para ver a reação dos árabes LMDCs para saber se isso vai ser suficiente”, afirmou Stela Herschmann, especialista em política climática da ONG Observatório do Clima, à Agência Brasil.

 Larissa Schwedes/Getty Images Ativistas, incluindo muitos indígenas, estão protestando pela proteção de seus meios de subsistência na reta final da Conferência Mundial do Clima (COP30) — Foto: Larissa Schwedes/Getty Images

O rascunho sobre a Meta Global de Adaptação (GGA) propõe uma nova ferramenta para apuração e controle dos indicadores climáticos: os Indicadores de Adaptação de Belém.

No entanto, o documento deixa claro que esses Indicadores são: “voluntários, não prescritivos, não punitivos, facilitadores, de natureza global, respeitosos da soberania nacional e das circunstâncias nacionais e orientados por cada país”.

Além disso, o texto também diz que os Indicadores não devem criar encargos adicionais de reporte para os países, nem servir como base de comparação e nem servir para dar acesso a financiamentos. Qual o real peso dessa ferramenta, então?

O mapa para a eliminação dos combustíveis fósseis, defendido pelo presidente Lula durante a COP30, ficou de fora do texto do Mutirão, causando polêmica entre os participantes e também na imprensa. Ainda pela manhã, durante entrevista coletiva, a delegação da Colômbia, que estava liderando os trabalhos desse mapa, criticou o texto final.

Representantes de outros 37 países também estiveram presentes e endossaram a crítica à presidência da COP, que deixou de fora o tema, considerado central para a mitigação das emissões. "Isso não é Mutirão", disse a liderança do Panamá sobre o rascunho. "Panamá não legitima esse texto".

“O texto é vazio em tudo o que diz respeito à mitigação. Não há nada sobre os combustíveis fósseis. Por outro lado, há parágrafos enormes sobre financiamento. No entanto, a França nunca teve uma postura de ‘não pagamos’, mas sim de ‘pagamos por algo’”, disse Monique Barbut, ministra da Ecologia, Desenvolvimento Sustentável e Energia do país.

 Antonio Scorza/COP30 O Secretario Geral das Nações Unidas, Antonio Guterres participa de uma coletiva de imprensa sobre as negociações para finalizar o documento final da COP30 — Foto: Antonio Scorza/COP30

São os países que foram apontados pela ministra francesa Monique Barbut como responsáveis por “bloquear” as menções aos combustíveis fósseis: Rússia, Índia e Arábia Saudita. As três nações são grandes produtoras de petróleo. Além disso, reportagem da BBC ouviu de uma fonte que “a Arábia Saudita e outros países árabes estão barrando o acordo de combustíveis fósseis”. Segundo o jornal britânico The Guardian, o Irã, o Egito e a Bolívia também fazem parte do grupo opositor.

“Quem vai colocar sua economia em risco primeiro?”. A frase, dita na COP30, é atribuída a Susana Muhamad, ex-ministra do ambiente da Colômbia, e aparece em um artigo do jornal Financial Times sobre as dificuldades da COP em lidar com a questão dos combustíveis fósseis.

O texto argumenta que, para um país, iniciar uma transição do tipo é ficar vulnerável a diversos riscos, incluindo: queda nos preços das ações de empresas de energia, questionamentos do FMI sobre pagamentos de dívidas e preocupações das agências de classificação de risco sobre as avaliações de investimento. Sem uma diretriz global a respeito, não há por que se arriscar dessa forma.

Foi o horário em que começou a reunião mais importante do dia, tentando destravar o debate sobre o fim dos combustíveis fósseis. Para facilitar o andamento, a presidência da COP solicitou que cada grupo de países em afinidade fosse representado por apenas duas nações, facilitando a negociação.

Segundo o jornal O Globo, existem nove grupos na COP de países que se reúnem por algum interesse comum, como o grupo dos 77 e os LMDC.

 Bruno Peres/Agência Brasil Movimentação de manifestantes na COP30 — Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

A Arábia Saudita e a União Europeia receberam hoje o “prêmio” Fóssil Colossal, entregue pela Climate Action Network (rede global de ONGs) na COP. A láurea é irônica, entregue aos países que menos contribuíram para o avanço das pautas.

"Uma rara vitória dupla para a mais prestigiosa desonra da COP30: o Fóssil Colossal vai conjuntamente para a Arábia Saudita e a União Europeia – dois atores vastamente diferentes em termos de geografia, política e personalidade, mas que harmonizam perfeitamente esta semana numa arte comum: bloquear o progresso", diz o comunicado da rede. "Um esvaziou a lei, a ciência e as medidas de mitigação. O outro realizou uma dança lenta e processual digna de aplausos. Estilos diferentes. Mesmo impacto: paralisar a ambição".

Já a Colômbia ganhou o prêmio positivo “Raio da COP” por sua atuação na questão climática. "Homenageada pelo terceiro ano consecutivo por sua liderança pautada em princípios, consistente e em constante ascensão na agenda climática global. A Colômbia é uma das vozes mais claras a defender uma transição planejada para longe dos combustíveis fósseis – não como uma aspiração, mas como um plano", diz o comunicado.

Durante a entrevista coletiva da manhã, a atual ministra de ambiente da Colômbia, Irene Velez, anunciou que realizará um encontro paralelo aos eventos da Convenção do Clima da ONU para discutir um mapa do caminho para acabar com os combustíveis fósseis. Ela foi endossada pelos outros países que se reuniram para contestar o texto do Mutirão.

A reunião paralela já tem data marcada: será realizada em Santa Marta, no Caribe colombiano, em 28 e 29 de abril de 2026, e organizada em parceria com o governo dos Países Baixos. “Não vamos aceitar um texto que não esteja em conformidade com o objetivo de aquecimento máximo de 1,5°C. Acreditamos que a eliminação gradual dos combustíveis fósseis é absolutamente necessária para atingir esse objetivo”, disse Velez.

O Brasil não endossou a iniciativa, pois fazê-lo seria atestar o fracasso da COP30 nesse aspecto.

A delegação de Tuvalu, país insular do Pacífico que corre sério risco de desaparecer, quer que a segunda edição desse encontro proposto pela Colômbia ocorra em seu território. “Após 30 anos de negociações, esse processo está falhando. Não iremos esperar. Atuar é uma obrigação legal”, afirmou Maina Talia, ministro das Mudanças Climáticas de Tuvalu.

É o número de especialistas climáticos do Pavilhão de Ciências Planetárias que voltaram a se manifestar hoje após a divulgação dos textos preliminares. Eles criticaram duramente a decisão de excluir os combustíveis fósseis da discussão. Veja a nota completa:

“Apesar de um grande número de países se unirem em torno de roteiros para acabar com a dependência de combustíveis fósseis e com o desmatamento — e do impulso dado pelo presidente do Brasil — as palavras ‘combustíveis fósseis’ estão completamente ausentes do texto mais recente. Isso é uma traição à ciência e às pessoas, especialmente os mais vulneráveis, além de totalmente incoerente com os objetivos reafirmados de limitar o aquecimento a 1,5°C e com o quase esgotamento do orçamento de carbono. É impossível limitar o aquecimento a níveis que protejam as pessoas e a vida sem eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e acabar com o desmatamento. Nessas últimas horas, os negociadores devem trabalhar juntos para recolocar no texto os roteiros para um futuro mais seguro e próspero. A ciência está aqui para ajudar.”

Os especialistas abaixo assinam a carta:

  • Carlos Nobre – Painel Científico para a Amazônia
  • Fatima Denton – United Nations University
  • Johan Rockström – Potsdam Institute for Climate Impact Research
  • Marina Hirota – Instituto Serrapilheira
  • Paulo Artaxo – Universidade de São Paulo
  • Piers Forster – University of Leeds
  • Thelma Krug – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e presidente do Conselho Científico da COP30

Pessoas permanecem internadas após o incêndio na Zona Azul na quinta-feira. Segundo o Ministério da Saúde, 27 pessoas precisaram de atendimento médico. Os pacientes inalaram fumaça, mas ninguém se feriu ou se queimou. Também houve atendimentos relacionados a crises de ansiedade.

...empresas clandestinas foram fechadas pela Polícia Federal durante a COP30, informou hoje a organização. O motivo: profissionais de apoio desempenhando funções exclusivas de vigilantes, prática irregular conforme a legislação vigente. Ao todo, mais de 700 profissionais de segurança privada foram fiscalizados durante o período da COP30.

Artistas fizeram um protesto hoje alegando que não foram pagos pelo seu trabalho durante a COP30. Eles participaram do Espetáculo Cronoecológico, apresentado na FreeZone da COP.

Segundo manifestante, o cachê total era de R$ 5.000,00, com a primeira parcela, de R$ 2.500,00, programada para o dia 5 de novembro, mas nunca efetuada. “A gente veio sendo enrolado, tentando fazer a gente adiar até o final da COP, mas a gente está aqui”, disse uma manifestante. “Hoje pela manhã depositaram na nossa conta R$ 1.500,00 na tentativa de que a gente não viesse protestar”, afirmou.

É o número de projetos que serão contemplados pelo programa Restaura Amazônia para Terras Indígenas, conforme anunciado hoje na COP. Os R$ 123,6 milhões de recursos investidos virão do Fundo Amazônia. A divulgação ocorreu durante o encerramento do Pavilhão dos Círculos dos Povos, na Zona Verde.

Esse foi o terceiro edital do Restaura Amazônia. Ao todo, concorreram 44 projetos para restauração de áreas degradadas e fortalecimento da cadeia produtiva sustentável, dos quais foram selecionados os 19. Juntos, os projetos irão recuperar mais de 3,3 mil hectares em territórios indígenas, com 5,7 milhões de árvores plantadas e a geração de 1.420 empregos.

O programa Restaura Amazônia é parte de um esforço do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) para recuperar 12 milhões de hectares no Brasil. Segundo o governo, 6 milhões já foram recuperados a partir de iniciativas de replantio e restauração natural.

Entre as publicações feitas no Brasil sobre a COP30, 35% tiveram tom negativo. É o que indica a pesquisa feita pela Quaest e divulgada hoje revelou o tom sobre as menções à COP nas redes sociais entre os dias 10 e 21 de novembro. Segundo o levantamento, 20% das menções tiveram tom positivo e 45% neutro. Já entre as publicações feitas fora do país, 53% foram neutras, 24% foram positivas e 23% foram negativas.

Pontos negativos para os brasileiros:

  • Hipocrisia da COP30 frente ao uso de combustíveis fósseis
  • Questionamentos sobre gastos públicos e prioridades do governo para sediar o evento em Belém
  • Críticas à infraestrutura, salientadas pelo incêndio ocorrido na quinta-feira

Pontos positivos para os brasileiros:

  • Valorização da Amazônia e de Belém
  • Conquista de recursos
  • Acordos diplomáticos
  • Ações para o combate à crise climática

Pontos negativos segundo as menções internacionais:

  • A suposta hipocrisia da COP30 em relação ao uso de combustíveis fósseis
  • A baixa adesão de países ao evento e a ausência de Donald Trump
  • A presença de lobbistas do setor de combustíveis fósseis na conferência

Pontos positivos segundo as menções internacionais:

  • Ativismo indígena
  • Liderança de Gavin Newson (governador da Califórnia)
  • Acordos diplomáticos
  • Ações para o combate à crise climática
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