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Quem assistiu a série Lost sabe: acionando alguns cambalachos nas entranhas da ilha misteriosa, era possível fazer com que ela mudasse de lugar no globo terrestre. Como? A gente não tem nem como dar spoiler, porque a série nunca se preocupou em explicar direito. É como diria Gloria Perez em seu antológico tweet: “As pessoas veem novela pra criticar, achar problema e defeito, não por entretenimento! Uma pena, né? Pobre de quem nāo consegue voar!”.
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Felizmente, na vida real existe um caso parecido, esse, sim, com explicação. A ilha Ferdinandea (também chamada de Graham Island) é uma pequena porção de terra no Mar Mediterrâneo, localizada entre a Tunísia e a Sicília (Itália).
Em meados de 1831, após uma série de tremores sentidos na região, essa ilha “brotou” no mar, atraindo a atenção dos locais. Por estar situada num espaço estratégico para a navegação, a ilha chamou a atenção dos britânicos, dos franceses e do reino das Duas Sicílias (um dos reinos que depois seriam unificados no que se tornaria o Reino da Itália na segunda metade do século 19).
Navios e expedições científicas foram enviados ao local e logo constataram o motivo da aparição: a ilha de 1 km de perímetro e 60 metros de altitude havia sido formada pelo material ejetado de uma erupção vulcânica que durou seis semanas.
A notícia rapidamente se espalhou por todo o mundo: primeiro, sobre as violentas erupções avistadas pelos barcos, que lançavam pedras e peixes mortos pelo ar. E, segundo, sobre o fato principal: uma ilha nova no Mediterrâneo!
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O Malta Government Gazette, órgão de imprensa do governo britânico que controlava Malta, publicou, no dia 10 de agosto, a notícia de que o capitão Senhouse, da Real Marinha, a bordo do navio Hind, havia feito uma expedição à ilha na semana anterior e fincado a bandeira britânica no local, reclamando o território aos ingleses. Foi Senhouse que nomeou a ilha como “Graham”.
Esse fato tem veracidade altamente discutível — tanto porque, na data, o vulcão ainda estava ativo, como também pelo fato de o solo não ser firme o suficiente para permitir fincar bandeiras.
O naturalista e professor da Universidade de Catânia, Carlo Gemmellaro, dizendo que não havia bandeira nenhuma, sugeriu que a ilha fosse batizada em homenagem ao rei das Duas Sicílias, Ferdinando II. Em 17 de agosto de 1831, o rei das Duas Sicílias acompanhou o relator e deu à nova ilha o nome de Ferdinandea.
Depois, vieram os franceses conhecer a novidade e inventaram seu próprio nome: Julia, escolhido pelo geólogo Louis-Constant Prévost em referência ao mês em que ela teria surgido. Desse modo, em setembro, aquele amontoado de escória vulcânica já tinha três nomes: Graham, Ferdinandea e Julia.
Mas, tão rápido quando veio, ela desapareceu: o frágil material que compunha o solo da ilha foi sendo desgastado pela erosão marinha e, em dezembro, a ilha já não existia mais.
O ano de 1831 marcou o último avistamento de Ferdinandea, que, hoje em dia, é um banco de areia. Cientistas estimam que, no passado, ela pode ter aparecido outras quatro ou cinco vezes, sempre eventualmente desaparecendo novamente. É possível que o aparecimento seja influenciado pelo acúmulo de magma na região do vulcão submarino ou pelo movimento de placas tectônicas.
Também sabemos hoje que a ilha não é um vulcão em si. Cientistas acreditam que o vulcão submarino Empedocles não possui uma única erupção central, e sim uma série de pontos paralelos de erupção.
De fato, Ferdinandea está rodeada por cerca de dez cones vulcânicos semelhantes que se projetam entre 100 e 150 metros de altura a partir do solo marítimo e que, juntos, formam o chamado Campo Vulcânico de Graham.
Não se sabe se a ilha vai reaparecer de novo. A possibilidade existe, mas talvez demore séculos — e talvez nunca aconteça. Até lá, a gente decide qual vai ser o nome favorito.