Como usar o método Zettelkasten para organizar suas ideias e render mais

Então, Luhmann criou o Zettelkasten, termo que significa literalmente “caixa de notas” em alemão. No caso dele, tratava-se de um armário de gavetas onde ele armazenava notas escritas em fichas de papel.

Cada cartão continha uma única ideia, explicação ou referência, e os textos eram sempre bem curtos e autocontidos — de modo que, se você lesse um deles, conseguia entender o conceito sem precisar ler mais nada. Essa era a primeira grande característica do Zettelkasten.

A segunda é como as notas eram arquivadas. Cada uma delas tinha um número único, que permitia criar subdivisões e hierarquias. Por exemplo:

Isso permitia adicionar novas notas em qualquer lugar da rede sem quebrar a ordem ou precisar reorganizar tudo.

Por fim, a terceira grande característica era que as notas eram interconectadas, facilitando a criação de referências cruzadas. Digamos que a nota 32 falasse de comida, por exemplo. Tempos depois, ao formular a nota 513, ele voltava ao assunto da comida. Aí, colocava uma referência: “32”. Isso permitia que, quando ele resolvesse sentar para escrever um texto sobre comida, todas as suas notas a respeito estariam interligadas e seria fácil encontrá-las no armário. É como se fossem os links da internet de hoje.

E deu muito certo: Luhmann chegou a produzir mais de 90.000 notas ao longo da vida, que se transformaram em 50 livros e quase 600 artigos (e ainda sobraram muitos manuscritos nunca utilizados). Hoje, seu método virou referência.

Em primeiro lugar, você precisa de uma plataforma. Luhmann usava fichas de papel, mas, hoje em dia, há apps gratuitos que fazem bem esse serviço, como Zettlr, Obsidian e Logseq (todos em inglês). O Notion tem versão em português e também pode ser usado para essa finalidade, embora seja mais voltado a ser um espaço de trabalho para equipes. Recentemente, o Lattics também tem se destacado, mas, por enquanto, só está disponível em inglês.

Mas não é nem mesmo necessário um app dedicado: você pode só abrir um documento no Word ou no Google Docs, ir escrevendo as fichas uma debaixo da outra e depois usar a busca (CTRL + F) para achar um tema. Como as notas estão todas interligadas, basta achar uma para conseguir acessar todas as que se referem àquele assunto.

O Zettelkasten clássico propõe quatro tipos de notas: as passageiras, as permanentes, as literárias e as de referência.

Notas passageiras: são ideias e aprendizados do dia a dia, coisas que você anota para não esquecer depois. Elas não precisam estar completamente desenvolvidas ou prontas, o importante é apenas que estejam disponíveis. Assim, você pode consultá-las e refiná-las depois.

Notas permanentes: são ideias mais robustas, formuladas depois de certo tempo pensando a respeito do tema. Geralmente, elas são produzidas ao agregarmos conceitos de fontes diversas e tirarmos nossas próprias conclusões. Digamos que você leia uma biografia de Monet, assista a um filme sobre o artista e depois visite uma exposição dele: a partir dessas experiências, você pode produzir uma nota permanente com suas impressões sobre o pintor.

Notas literárias: são resumos de textos literários, sejam eles livros, artigos científicos ou manuais técnicos. A nota traz a sua interpretação e os seus insights a respeito do que você leu. É preciso sempre incluir o título do livro, o autor, o capítulo e o número da página para facilitar o acesso no futuro.

Notas de referência: servem como conectores dentro do Zettelkasten, em vez de necessariamente como ideias em si, e podem estar dentro de outras notas. A melhor comparação é com uma hashtag da internet atual, pois a função é a mesma. Por exemplo: se você escreveu cinco notas permanentes sobre pássaros e desenhou um par de asinhas em cada uma para identificar o tema, então esses desenhos são as notas de referências. Se, em vez disso, você usou em emoji 🐦 ou uma hashtag #pássaros, esses itens também contam como notas de referência.

Uma nota típica no Zettelkasten deve ter três partes:

O identificador único é a parte mais importante, porque é por ele que você vai navegar. Você pode colocar um número simples, como 0001, por exemplo, ou tentar algo mais sofisticado. Um exemplo clássico é um identificador de data, como 202510161625, onde temos, nesta ordem: o ano 2025, o mês 10 (outubro), o dia 16 e o horário (16h25).

Assim, quando, no futuro, você for criar uma nota que faça alusão a esta, você pode incluir esse identificador único nas notas de referência.

No conteúdo, você pode criar divisões à vontade. Por exemplo:

E por aí vai! Lembre-se, no entanto, que as notas devem ser simples e autocontidas. Então, no exemplo acima, talvez faça mais sentido dividir cada planeta em sua nota própria e colocar notas de referência para assuntos que se interligam. Veja como funciona melhor pra você!