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Historicamente, comportamentos ligados à agressividade, dominação e insensibilidade foram algo construído para reforçar a ideia de masculinidade. Apesar disso, em muitas culturas, os monarcas eram vistos e retratados como figuras maternais. É isso o que aponta uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (9), que foi disponibilizada recentemente no periódico Journal of Women’s History.
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"Bons governantes devem ser guerreiros fortes e honestos contra a injustiça. Mas também precisam ser protetores e atenciosos", diz o líder do estudo, o professor de história da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, Luis Corteguera, em comunicado. Ele escreveu a pesquisa em parceria com a professora de História do Johnson County Community College, Irene Olivares.
O estudo analisou evidências históricas e bíblicas para entender o comportamento de homens governantes na Europa Moderna. Através disso, também foi possível ter mais informações sobre como funcionava a dinâmica de autoridades femininas.
"Eu tinha visto um medievalista escrever sobre Cristo como mãe, o que é uma metáfora fácil de entender porque teologia e questões espirituais são meio maleáveis”, afirma Corteguera. “Mas então comecei a ver isso em outros lugares e fiquei me perguntando até que ponto monarcas homens poderiam ser considerados mães."
O estudo analisou como a autoridade dos reis foram impactadas devido suas imagens com representações maternais. Segundo o pesquisador, algumas representações, como a do rei francês Francisco I, com partes do corpo masculino e feminino, são metafóricas. "Mas, neste período, a linguagem dos símbolos e emblemas é muito poderosa, e as pessoas reagiram a imagens marcantes", explica.
De acordo com os autores do estudo, representações de um rei amamentando, por exemplo, contribuíram para promover a ideia de um líder mais acessível com o seu povo — representando um vínculo íntimo e cuidador entre mãe e filho.
Essa ideia, contudo, não se limitou à Europa: no Egito, os faraós eram representados pela imagem do Rio Nilo, que, por sua vez, era retratado como um homem com seios — para trazer a ideia metafórica de que o Nilo era responsável por alimentar o Egito.
A representação de governantes como figuras maternas também esteve presente em outros períodos da História. "Vemos isso na América pré-colombiana, nas culturas africanas, nas culturas asiáticas. Encontramos exemplos na Índia, no Japão e na China. Essa ideia de combinar instintos e virtudes maternas e paternas existe em muitas culturas ao longo de muitos séculos", ressalta Corteguera.
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O autor da pesquisa observou ainda que algumas petições feitas para alguns reis tinham um caráter intimista e sentimental. Em outro estudo, Irene Olivares observava mulheres escrevendo cartas ao rei da Espanha pedindo coisas. "Percebemos que havia uma linguagem consistente de apelo ao rei como alguém com sentimentos que não eram necessariamente masculinos", explicou Corteguera.
Conforme concluem os autores, o imaginário materno contribuiu para as discussões sobre as relações diferenciais de poder e autoridade. "Por exemplo, metáforas de reis amamentando ajudaram governantes e outros funcionários a articular as qualidades de bons governantes e as relações de poder entre governantes e súditos, ministros reais e a igreja", dizem.
Postura atual dos governantes
De acordo com o novo estudo estudo, para algumas personalidades da história como Mao e Stalin, o poder consiste em convencer as pessoas. Utilizar imagens para causar impressões é uma das formas de consagrar poder.
O comportamento se tornou padrão há milênios. No entanto, alguns governantes atuais não são adeptos ao método de liderança maternal. Segundo Corteguera, o presidente dos EUA, Donald Trump, poderia ter benefícios em sua reputação caso associasse sua imagem a algo mais "materno".
"À primeira vista, pode parecer impossível para Trump agir assim. Ele gosta de ser tão machão e másculo. Mas certamente não há como ele ter a plataforma que tem sem transmitir ser mais do que apenas uma pessoa assertiva e agressiva", disse o pesquisador. "Estou sempre interessado em tentar entender como damos sentido ao poder", acrescentou.