Como funciona o novo tratamento para câncer no sangue aprovado pela Anvisa

há 3 semanas 13
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O mieloma múltiplo é um câncer no sangue raro, que afeta 4 em cada 100 mil pessoas no mundo. No Brasil, contudo, ele é segundo câncer hematológico mais comum, com 7,6 mil novos casos identificados por ano. Na semana passada, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou no país um medicamento inédito para o tratamento da doença: o O Blenrep (belantamabe mafodotina), da biofarmacêutica GSK.

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Em conjunto aos fármacos bortezomibe e dexametasona (BVd), ou com a combinação de pomalidomida e dexametasona (BPd), o medicamento é indicado para pacientes adultos que tenham recebido pelo menos uma linha de tratamento anterior. O fármaco já foi aprovado anteriormente no Reino Unido, União Europeia, Japão, Canadá e Suíça.

“A aprovação de Blenrep reforça a relevância do Brasil na pesquisa clínica global e representa um passo importante em nossa ambição de transformar o cuidado em onco-hematologia", comenta Patrick Eckert, presidente da GSK Brasil, em comunicado.

Como funciona o medicamento

O novo tratamento para mieloma múltiplo é um ADC (anticorpo droga conjugado), o que significa que usa um anticorpo para levar uma droga potente diretamente às células do câncer. Ele é administrado por infusão intravenosa a cada três semanas ou a cada quatro semanas, a depender da combinação do tratamento.

O novo medicamento combina um anticorpo monoclonal, que é direcionado ao antígeno de maturação de células B (BCMA), com a mafodotina, que é uma carga tóxico para as células. Essa combinação, a primeira do tipo já aprovada para mieloma múltiplo, permite a ligação às células do câncer, liberando o remédio no interior da célula cancerosa.

A resposta do tratamento geralmente é rápida, devido a liberação veloz da carga citotóxica, e com os efeitos se aprofundando com o tempo. Essa tecnologia poderá aproximar cada vez mais os pacientes de uma cura funcional da doença, na qual eles possam viver mais de uma década sem tratamento.

A aprovação na Anvisa se baseia em dois estudos de fase 3: o DREAMM-7 e DREAMM-8, que contaram com a participação de 8 centros de pesquisa brasileiros. Ambos compararam os tratamentos padrão para mieloma múltiplo com o Blenrep combinado a outras duas drogas.

No DREAMM-7, o medicamento foi testado em combinação com bortezomibe e dexametasona (BVd) em pacientes com a doença em estágio "recaído" (que retorna após melhora) ou "refratário" (que não apresenta melhora).

Os resultados mostraram que o Blenrep quase triplicou a sobrevida livre de progressão da doença — 36,6 meses contra 13,4 meses —, e reduziu em 59% o risco de progressão ou morte, em comparação ao tratamento padrão com a combinação dos medicamentos daratumumabe + BVd.

Já o DREAMM-8 avaliou o Blenrep em combinação com pomalidomida e dexametasona (BPd) em pacientes que já haviam sido tratados anteriormente com lenalidomida. Nesse caso, houve uma redução de 51% no risco de progressão da doença ou morte, em relação ao regime padrão com pomalidomida, bortezomibe e dexametasona (PVd), além de uma tendência positiva na sobrevida global.

A hematologista Vania Hungria, que colaborou com os estudos clínicos, destaca que a qualidade da pesquisa clínica realizada no Brasil tem aprimorado muito, apesar dos desafios que o país enfrenta de representatividade. "Nós temos um paciente que era tratado no SUS, que daí ele foi para a clínica. Quando ele progrediu, ele foi um dos primeiros pacientes a participar no estudo DREAMM-7", ela conta, durante evento da biofarmacêutica GSK que aconteceu na terça-feira (28) em São Paulo (SP).

Efeitos adversos oculares

Em ambos os estudos, alguns dos pacientes enfrentaram eventos adversos que prejudicam os olhos, como ceratopatia (córnea afetada), alterações na acuidade visual e outros sintomas oculares, como visão turva e olho seco.

No DREAMM-7, esses efeitos colaterais atingiram 79% dos pacientes no grupo BVd e 29% no grupo DVd; no segundo estudo, isso foi observado em 89% do grupo BVd e 30% do DVd.

Hungria explica que a carga citotóxica do Blenrep pode causar essas alterações oculares, que são geradas por pequenos microcistos nos olhos. "É extremamente importante ter um exame oftalmológico a cada vez que o paciente for fazer a medicação, porque a depender do número de microcistos e a posição, você vai suspender a dose do paciente e aumentar o intervalo do uso da medicação", recomenda.

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