Como a gripe aviária está dizimando a maior população de elefantes-marinhos do mundo

há 1 semana 10
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Na ilha subantártica da Geórgia do Sul, a maior população de elefantes-marinhos-do-sul sofreu um declínio populacional sem precedentes. Pesquisadores do British Antarctic Survey (BAS) mostraram em novo estudo uma queda de 47% no número de fêmeas reprodutoras após a chegada do vírus HPAI H5N1 – uma gripe aviária altamente letal.

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Monitorando as três maiores colônias de elefantes-marinhos da Geórgia do Sul via drones aéreos, pesquisadores do estudo publicado em 13 de novembro na revista científica Communications Biology compararam a população total de fêmeas reprodutoras antes e depois do surto viral. Algumas colônias apresentaram quedas superiores a 60%.

“Em anos típicos, vemos variações de cerca de 3 a 7% entre um ano e outro, mas observar quase metade da população reprodutiva ausente é algo sem precedentes. Isso representa aproximadamente 53 mil fêmeas desaparecidas em toda a população da Geórgia do Sul”, disse Connor Bamford, um dos principais autores do estudo, em comunicado

Biodiversidade de Geórgia do Sul em risco

Os elefantes-marinhos-do-sul são a maior espécie de foca do planeta. Eles passam a maior parte do tempo sozinhos, com exceção da época do ano em que milhares deles se reúnem na costa da Patagônia para iniciar a temporada de reprodução. Até a aparição do vírus da gripe aviária na Geórgia do Sul, em setembro de 2023, essa e outras regiões do Oceano Antártico abrigaram populações estáveis por décadas.

 Copernicus Sentinel Data/ESA A ilha da Geórgia do Sul é um poço de biodiversidade: além dos elefantes-marinhos, ela abriga aves, peixes, pinguins e até baleias em suas passagens migratórias — Foto: Copernicus Sentinel Data/ESA

Inicialmente detectado em aves, essa nova forma do H5N1 passou a infectar uma ampla variedade de mamíferos, incluindo focas e leões-marinhos. O vírus tem especial efeito nas populações de elefantes-marinhos-do-sul: segundo reportagem do The New York Times, ele devastou um grupo na Península Valdés, na Argentina, matando mais de 17 mil filhotes de foca (quase 97% dos recém-nascidos do grupo).

 Connor Bamford/BAS Os dados não indicam necessariamente que todas as fêmeas tenham morrido ou que a gripe aviária tenha sido a única causa da queda, porém flutuações anormais nas populações indicam questões que vão além dos impactos diretos do vírus, como o número de filhotes de que deixou de nascer e ser desmamado — Foto: Connor Bamford/BAS

Por meio de veículos aéreos não tripulados (VANTs), Bamford e sua equipe realizaram levantamentos aéreos da fauna da ilha subantártica, gerando mapas detalhados das colônias e permitindo a contagem de indivíduos.

Como o trabalho já estava sendo feito desde 2022, foi possível comparar as imagens das praias antes e depois da chegada do vírus. A condição de isolamento da Geórgia do Sul não foi suficiente para impedir que áreas da ilha atingissem taxas de mortandade superiores a 70% causadas pelo H5N1.

Sendo predadores de topo de cadeia alimentar, o declínio desses mamíferos pode alterar todo o ecossistema em que vivem. “O que torna isso particularmente preocupante é que os elefantes-marinhos-do-sul são animais de vida longa", explica Bamford. "Mesmo quedas de curto prazo na reprodução ou aumentos na mortalidade entre as fêmeas reprodutoras terão impactos duradouros na estabilidade populacional. As consequências desse surto provavelmente serão sentidas por muitos anos”.

Por ora, as amostras de sangue das focas analisadas são, em grande parte, negativas para os anticorpos do H5N1, indicando que a maioria da população ainda não foi exposta ao vírus, segundo reportagem da BBC.

Todavia, isso não descarta preocupações, ainda mais considerando que muitas das espécies de focas encontradas na Antártica e nas regiões subantárticas são endêmicas e só podem ser encontradas nesses locais. "Isso é preocupante", afirma o ecologista Thierry Boulinier, do Centro de Ecologia Funcional e Evolutiva, na França. "Se houver outro surto este ano, também poderá ser devastador".

 Liam Quinn/Wikimedia Commons Os elefantes-marinhos são ótimos nadadores: são capazes de prender a respiração por cerca de 2 horas debaixo d’água e responsáveis por espalhar nutrientes com suas fezes em diferentes camadas do mar — Foto: Liam Quinn/Wikimedia Commons
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