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Uma descoberta arqueológica na remota ilha de Islay, na Escócia, está reescrevendo a história do poder medieval na região. Após quase três décadas de escavações, pesquisadores anunciaram a descoberta das ruínas de um castelo real "esquecido" no sítio de Finlaggan, que teria sido a sede de reis que governaram grandes porções do oeste escocês há mais de 700 anos.
A fortaleza, construída entre as pequenas ilhas de um lago deu origem ao poder dos famosos Lordes das Ilhas, da família MacDonald, que governaram as Hébridas, Argyll e partes das Terras Altas do noroeste como se fossem reis. Eles realizaram ataques na Escócia continental e os lugares que invadiram incluíram o Castelo de Urquhart, às margens do Lago Ness.
O local, que já foi centro de poder dos chamados Lordes das Ilhas, possuía uma torre retangular de pedra, comum em castelos ingleses como Carlisle e Lancaster. A estrutura contava com alojamentos, pátios, cozinhas, um grande salão para banquetes e até uma capela com cemitério.
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“Os reis anglo-franceses na Grã-Bretanha e na Irlanda eram conhecidos por construir torres retangulares, e a de Finlaggan provavelmente foi erguida como símbolo de poder e riqueza”, explica David Caldwell, líder da equipe arqueológica, que foi presidente da Sociedade de Antiquários da Escócia de 2014 a 2020, em entrevista à BBC.
Segundo ele, o castelo pode ter sido demolido por fragilidade estrutural ou ataques inimigos, dando lugar posteriormente a um palácio construído pelos senhores locais. As ruínas do castelo foram descobertas e datadas dos séculos 12 e 13, antes dos senhores chegarem ao poder.
Os achados são o resultado de quase 30 anos de pesquisa em Finlaggan, coordenada por Caldwell com apoio de especialistas e voluntários, e foi compilado em um novo livro publicado pela Sociedade de Antiquários da Escócia.
Poderio político e importância cultural
O livro assinado por Caldwell apresenta dados arqueológicos que confirmam que Finlaggan era o centro de poder do Senhorio das Ilhas, que tinha status de "estado-quase independente" e importância política e cultural nos séculos 14 e 15.
Além disso, revela a existência de um castelo até então desconhecido e sem nome em Finlaggan, datado dos séculos 12 e 13, o que demonstra que Finlaggan também foi um centro de importância no início do período medieval.
A obra também traça as possíveis origens de Finlaggan como um centro de poder e ritual ao longo de milênios: desde os tempos pré-históricos, passando por um potencial local de reunião na era viking, até um castelo real até então desconhecido pertencente aos reis das Ilhas dos séculos 12 e 13, os ancestrais da família MacDonald que atingiram o auge de seu poder nos séculos 14 e 15.
Evidências arqueológicas revelam que um castelo singular ocupava duas ilhas no Lago Finlaggan: uma grande torre de pedra em uma delas, que fornecia alojamentos e segurança extra para o rei ou lorde, e um ou mais pátios na outra, contendo cozinhas, uma capela com cemitério, casas, oficinas e um grande salão onde aconteciam os banquetes.
Estima-se que a torre tivesse aproximadamente 19 por 19 m no total (21 m quadrados incluindo um pedestal), tornando-a comparável em tamanho às fortalezas de pedra da Inglaterra, como as dos castelos de Carlisle, Bamburgh e Lancaster.
Como a construção de grandes torres retangulares de pedra era essencialmente limitada a grandes senhores e reis anglo-franceses na Grã-Bretanha e na Irlanda, o castelo pode ser interpretado como uma declaração política, bem como um sinal da riqueza e das conexões da classe dominante.
A hipótese atual argumenta que o castelo pode ter sido desmantelado por conta de sua estrutura frágil ou devido à ação inimiga antes que o palácio de Finlaggan começasse a tomar forma, no século 14.