Capitão de famoso naufrágio na Antártida sabia sobre defeitos no navio, diz estudo

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A lendária história do Endurance, o navio de Ernest Shackleton esmagado pelo gelo antártico em 1915, acaba de ganhar um novo capítulo. Um estudo feito por pesquisadores da da Universidade Aalto, na Finlândia, e publicado na revista científica Polar Record, revela que a embarcação não apenas apresentava graves deficiências estruturais, como o próprio explorador conhecia essas limitações antes de zarpar.

Contrariando a narrativa histórica que celebra o Endurance como "o navio polar mais forte de sua época", a análise técnica demonstra que ele era notavelmente menos robusto que outros navios antárticos contemporâneos.

"Até mesmo uma análise estrutural simples mostra que o navio não foi projetado para as condições de compressão do gelo que acabaram por afundá-lo", explica o professor Jukka Tuhkuri, um dos principais pesquisadores de gelo do mundo e participante da missão que encontrou os destroços em 2022, em comunicado.

Entre os pontos mais vulneráveis estavam vigas e armações mais fracas que as de outros navios polares, um compartimento de máquinas mais longo, que enfraquecia parte significativa do casco, e a ausência de vigas diagonais para reforço estrutural. Esses fatores contrariam a narrativa de que o único problema do Endurance seria seu leme, apontado até então como o “calcanhar de Aquiles” da embarcação.

 Polar Record A representação demostra o casco do Endurece e ao lado o Aurora, construido posteriormente com as modificações sugeridas por Ernest Shackleton — Foto: Polar Record

O aspecto mais intrigante do estudo, no entanto, é a revelação de que Shackleton sabia dos riscos. Em uma carta à esposa, lamentou as deficiências do navio e chegou a dizer que preferia seu navio anterior ao Endurance. Além disso, ao visitar um estaleiro norueguês, ele recomendou o uso de vigas diagonais para outro projeto de navio polar, embarcação que, posteriormente, conseguiu resistir meses presa ao gelo comprimido sem naufragar.

As razões pelas quais Shackleton optou por seguir viagem com o Endurance permanecem incertas. “Podemos especular sobre pressões financeiras ou restrições de tempo, mas talvez nunca saibamos ao certo por que ele fez essas escolhas”, diz Tuhkuri.

Para o pesquisador, o objetivo do trabalho não é diminuir as conquistas heroicas da tripulação, mas enriquecer a compreensão histórica sobre um dos episódios mais marcantes da exploração polar. “Agora temos evidências mais concretas que dão profundidade às histórias”, conclui.

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