Capacidade do planeta de armazenar carbono é mais limitada do que se pensava, diz estudo

há 2 semanas 9
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A capacidade da Terra de armazenar carbono não é ilimitada, e o espaço pode ser menor do que se pensava, segundo indica um estudo publicado na revista científica Nature. Apenas reduções significativas de emissão de CO2 no curto prazo podem impedir que esse limite seja ultrapassado antes do ano 2200.

Mesmo se a capacidade de sequestro de CO2 fosse utilizada completamente, a temperatura do planeta cairia apenas 0,7ºC. Enquanto isso, o relatório da ONU "Emissions Gap Report 2024" indica que, no atual curso das políticas para reduzir emissões de carbono, o planeta pode ter um aumento de temperatura de 3ºC. Nesse caso, a queda de 0,7ºC seria insuficiente para atingir a meta do Acordo de Paris de limitar o avanço da temperatura global a 1,5ºC ou 2ºC.

O novo artigo propõe que, das 11.800 gigatoneladas de capacidade em potencial da Terra, apenas 1.460 gigatoneladas são, de fato, viáveis. Para isso, os pesquisadores analisaram a capacidade de armazenamento em rochas sedimentares, em que se baseia a maioria dos projetos de sequestro de CO2.

Cálculos anteriores indicavam que o planeta teria uma disponibilidade entre 10.000 e 40.000 gigatoneladas de carbono. A limitação trazida pelo artigo recém-publicado parte de uma abordagem que os autores chamam de “cautelosa” por excluir rochas sedimentares em lugares de maior risco, o que inclui o retorno do CO2 à atmosfera.

Ficaram de fora bacias sedimentares em locais atingidos com frequência por terremotos. Isso pode induzir atividades sísmicas ou então tornar essas áreas mais propensas a vazamento de CO2. Rochas em áreas de proteção ambiental no Ártico e na Antártida também foram excluídas, bem como aquelas localizadas próximas a futuras áreas de alta densidade populacional para evitar riscos à saúde das pessoas em caso de vazamento.

Em relação ao oceano, os autores optaram por limitar a análise a profundidades de 300 metros “onde a grande maioria da atual infraestrutura offshore de petróleo e gás está predominantemente localizada, devido a considerações tanto econômicas quanto de risco”.

O coordenador do Grupo de Pesquisa em Interação Atmosfera-Biosfera da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Marcos Heil, concorda com as restrições colocadas pelos autores e diz que elas são “razoáveis”. Ele destaca, porém, que o estudo se limitou a avaliar a disponibilidade de armazenamento geológico e existem outras possibilidades – como o oceano – embora menos seguras em relação a vazamentos de carbono.

Sequestro de carbono vale a pena, mas é insuficiente

Para Heil, o trabalho rompe com a ideia de que haveria espaço suficiente para armazenar carbono e que isso seria “infinito”. Apesar de a pesquisa apontar para uma maior restrição do sequestro de carbono, o coordenador avalia que essas estratégias ainda valem a pena, já que todos os cenários propostos pelo Acordo de Paris que limitam o aumento da temperatura global a 2ºC envolvem algum tipo de armazenamento de carbono emitido por atividades humanas.

Ele lembra também que o número colocado pelo estudo pode ser reavaliado depois. “A gente só vai ter ideia realmente do tamanho dessa capacidade na hora que começar a encher“, explica. Mas completa: “só remover CO2 da atmosfera não é suficiente. A gente tem que reduzir emissões”.

Na visão de Heil, o estudo evidencia que não é possível resolver o problema das mudanças climáticas apostando apenas no sequestro de CO2, quando cortar emissões é mais eficiente e mais barato.

Países com capacidade de armazenamento

A pesquisa também indicou os países que detêm uma disponibilidade significativa para armazenar o carbono. Esse é o caso do Brasil, que conta com capacidade de 80 gigatoneladas de carbono, considerando os cálculos “prudentes”, e 443 gigatoneladas no total.

De acordo com Heil, o Brasil sofre barreiras como falta de disponibilidade de tecnologia e de mão de obra qualificada na área de armazenamento de carbono em rochas. Mas esse é um espaço que ainda pode ser explorado.

Outros países com uma disponibilidade também alta são Estados Unidos, Rússia, China e Austrália. Entre os que apresentaram maior queda de capacidade a partir dos critérios mais cautelosos, estão Índia, Noruega, Canadá e União Europeia.

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