Um experimento pioneiro feito por pesquisadores da Universidade RMIT, na Austrália, demonstrou pela primeira vez que microrganismos essenciais à saúde humana podem sobreviver às forças extremas de um lançamento espacial e retornar à Terra sem danos. Os resultados foram publicados nesta segunda-feira (6) na revista científica npj Microgravity.
A descoberta tem implicações diretas para futuras missões tripuladas a Marte. Isso porque agências espaciais planejam enviar humanos ao planeta vermelho nas próximas décadas, e garantir a sobrevivência das bactérias que sustentam a vida humana será fundamental para manter a saúde das tripulações.
O estudo testou esporos de Bacillus subtilis, uma bactéria que contribui para o fortalecimento do sistema imunológico, da saúde intestinal e da circulação sanguínea. As amostras foram enviadas a mais de 60 quilômetros de altitude em um foguete suborbital, enfrentando condições reais fora do ambiente de laboratório.
Durante o lançamento, o foguete atingiu aceleração máxima de cerca de 13 vezes a força da gravidade terrestre (13G) e, ao reentrar na atmosfera, sofreu desaceleração extrema, chegando a 30G enquanto girava 220 vezes por segundo. Mesmo após o retorno, os esporos mostraram-se intactos, sem alterações estruturais nem perda de capacidade de crescimento.
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“Nossa pesquisa mostrou que um tipo importante de bactéria para a saúde humana pode suportar mudanças rápidas de gravidade, aceleração e desaceleração”, afirmou a professora Elena Ivanova, coautora do estudo, em comunicado. “Esses resultados nos ajudam a projetar sistemas de suporte de vida mais eficientes para missões espaciais longas e também a desenvolver novas aplicações em biotecnologia.”
A professora associada Gail Iles, especialista em ciência espacial da RMIT, destacou que compreender como os microrganismos reagem às condições espaciais é essencial para o futuro da exploração humana. “Garantir que esses micróbios sobrevivam à aceleração, à microgravidade e à desaceleração significa poder oferecer mais suporte à saúde dos astronautas e criar sistemas sustentáveis de suporte de vida”, disse.
Além de suas implicações para viagens interplanetárias, o estudo pode inspirar avanços na Terra. A resistência observada nos esporos abre caminho para o uso de microrganismos em ambientes extremos e pode contribuir para o desenvolvimento de novos tratamentos antibacterianos e estratégias contra bactérias resistentes a antibióticos.