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Durante uma evacuação no dia 14 de setembro, arqueólogos em Gaza resgataram uma série de artefatos milenares de um bombardeio feito por militares israelenses. Num intervalo de apenas seis horas, os pesquisadores conseguiram salvar cerca de 70% da coleção. Os outros 30% foram destruídos no ataque aéreo.
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Quem liderou os esforços foi o arqueólogo Fadel al-Otol. Junto a outros arqueólogos, ele organizou uma força-tarefa para retirar itens históricos de um armazém no edifício al-Kawthar. Afinal, o local seria bombardeado em breve, segundo dizia ordem de evacuação emitida por Israel em 9 setembro.
“Nunca passou pela minha cabeça que sítios arqueológicos, museus e armazéns seriam destruídos um dia. (...) Esses objetos são o fruto do nosso trabalho em Gaza nos últimos 30 anos. (...) Meu coração está partido”, diz Otol em entrevista ao L’Orient Today e à BBC News.
Riqueza arqueológica de Gaza ameaçada
Gaza é um importante centro cultural e histórico por ser rica em sítios arqueológicos associados a diferentes povos da Antiguidade, como egípcios, cananeus, israelitas, persas, romanos e bizantinos. Alguns templos, mosteiros, palácios e mesquitas datam de 6 mil anos, sendo que muitos dos artefatos encontrados estão no foco de preservação da UNESCO.
A tomada de controle da região pelo Hamas em 2007 fez com que a preservação cultural desses sítios fosse deixada de lado. Os ataques israelenses e a devastação causada pelo atual conflito em Gaza iniciado em outubro de 2023 – já responsável pela morte de mais de 60 mil palestinos – agravou ainda mais a degradação desses locais.
Entre os artefatos resgatados do recente bombardeio israelense estão mosaicos, cerâmicas, moedas e outros objetos pertencentes à Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém (EBAF). Segundo o site The Times of Israel, alguns deles, inclusive, foram encontrados no Mosteiro de São Hilarion, um dos mosteiros cristãos mais antigos do Oriente Médio, listado como Patrimônio Mundial da UNESCO.
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Quando o aviso do ataque aéreo foi emitido, a Première Urgence Internationale (PUI) – organização humanitária e de proteção de patrimônio cultural atual em Gaza desde 2009 – trabalhou para mobilizar pessoas na missão de resgate dos artefatos antigos.
Enquanto Otol organizava arqueólogos e voluntários em um plano de evacuação dos artefatos do armazém às pressas, Kevin Charbel, coordenador do campo de emergência humanitária da (PUI) passou horas em negociação para um adiamento do bombardeio do al-Kawthar, que, segundo os militares israelenses, abrigava instalações de inteligência do Hamas e deveria ser demolido como parte da operação militar em Gaza.
Mesmo com uma extensão do prazo, os trabalhadores não tiveram tempo suficiente para fazer um planejamento adequado no transporte de artefatos tão sensíveis: em 11 de setembro, os objetos únicos e milenares foram apressadamente empacotados em caixas de papelão num intervalo de tempo de seis horas.
O The Times of Israel também informou que, pelo fato dos militares israelenses não permitirem o uso de caminhões com contêineres fechados, vários itens arqueológicos foram quebrados ou deixados para trás durante a evacuação urgente. O prédio com os artefatos restantes foi bombardeado três dias depois.
Em entrevista à Agence France-Presse (AFP), Olivier Poquillon, diretor da EBAF, diz que a mobilização foi feita “com quase nenhum ator internacional restantes no local, nenhuma infraestrutura, nada funcionando, tendo que improvisar transporte, mão de obra e logística”.
Segundo a agência francesa, os artefatos resgatados foram transferidos para um local não revelado na cidade de Gaza e que, pelo menos, muitos dos artefatos perdidos antes passaram pelo processo de serem cuidadosamente catalogados, fotografados e desenhados.
Devastação humanitária e cultural
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A UNESCO afirma que Israel já danificou, desde do início do conflito atual, ao menos 110 locais culturais pela extensão da Faixa de Gaza, incluindo monumentos, templos religiosos, edifícios históricos, museus e sítios arqueológicos. O resgate dos artefatos do edifício al-Kawthar é uma conquista diante de um cenário de devastação de sítios históricos.
“Aceitamos fazer isso porque esses objetos são extremamente valiosos, de grande importância para a história mundial e também para a história da Palestina. Destruir exemplos antigos da história cristã na Palestina seria apagá-los para sempre”, defende Charbel.
Para além da destruição de patrimônio histórico, existe a crise humanitária enfrentada pelo povo palestino. De acordo com a análise da Classificação Integrada de Segurança Alimentar, mais de 500 mil pessoas estão passando fome em Gaza, sendo que 12 mil crianças foram identificadas como gravemente desnutridas.