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Abutres são aves conhecidas por terem hábitos carniceiros. Porém, uma característica menos conhecida é que eles podem ser bem “apegados” com seus ninhos: algumas espécies retornam aos mesmos locais onde colocam seus ovos por anos, e até os reutilizam ao longo de gerações. A consequência disso é que muitos materiais, inclusive vestígios de artefatos humanos, acabam sendo preservados pelos abutres.
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Um estudo publicado em setembro na revista científica Ecology apresentou o trabalho de recuperação de 200 artefatos humanos em ninhos de abutres-barbudos no sul da Espanha. Entre os materiais encontrados, alguns chegam à 650 anos de idade.
Os abutres-barbudos (Gypaetus barbatus) são uma espécie ameaçada de extinção na região do Mediterrâneo. Mesmo que ela tenha começado a desaparecer da natureza a partir do século 19, muitos dos seus ninhos ainda são encontrados em cavernas protegidas de montanhas e penhascos – lugares ideais para a preservação de artefatos.
Partindo desse conhecimento, os cientistas fizeram uma investigação histórica sobre onde esses ninhos poderiam ser encontrados. Eles vasculharam em relatos naturalistas dos séculos 18 e 19 sobre a região de Andaluzia, assim como ouviram relatos de velhos moradores locais a respeito das histórias dos abutres-barbudos, segundo comunicado.
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Após encontrarem os antigos lares das aves, chegou a etapa de examinação cuidadosa de 12 ninhos compostos, principalmente, por materiais como ossos, cascos e fragmentos de cascas de ovos.
Ao todo, 2.117 ossos foram encontrados entre as camadas das estruturas, mas cerca de 9% dos vestígios eram de origem humana, provavelmente transportados até as cavernas pelos próprios animais durante a construção e a reforma de seus ninhos.
Os materiais encontrados incluem 72 pedaços de couro, 129 pedaços de tecido e 25 itens feitos de esparto (uma planta fibrosa). Esses materiais estavam preservados nas formas de artefatos como uma sandália, um estilingue, cordas e fragmentos de cestos. Destaques vão para uma flecha de balestra com haste de madeira e um fragmento de couro de carneiro de 650 anos.
Com técnicas de datação por radiocarbono, os pesquisadores estimaram que os objetos descobertos variam entre 150 e 675 anos de idade.
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Estudar os ninhos dos abutres-barbudos abre possibilidades em várias frentes. Primeiro, é uma forma de colaborar para esforços de conservação de uma espécie de abutre que, segundo o estudo, é a mais ameaçada da Europa, com apenas 309 casais reprodutores vivos. Cascas de ovos, por exemplo, revelam informações sobre as dietas dos animais ou se eles foram expostos a algum tipo de substância tóxica em certo período.
Outro campo de investigação em potencial beneficiado pelo estudo dos ninhos é a compreensão de como o ser humano interage com o ambiente. Encontrar objetos antigos e materiais de descarte – como restos de papel e plástico – nesses ambientes diz muito mais sobre hábitos humanos do que dos próprios animais construtores.