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O Prêmio Nobel de Literatura de 2025 foi concedido nesta quinta-feira (9) ao autor húngaro László Krasznahorkai, nascido em 1954 na pequena cidade de Gyula, sudeste da Hungria. Segundo comunicado emitido pelo próprio Comitê do Prêmio Nobel, a distinção reconhece “sua obra convincente e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte”.
Com uma prosa sinuosa e quase sem pausas, Krasznahorkai se firmou como um dos grandes herdeiros da tradição centro-europeia de autores como Franz Kafka e Thomas Bernhard, combinando absurdo, misticismo e crítica social. Sua escrita, porém, também se abre ao Oriente — sobretudo à China e ao Japão — em busca de um tom mais contemplativo e espiritual.
Para quem deseja conhecer o universo desse “mestre do apocalipse”, como é conhecido, selecionamos cinco obras essenciais que ilustram o alcance e a intensidade de sua ficção. Veja abaixo:
Obra de estreia e marco de sua carreira, Satantango retrata um grupo de camponeses isolados em uma fazenda coletiva decadente, às vésperas do colapso do regime comunista. A chegada de Irimiás, um messias embusteiro, acende falsas esperanças de redenção — apenas para mergulhar todos no desespero.
Com ecos de Kafka e Dostoiévski, o romance é uma parábola sobre a espera, a fé e o autoengano. Adaptado em 1994 pelo cineasta Béla Tarr em um filme de aproximadamente sete horas de duração, tornou-se um dos pilares da literatura húngara moderna.
2. Melancolia da Resistência (1989)
Se Satantango é uma parábola do fim do comunismo, Melancolia da Resistência é uma alegoria sobre o vazio que o sucede. Neste épico alucinatório, uma cidade dos Cárpatos é tomada por um circo fantasmagórico cuja principal atração é a carcaça de uma baleia. O espetáculo desencadeia uma espiral de caos e violência, em meio à impotência das autoridades.
O romance é uma reflexão sobre o colapso da ordem e a tentação do autoritarismo. Trata-se de uma alegoria política e metafísica que reafirma o talento de Krasznahorkai para capturar o apocalipse em câmera lenta.
3. Háború és háború (1999)
Depois de duas obras centradas na zona rural, Krasznahorkai desloca o olhar para o mundo globalizado. O livro acompanha um arquivista húngaro, Korin, encontra um manuscrito antigo que o obseda e o leva até Nova York, em busca de eternizar a peça na internet. Em sua missão, o real e o imaginário se entrelaçam, e o delírio torna-se revelação.
Com frases longas e espirais de pensamento, Háború és háború (“Guerra e Guerra”, na tradução livre para o português) é uma meditação sobre a fragilidade da civilização e o desejo de deixar uma marca no mundo. Os períodos sem pontos finais e o fluxo de consciência contínuo resultam em uma prosa que oscila entre o sagrado e o desespero.
4. Báró Wenckheim hazatér (2016)
Este romance retoma o cenário da província húngara — agora com uma ironia mais aguda. Após anos de exílio na Argentina, o barão Wenckheim volta à Hungria para reencontrar um amor do passado. Sua volta, porém, desencadeia um carnaval de desespero e grotesco, em que o riso e o horror se confundem.
Com humor ácido e lirismo febril, Krasznahorkai constrói aqui uma sátira sobre a decadência moral e política apoiada no populismo de sua terra natal. Considerado seu grande épico tardio, a obra lhe rendeu, em 2019, o National Book Award de melhor obra traduzida.
5. Herscht 07769: Florian Herscht Bach-regénye (2021)
Ambientado na Alemanha contemporânea, o livro investiga a violência e a anarquia social à sombra da música de Johann Sebastian Bach. O protagonista, Herscht, é um homem ingênuo, que descobre ter confiado justamente nas forças responsáveis pela destruição ao seu redor.
Em meio a incêndios e tragédias, Krasznahorkai conjuga a brutalidade do presente com a beleza transcendental da arte, em um gesto literário que sintetiza toda a sua visão de mundo. Curiosamente, o livro ainda chama a atenção por ser um romance monumental de mais de 400 páginas escrito em uma só frase.